Planejado para servir de caminho para os trabalhadores que moravam na Vila Industrial, em Campinas, há mais de 100 anos, o túnel de pedestres sob o complexo ferroviário que integra a Estação Cultura também é conhecido por estar cercado de mistérios e lugares que sediaram eventos importantes.
Tombada pelo Condepacc (Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas), a passagem tem 200 metros de extensão e foi inaugurada em 1918. A sequência de acontecimentos do entorno, no entanto, começa antes. Isso porque a ligação fica próxima a um cemitério desativado e do local de um massacre.
Cemitério e massacre
Atualmente, não há uma data exata e oficial sobre a construção do cemitério onde hoje está o bairro Vila Industrial, mas há registros que comprovam que o espaço funcionou com essa finalidade durante a epidemia de febre amarela, em 1889, quando milhares de moradores morreram infectados pela doença. Por conta disso, muitas vítimas sem identificação teriam sido enterradas na área.
Desativado depois que o Cemitério da Saudade – então Cemitério do Fundão – começou a ser usado amplamente anos depois, o espaço contava com valas comuns e não teve todas as ossadas retiradas. Mesmo assim, deixou de existir e deu lugar a moradias onde estão localizados a Avenida João Jorge, o Teatro Castro Mendes e a E.E. (Escola Estadual) Professor Antônio Vilela Junior.
A região, no entanto, não esteve diretamente ligada somente a eventos do final do século XIX. Anos depois, em 1917, pouco antes do surgimento do túnel, o ponto onde hoje é o cruzamento da Avenida João Jorge com a Rua Visconde do Rio Branco foi cenário de um massacre que chocou a cidade e que teve como pano de fundo a Greve Geral que afetou a indústria e o comércio brasileiros.
Naquele ano, mais especificamente no dia 16 de julho, três operários campineiros foram mortos pela polícia no local conhecido como Porteira do Capivara. O grupo de operários estava na região para tentar impedir que um trem levasse Angelo Soave, líder do movimento em Campinas. Outra composição vinda de São Paulo, porém, trazia soldados, que balearam os três.
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Lendas e assombrações
Cercado de lugares que sediaram fatos relevantes para Campinas, o túnel da Vila Industrial tem ele próprio importância como patrimônio. Justamente pelas características arquitetônicas, inclusive, a passagem subterrânea chama a atenção de quem visita ou usa a ligação. Mas há também diversas lendas que se aproveitam desses capítulos envolvendo mortes, epidemia e assassinatos.
O roteirista e guia do projeto “O que te assombra?”, que visita lugares icônicos e conhecidos por supostas assombrações em Campinas, Thiago de Souza, conta que o próprio massacre de 1917, por exemplo, serve como explicação para os relatos sobre a presença de espíritos no túnel. Outras aparições, no entanto, também são detalhadas por ele durante os passeios feitos pela passagem.
“Esse cenário meio tétrico começa a ser desenhado com o cemitério e o massacre. Tem uma história de um velhinho que supostamente teria morrido em uma inundação no túnel e que portava um guarda-chuva. Ele é conhecido como ‘velho do guarda-chuva’. E ele aparece com a ‘velha da bengala’. Os dois surgem de lados opostos e se encontram no meio do túnel”, relata Thiago.
Na opinião dele, no entanto, essas não são os relatos mais impactantes do túnel. “A história mais impactante é do ‘fantasma do holofote’, que nos anos 90 aparecia de um lado quando as pessoas vinham pelo outro. Ele vinha em cima das pessoas e no lugar do rosto tinha um holofote que chegava a cegar e imobilizar os pedestres. A aparição foi até reportada pela imprensa”, completa.
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