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Conjuguemos o verbo agradecer

Se você é espiritualista, certamente agradece à entidade divina de sua devoção. Pode ser Deus, Alá, Buda, seus orixás ou, talvez, apenas à harmonia da qualidade de vida que a Natureza nos dá. A escolha é sua. Agora, que temos de agradecer, ah, temos!

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Escritor e professor, Luiz Puntel (Imagem: Divulgação) 
Escritor e professor, Luiz Puntel (Imagem: Divulgação) 

 

Sabe um verbo que gosto muito de conjugar? É o verbo AGRADECER. Sempre me surpreendo conjugando este verbo a respeito das coisas que acontecem comigo. Se você também tem este hábito, leitor ou leitora, parabéns! Mas, agradecer a quem, Puntel, vocês me perguntariam. Se você é espiritualista, certamente agradece à entidade divina de sua devoção. Pode ser Deus, Alá, Buda, seus orixás ou, talvez, apenas à harmonia da qualidade de vida que a Natureza nos dá. A escolha é sua. Agora, que temos de agradecer, ah, temos! 

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Vamos para um exemplo prático? Eu sempre achei, e até já comentei aqui na coluna, em artigos anteriores, que tenho cá uma vozinha de taquara rachada, estão lembrados? Até me lembrei agora daquela propaganda de xampu dos anos 90, em que  a atriz fala isso mesmo: “ei… ei… vocês se lembram da minha voz? 
 

Eu não era muito fã da minha voz, não! Sempre a defini como voz muito gasguita, mais fina que papel sulfite. Era um ingrato, vão vendo! Agora, há dez dias, senti uma saudade danada de minha vozinha de taquara rachada. O que houve? Contraí covid e um dos sintomas foi um certo cansaço e… tchararããã… a perda da voz. 

 

 

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Você leu perda da voz, não leu? E não foi maneira de se expressar não. Acordei uma bela manhã ensolarada e… cadê a voz? Fui dar o bom dia para minha esposa, guardando distâncias recomendadas pelos protocolos de saúde e… nada! Pensei comigo: acho que dormi de boca aberta, o ar condicionado ligado e…. pigarreei, tentei de novo, depois de uma, duas, três tentativas, e … nada! 
 

Aí bateu o desespero. Gente, eu vivo da minha voz. Posso preparar aulas, como sempre fiz, por anos e anos, seja para os alunos do Ensino Médio, seja também para os cursos de oratória que ministro. No entanto, tenho que falar, concorda? Mas, cadê a minha vozinha querida, de taquara rachada? Nesta altura da afonia total, eu já estava desesperadamente saudoso da minha desprezada vozinha de taquara rachada, volta, querida, volta, cadê você, sua linda? 
 

Minha mulher olhava para mim, eu olhava para ela, tentava emitir algum som, um uga uga, que seja, mas… nada! Lembrei que os disfêmicos, assim se chamam os que gaguejam, conseguem cantar. Lembrei do Nelson Gonçalves, com sua poderosa voz, ele que era gago e tentei. Abri a boca, minha mulher achando que eu fazia graça, tentei um dó ré mi explícito, mas nem fá e nem fu sumido, quanto mais sustenido! O que saiu foi um ruído estranho, que poderia ser entendido como qualquer coisa, menos com um “bom dia, amor!”
 

Instalada a afonia, a voz em greve, alguém sugeriu gargarejo com água bem quente e sal. Já estava sem voz, quase perco a língua e o céu da boca porque errei na dose da “temperatura agual”. Aí me indicaram xarope de não sei o quê. Tomei! Chá de eucalipto com gotas de não sei mais o quê, você tentou? Tentei! Chá de gengibre com limão ralado de madrugada? Ahãn! Amarrou uma fralda com álcool na goela? Amarrei! 
 

Se me dissessem que lá em Cabrobó tem uma rezadeira que tira mal olhado, quebrante, unha encravada e faz a voz de afônicos e disfêmicos retornar mais límpida que voz de monge de canto gregoriano, lá estava eu indo para Cabrobó. 
Nada dessas simpatias resolveu e, para resumir meu drama vocal, já estava me conformando em me matricular num curso de Libras e já tinha dado um google para providenciar minha nova fase da minha velhescência.
 

Mas, do nada, assim como ela se foi, a minha amada e saudosa vozinha de taquara rachada começou a mandar avisos de regresso à garganta minha. Primeiro, só uns vagos vagidos, como se eu fosse um bebê choramingão. Depois, comecei a semitonar, desafinando mais que violão de corda nova. Mas, resumindo a minha saga, não é que ela voltou? 
 

Quando ela firmou e voltou igualzinho ao que era antes, bendita vozinha de taquara rachada que eu tenho! Ó glória! Ó aulinhas do Canto Orfeônico da professora Dilu, no meu tempo de Otoniel Mota. E me botei de joelhos agradecendo eu ter a vozinha que tenho. 
 

Foi aí que reafirmei o costume de agradecer. Agora, qualquer coisinha, tô que agradeço a idade que tenho, a saúde que tenho, e também os perrengues de dorzinha aqui e ali que sei, começarão a brotar mais que tiririca de jardim. 
 

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