As causas da queda do avião em Vinhedo, no início da tarde desta sexta-feira (9), ainda serão investigadas e o relatório final pode demorar anos para ser concluído, a depender da integridade dos dados da caixa-preta e dos sistemas de voo. Por enquanto, especialistas analisam que um fator que pode ter levado à queda é a formação de gelo nas asas da aeronave.
O caso da aeronave da companhia aérea Voepass (antiga Passaredo) que caiu matando 62 pessoas, é o maior acidente aéreo do país desde 2007, quando a tragédia com um avião matou 199 pessoas.
O que pode ter causado a queda do avião em Vinhedo?
O especialista em aviação e perito criminal do estado de Goiás, lotado na Seção de Engenharia Forense, Celso Faria de Souza, explica que as aeronaves utilizam um sistema de degelo, que tira o gelo formado nas asas da aeronave e restabelece a plenitude do funcionamento de sistemas de voo, ou então um sistema chamado anti-ice, que impede a formação de gelo, mas é tipicamente usado apenas em aviões grandes e modernos. No caso da aeronave da Voepass, o sistema era de degelo, também conhecido como de-icing.
O avião que , que transportava 58 passageiros e quatro tripulantes, saiu da cidade de Cascavel, no Paraná, com destino ao aeroporto de Guarulhos. Segundo Celso, o que pode ter ocorrido com a aeronave é a formação de gelo nas asas e nos comandos de modo a afetar as características de voo, resultando numa perda de sustentação que leva a uma perda de altitude de forma não controlada.
A formação de gelo é comum em altitudes elevadas por conta da queda da temperatura que ocorre nas camadas mais elevadas da atmosfera. No topo da troposfera, onde viajam os aviões, a temperatura pode chegar a -60°C. Por isso, não é incomum que as aeronaves tenham sistemas para combater ou impedir a formação de gelo.
Como será a investigação sobre o acidente
Felipe Bonsenso, fundador da Associação de Empresas Revendedoras de Aeronaves e do escritório Bonsenso Advogados, destaca a ampla mobilização da indústria aeronáutica após acidentes como o que ocorreu em Vinhedo. “Quando acontece um acidente, isso movimenta toda a indústria da aviação, não só do Brasil, mas do mundo”, afirmou.
Segundo o especialista, os órgãos de investigação, como o Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), desempenham um papel crucial ao fornecer respostas à sociedade e prevenir futuras ocorrências, baseando-se nos relatórios detalhados que resultam dessas investigações. Acidentes como esse, diz, podem ser causados por coisas tão pequenas como um parafuso, que, durante o voo, causa problemas que levam à queda
A investigação do acidente em Vinhedo envolverá representantes da empresa de manutenção responsável, do fabricante da aeronave e da autoridade aeronáutica francesa, devido ao fato da aeronave ter sido fabricada na França. “A investigação de acidentes aeronáuticos, o relatório final, pode demorar anos, até cinco anos para sair”, comentou, enfatizando a importância de se entender as causas para evitar que situações similares se repitam.
Além disso, a regulamentação e a supervisão da manutenção da aeronave também serão avaliadas. Caso se comprove uma falha no sistema de navegação da aeronave, isso poderá levar a uma revisão das práticas de manutenção. “Será questionado se essa aeronave passou pelas manutenções de maneira correta, se ela estava em dia com a sua aeronavegabilidade”, disse Bonsenso.
Uma investigação como essa pode gerar mudanças significativas na forma como as aeronaves são realizadas e verificadas, ou mesmo levar à restrição de uso de um modelo de aeronave específico, como aconteceu com a Boeing. Acidentes com o modelo 737 Max causaram a morte de mais de 300 pessoas, fazendo com que a empresa deixasse no chão toda a frota que tinha desse modelo.
*Com informações da Agência Estado
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