Neste sábado (16), a morte do maestro Carlos Gomes completa 127 anos. Em vida, o mais ilustre dos campineiros viveu uma relação de amor e ódio com sua cidade natal. E, segundo algumas lendas populares, esse difícil relacionamento seguiu até mesmo depois da morte do maestro.
O jovem mestiço, de origem simples, que perdeu a mãe em um crime até hoje sem elucidação, deixou Campinas para ter seu talento reconhecido nacional e internacionalmente, mas encontrava resistência de uma aristocracia escravagista que vivia na cidade, na época.
Há inclusive uma frase atribuída a ele em sua partida para Santos, que define muito bem o clima do início de sua jornada para o mundo: “Só voltarei coroado de glória ou só voltarão meus ossos!”.
“E não é que as duas hipóteses previstas pelo maestro se consagraram? Morto em Belém (PA), Carlos Gomes só voltou a Campinas já morto, a pedido de autoridades paulistas, mas essa não era a vontade do maestro, o que seria a razão de suas aparições fantasmagóricas”, afirmou Thiago de Souza que é roteirista e idealizador do projeto “O que te assombra?” que promove passeios em marcos de Campinas onde contas as histórias desses lugares.
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O mais ilustre fantasma campineiro
Além de Carlos Gomes ser um dos maiores brasileiros da história, segundo o roteirista, ele é o mais ‘ilustre fantasma campineiro’.
“Para entender tudo isso, precisamos contar a história do maestro. De Santos, ele partiu para o Rio de Janeiro, onde conheceu Dom Pedro II, que era apaixonado por música. Ao se deparar com o talento de Carlos Gomes, o Imperador financiou os estudos do maestro no conservatório de Milão”, contou.
Foi na Itália que o campineiro se consagrou, compondo boa parte de seu acervo de grandes obras, dentre elas, uma que nos acompanha todas as noites quando começa a hora do Brasil nas rádios: “Il Guarani”, que foi a primeira música tocada em uma transmissão nacional de rádio, no dia 07 de setembro de 1922.
“Depois de consagrado, o Maestro voltou ao Brasil, mas os ventos da República já sopravam por aqui. Carlos Gomes foi convidado para compor o hino da República, mas negou o convite, o que soou como uma ofensa aos republicanos”, disse.
Ele retornou à Itália e, depois de algum tempo, voltou para o Brasil, mas dessa vez para Belém do Pará e, por lá, morreu. Estava tudo bem até as autoridades paulistas determinarem o traslado do corpo do maestro para Campinas.
“Chegando aqui, não havia um local a altura para sepultar Carlos Gomes e ele acabou se tornado hóspede no mausoléu mais suntuoso da cidade, na alameda central do Cemitério do Fundão, hoje conhecido como Cemitério da Saudade de Campinas. E é aí que nossa história começa… Dizem, os mais ‘sensitivos’, que o espírito de Carlos Gomes não se dava bem com a alma do anfitrião do mausoléu que o acolheu e, durante várias madrugadas, o fantasma do maestro foi visto saindo do cemitério e seguindo até o centro da cidade, esbravejando”, contou.
Segundo a lenda, suas aparições só diminuíram quando construíram o monumento-túmulo em sua homenagem, onde ele descansa – ou tenta descansar – em meio à agitação do Centro de Campinas.
Aparições ao piano
“E não foi só por sua terra natal que o espírito de Carlos Gomes teria se manifestado. Na madrugada do dia 22 de janeiro de 1922, o piano do maestro, que havia sido transportado do Teatro da Paz (o Teatro Municipal de Belém) para a Associação de Imprensa de Belém, começou a tocar sozinho, deixando atônitas testemunhas do insólito acontecimento”.
“Por aqui, Carlos Gomes também toca seu piano nas madrugadas, desde que ele foi transferido ao CCLA (Centro de Ciências Letras e Artes) de Campinas, em 1927, pelo Governo do Pará. O maestro também é ouvido tocando seu piano nas noites mais silenciosas no Teatro Municipal de São Paulo, que tem uma linda escultura em sua homenagem, ao lado de sua entrada principal, e de fronte à praça Ramos de Azevedo, no Centro da Capital Paulista”, afirmou.
Também é visto no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde sua presença também é percebida do lado de fora, em uma imponente estátua. Além de ainda aparecer em Belém do Pará, no Teatro da Paz, que guarda em seu interior um exuberante busto, que traduz em qualquer horário sua onipresença. “Mas é importante dizer que essas aparições fora de Campinas só ocorrem quando ele entra em turnê nacional”.
Thiago de Souza é compositor, roteirista e humorista, fundador do grupo “Os Marcheiros” e idealizador do projeto “O que te Assombra?”. Ele também é o criador do programa de políticas públicas para preservação de patrimônio material e imaterial chamado “saudade e suas vozes” já implementado nas Cidades de Campinas e Piracicaba.
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