Nos cinco primeiros meses deste ano, o número de casos de covid-19 e de mortes relacionadas à doença dispararam no Brasil. O reflexo disso é visto nos hospitais: Centros de Terapias Intensivas lotados; pacientes em estado crítico, aguardando em postos de saúde uma vaga para internação.
Na maioria das cidades da região, a capacidade hospital é limitada ; Franca e Batatais entraram recentemente, em colapso.
Em entrevista exclusiva para a reportagem do A Cidade ON, a médica intensivista, Maria Auxiliadora Martins, chefe da UTI covid no Hospital das Clínicas de Ribeirão, o maior centro de tratamento da região, conta em detalhes como tem sido a rotina sua e dos demais colegas.
Ela explica que no Brasil existe uma Portaria do Ministério da Saúde, estabelecida antes mesmo da pandemia, que regulamenta o número de profissionais por Unidade de Terapia Intensiva. A determinação é de um médico para cada dez pacientes ; uma enfermeira para cinco pacientes e um técnico para dois ou três pacientes.
Acontece que em um cenário de “guerra” contra a pandemia, as equipes muitas vezes precisam fazer adequações nos hospitais para continuar atendendo os pacientes, principalmente àqueles em estado grave.
“O paciente com covid é de uma gravidade fora dos parâmetros vistos até hoje por nós intensivistas”. É humanamente impossível dividir os profissionais em mais leitos. A gente já está sobrecarregado. O que a gente tem feito atualmente é adequar com profissionais que não são especialistas. A grande parte dos nossos leitos no CTI, talvez até mais da metade, é cuidado por profissionais não especialistas, disse Maria.
Esgotamento
O Hospital das Clínicas atingiu 100% da capacidade nos leitos de UTIs nesta semana. De acordo com o portal Leitos Covid, dos 78 leitos disponíveis, todos estão ocupados. Os números são desta sexta-feira (14). São 60 vagas no campus e 18 no centro.
Na unidade de emergência, existem 8 leitos na chamada sala vermelha, uma ala de emergência onde é feito o atendimento primário de covid. Em caso de esgotamento, a médica intensivista explica que as equipes colocam uma maca a mais, para não deixar paciente desassistidos. Segundo ela, oito leitos, viram nove e até dez.
“No inicio da pandemia ficamos preocupados em que ter que usar um respirador para dois pacientes. Graças a Deus não chegamos a esse ponto. É claro que não é o ideal, porque aumenta o risco de infecção, sobretudo bacteriana. Porém em cenário de guerra, onde não tenho máquina é possível sim fazer essa adaptação para dois pacientes. É uma situação de última escolha”, explica.
No hospital das clínicas, são 16 intensivistas ; e 8 residentes de UTI; o restante são médicos não especialistas. Segundo Maria Auxiliadora, a literatura médica descreve que quando não há profissionais especialistas – no caso intensivistas – os resultados são desfavoráveis. Contudo, se este for o único recurso, é preciso contar com a ajuda de médicos de outras áreas para garantir atendimentos aos doentes.
“Não adianta mais leitos se não tem profissionais qualificados, se tenho equipes sem férias há mais de 1 ano, esgotados. A população tem que se preocupar com a prevenção, usar máscara e álcool gel ; não existe nada, além da vacina. Então, por favor, não relaxem. Só a vacinação em massa pode controlar a pandemia, finaliza.