A Emdec (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas) informou na tarde desta segunda-feira (18) que, após 68 dias de trabalho, finalizou o processo de sindicância sobre o possível favorecimento à cooperativa de transporte público coletivo municipal, a Altercamp. Em julho deste ano, o Ministério Público acusou agentes de receberem propina para fazerem vista grossa em fiscalizações.
Segundo a empresa responsável pelo trânsito de Campinas, a investigação concluiu que “não há nenhum indício de irregularidade” em relação ao contrato. Os trabalhos foram concluídos na última sexta-feira (15). Durante o período, 918 folhas de documentos foram analisadas e os dados e informações cruzados pelos integrantes da Comissão.
Os documentos foram colhidos em diferentes áreas da Emdec, sendo Fiscalização, Inspeção, Cadastro, Atendimento, Remuneração/Tarifas e Programação do Sistema de Transporte. Além disso, 21 pessoas foram consultadas sobre processos e procedimentos dentro dessas áreas.
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“Após a análise de todas as informações extraídas e obtidas, a Comissão observou que os dados operacionais apresentados pela Altercamp, em comparação com as demais cooperativas e empresas do sistema, não se sobressaem; observou, também, que qualquer possível ação de favorecimento a qualquer permissionário, seja com ou sem bônus financeiro, envolveria parte substancial de áreas e colaboradores da Emdec, como por exemplo, desde as aprovações documentais, monitoramento e fiscalização (garagem, terminais e itinerários) dos permissionários”, relata o documento.
A operação
No dia 07 de julho, ações fizeram parte da 3ª fase da Operação “Sumidouro”, que investiga uma organização criminosa ligada ao tráfico de drogas na região de Campinas. No dia 05 de julho, a 2ª fase da operação prendeu 15 pessoas e apreendeu dinheiro, carro, e milhões de pinos para cocaína em Campinas.
Na época, foram cumpridos três mandados de prisão temporária – que foram realizados em unidades prisionais, já que os envolvidos tinham sido presos, e nove mandados de busca e apreensão em endereços ligados a responsáveis e laranjas – um deles a cooperativa.
Também foram sequestrados bens, como imóveis e veículos ligados ao grupo criminoso. Entre eles, estão seis ônibus que operavam no transporte alternativo de Campinas.
A operação, segundo o Gaeco, foi resultado de investigações que começaram em abril do ano passado, quando foi preso o líder do grupo, o sobrinho de Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, que liderou uma das maiores quadrilhas de sequestros e tráfico de drogas da região.
Durante buscas na sede da empresa, duas armas sem registros foram encontradas no armário de um diretor da cooperativa e outra arma na casa de um investigado. Segundo o Gaeco, cinco pessoas também foram proibidas de explorar linhas do transporte alternativo na cidade.
Linhas do tráfico
O promotor do Gaeco, Felipe Bertolli, detalhou como era a utilização dos ônibus para a lavagem de dinheiro. Segundo ele, a mando de traficantes, as linhas eram mantidas em nomes de “laranjas” que não possuem condições financeiras para manter a operação. Ao menos três linhas seriam mantidas pelos criminosos, mas as informações sobre elas ainda não foram informadas.
“DENTRE O SISTEMA DE LAVAGEM DE DINHEIRO FOI APURADO QUE TRAFICANTES DE DROGAS E INTEGRANTES DE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS USAVAM O TRANSPORTE PÚBLICO ALTERNATIVO DE CAMPINAS PARA LAVAGEM DE DINHEIRO (…) FOI EVIDENCIADO QUE ESSA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA NO PRIMEIRO MOMENTO EXPLORA TRÊS LINHAS DE TRANSPORTE ALTERNATIVO DE CAMPINAS, SENDO QUE AS PROVAS DEMONSTRARAM QUE O DINHEIRO DE TRÁFICO DE DROGA SÃO LEVADOS PARA ESSA ATIVIDADE CRIMINOSA COM FOCO DE REALIZAR A LAVAGEM DOS VALORES E OS INTEGRANTES DESSA ORGANIZAÇÃO RECEBAM DE VOLTA ESSE DINHEIRO SEJA PARA ENRIQUECER ILICITAMENTE, OU SEJA PARA REALIMENTAR O SISTEMA DE TRÁFICO DE DROGAS, DE ARMAS ENTRE OUTRAS ATIVIDADES CRIMINOSAS”, AFIRMOU.
Sistema alternativo
O transporte público alternativo de Campinas é gerido por permissionários, que apresentam documentações com a Emdec, que de acordo com a área territorial relaciona a exploração do serviço de transporte com uma cooperativa que faz a gestão.
Neste caso, a investigação aponta o esquema envolvendo veículos da Altercamp, cooperativa que opera nove linhas, entre os ônibus verdes, vermelhos e azuis-claros, além do sistema “Corujão”, e tem cerca de 150 permissionários. Em entrevista à EPTV, a advogada da cooperativa negou a suspeita de envolvimento da empresa, e informou que as armas teriam sido esquecidas dentro de ônibus.
“A apresentação de documentos perante a Emdec se apresentou totalmente falha, pois não houve nenhum critério financeiro para analisar quem estavam habilitando para operar o transporte público de Campinas”, criticou o promotor.
Em nota, a Emdec informou que não tem contrato com a Altercamp e que “os Termos de Permissão são assinados diretamente com cada um dos permissionários que compõem a Cooperativa”. Do total que os permissionários têm a receber, a Emdec repassa 21% para a Cooperativa para cobrir gastos administrativos e operacionais.
Dinheiro público
Durante as operações, o promotor ressaltou a gravidade do caso, visto que traficantes usam o dinheiro público para lavar dinheiro do tráfico.
“A situação é extremamente grave porque além do emprego do dinheiro de tráfico de drogas no transporte público alternativo de Campinas foi demonstrado que os integrantes recebem até mesmo subsídios do município de Campinas para a exploração dessas linhas. Isso quer dizer que além de aplicarem dinheiro de crime nessa exploração eles recebem por isso dinheiro público. É extremamente grave e a sociedade vem sendo duplamente vitimizada. Sendo relacionado ao tráfico, seja pela entrega de dinheiro público para traficantes de drogas, que usam esse dinheiro para comprar armas, drogas e alimentar esse sistema”, afirmou.
Lavagem de dinheiro
O diretor da Altercamp, uma cooperativa do transporte coletivo de Campinas, está entre os 30 réus no processo aberto pela Justiça no início de setembro por envolvimento no esquema criminoso investigado pela “Operação Sumidouro”, que investiga o tráfico de drogas na região.
O processo do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) foi dividido em duas partes e alguns dos réus aparecem em ambas as acusações. Na primeira acusação, oito pessoas foram denunciadas pelo crime de lavagem de dinheiro. Dentre elas está Diego Nunes, diretor operacional da cooperativa Altercamp.
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