Após ser acusada de racismo nas redes sociais e reeditar um vídeo que mostrava apenas suspeitos negros passando por abordagens da GM (Guarda Municipal), a Prefeitura de Campinas confirmou nesta quarta-feira (30) que vai promover um curso sobre discriminação racial para os servidores da secretaria de Comunicação. O assunto também motiva a formalização de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) junto ao MP (Ministério Público) (leia abaixo).
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A produção em questão foi divulgada no final do mês passado e repercutiu negativamente na internet diante das imagens de pessoas negras usadas para exaltar o trabalho de monitoramento eletrônico na cidade. O material publicado no Instagram da Prefeitura usava a expressão italiana “attenzione pickpocket”, termo que virou meme após ser utilizado por uma italiana que alerta turistas sobre a presença de “batedores de carteira” nas ruas de Veneza, na Itália.
O curso
De acordo com a assessoria de imprensa da Administração Municipal, a equipe da pasta “decidiu passar por curso presencial sobre discriminação racial, com 9 horas de duração, envolvendo todos os profissionais”. Ainda conforme o texto, “a proposta é que os cursos sejam contínuos a partir de agora” e as aulas da oficina vão tratar de cinco temáticas:
- identidade nacional
- preconceito
- discriminação
- racismo
- História da Cultura Africana e Afro-brasileira
“Quem ministra a formação é Jacqueline Damázio, coordenadora do Centro de Referência e Combate ao Racismo e Intolerância Religiosa da secretaria Municipal da Assistência Social, Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos”, completa a nota, que reforçou que a medida imediata adotada pela Prefeitura após a repercussão do vídeo “foi a reedição do material, com novas imagens” e que o objetivo era mostrar a importância das câmeras no combate aos crimes.
“A secretaria de Comunicação tem compromisso com a pauta antirracista. Durante o ano publica reportagens e faz campanhas sobre o tema. Desde 2021, foram 62 textos”, completou o município no comunicado divulgado à imprensa.
Reunião com o MP
Diante da repercussão do caso, o promotor do MP, Daniel Zulian, recomendou à prefeitura na ocasião a suspensão da campanha publicitária “visando à proteção do direito à igualdade racial”. Por conta disso, o assunto voltou a ser debatido entre as partes na tarde desta quarta, quando os detalhes de um Termo de Ajustamento de Conduta foram propostos e serão discutidos entre as partes.
Procurado pela reportagem do acidade on o Campinas, Zulian afirmou que a reunião foi “produtiva” e que o “TAC é viável e será construído a partir das propostas discutidas na reunião”. Portanto, ainda não foi firmado. “Foi criado um grupo de trabalho para, em um prazo de 30 dias, apresentar projetos no tema da promoção da igualdade racial, que serão parte da obrigação do município em relação à reparação do dano”, justificou o promotor na resposta.
Além disso, outras obrigações foram discutidas e serão incluídas no acordo.
A secretaria de Comunicação também se posicionou sobre o encontro. “O governo municipal considera que o acordo com o MP está em construção e que, independentemente de qualquer decisão, se comprometeu a tornar frequentes as ações de conscientização sobre a igualdade racial entre seus profissionais, a exemplo do curso de formação antirracista que já está sendo realizado pelos profissionais de comunicação”, ressaltou o comunicado enviado ao acidade on.
Relembre o caso
No dia 25 de julho, a Prefeitura de Campinas publicou um vídeo em alusão ao meme “attenzione pickpocket”, que viralizou no Brasil e no mundo. O conteúdo divulgado pelo município usava a palavra “attenzione” para celebrar a marca de 1,1 mil câmeras de segurança privada do programa Monitora Campinas, integrado à CIMCamp (Central Integrada de Monitoramento de Campinas).
Porém, como o vídeo só mostrava pessoas negras como suspeitas em abordagens realizadas pelos guardas municipais na cidade, os usuários e seguidores dos perfis reclamaram e protestaram.
“Prefeitura só coloca pessoas negras para ilustrar esse post ridículo! #Racismo Prefeitura Municipal de Campinas reforça estereótipos, alimenta preconceito e fere a dignidade dos negros com essa peça publicitária amadora e vergonhosa”, escreveu um deles.
Além de internautas, vereadoras de Campinas também reagiram à postagem. Guida Calixto (PT), por exemplo, fez uma representação na Promotoria pedindo esclarecimento. O assunto também fez ativistas de movimentos negros apresentarem denúncia no Centro de Referência em Direitos Humanos na Prevenção e Combate ao Racismo e Discriminação Religiosa da Prefeitura.
Um dia depois, o vídeo foi reeditado. Nas novas imagens, o número de pessoas negras foi reduzido e a imagem de um homem branco foi incluída no material.
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