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CotidianocolunistasÉ preciso amar as pessoas como se não houvesse eleição

É preciso amar as pessoas como se não houvesse eleição

Temos presenciado uma série de rompimentos, agressões e brigas violentas quando o assunto é a disputa eleitoral

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 Fabiana Guerrelhas, terapeuta analítico-comportamental (Foto: Arquivo Pessoal)
 Fabiana Guerrelhas, terapeuta analítico-comportamental (Foto: Arquivo Pessoal)

 
Um dia desses, publiquei em meu Instagram e Facebook o seguinte texto:
“No meu caminho de casa pro consultório, às vezes tem um saxofonista se
apresentando num semáforo. Sempre que posso, contribuo com algum dinheiro. Hoje ele
estava lá e tive a ideia de chamá-lo para tocar em um evento. Em minha cabeça, seria bom
pra ele e bom pra mim. Parei meu carro, fui conversar com o moço, fiz a proposta e para
minha surpresa, ele recusou. Disse que é adventista e por isso não trabalha aos sábados.
Entrei no carro e segui meu caminho, pensando… Não entendo essa concepção de Deus,
que pune um cidadão e veta sua entrada no reino dos céus, só porque trabalha aos sábados.
Com o mundo do jeito que está, difícil de colocar comida na mesa, será que faz mesmo
tanta diferença se é sábado ou quarta-feira? Se o cara está se apresentando num farol,
provavelmente não está assim tão bem de vida. Ele, inclusive, me passou seu pix, caso eu
quisesse fazer uma contribuição mais substanciosa. Fiquei com pena dele. No meu
entender, sua religião impediu, nesse caso, que seu nobre talento fosse valorizado e se
transformasse em renda. Sei lá… o que vocês acham?”

O post rendeu uma porção de comentários e iniciou uma conversa bastante
construtiva entre meus amigos das redes e eu. Notem: terminei a postagem com uma
interrogação, indicando que eu estava abrindo uma questão. Alguns concordaram comigo,
ao dizerem que nenhuma religião deveria restringir seus fiéis a nada, outros me deram
justificativas bastante convincentes sobre os possíveis motivos das restrições impostas
por determinadas doutrinas. Um ponto muito interessante foi colocado por uma amiga,
professora de Ciências Sociais, sobre aquilo que cada pessoa atribui como valor
primordial. Em minha análise inicial, questionei o fato de o homem colocar Deus acima
do trabalho remunerado. E sua atitude não está errada! É somente uma prioridade
diferente da minha. E tudo bem.

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Ultimamente, conversas divergentes sobre política e ideologia não têm tido o
mesmo desfecho. Temos presenciado uma série de rompimentos, agressões e brigas
violentas quando o assunto é a disputa eleitoral.

 

O clima geral é de ódio e medo. Desentendimentos entre familiares e amigos têm
sido tema frequente em meus atendimentos. Pessoas gravemente ofendidas por
manifestarem seu posicionamento político estão sofrendo com o ataque de entes queridos.
Tenho ouvido histórias sobre amizades de anos terminando, além de parentes deixando
de frequentar reuniões que antes eram agradáveis e prazerosas. Há decepções e
intolerâncias de todos os tipos e de todos os lados. Assisti, no cabeleireiro, a uma briga
horrorosa entre duas desconhecidas que defendiam com afinco as ideias de seus
candidatos. Aos berros e com os dedos em riste, ambas se xingavam. Extraí algumas
palavras de suas falas que continham conceitos complexos como, supremo, corrupção,
ditadura, democracia, pedofilia, censura, comunismo e genocídio. Seus argumentos
furiosos pareciam meras repetições de discursos plantados em suas cabeças, como aqueles
que vêm sendo transmitidos nos grupos de WhatsApp e postagens nas redes sociais.
Tenho dúvidas se elas realmente sabem o significado de tudo isso. Posso apostar que
nenhuma delas conseguiria explicar as funções e diferenças entre STF e TSE ou como de
fato funciona um regime democrático.

Parece que nós, brasileiros, estamos divididos em times: pró X ou pró Y ou anti
X e anti Y. Há também os sem saída, que não se afinam com nenhum dos dois lados, mas
acabaram encontrando algum ponto favorável em uma das campanhas, definindo assim
seu posicionamento. Em linhas gerais, alguns se sentem ultrajados diante dos atos do atual
presidente e seus apoiadores, outros têm medo da volta do ex-presidente e o retorno aos
esquemas de corrupção. E essa divisão política produz insegurança, cansaço e ansiedade.
Quando alguém é ferido em seus valores mais íntimos, tendo seus direitos
desrespeitados, sentindo-se traído ou roubado, o ato de reagir é algo esperado. Mas há
uma gama enorme de possíveis reações diante das contrariedades. Contudo, o que se
percebe atualmente, é que não há respostas razoáveis e pacíficas disponíveis. Se você vota
na esquerda é considerado sem caráter e a favor da ladroeira. Se você vota na direita é
tomado por fascista. Simples assim. Só que não. Assim como eu não posso ter uma atitude
simplista diante de um religioso que escolhe fazer um sacrifício, não deveríamos estar
tratando as eleições como um mero “Fla X Flu”. Conversar com quem concordamos ou
é parecido conosco é fácil, compreender e nutrir afeto por opositores sempre foi um
desafio, mas nos últimos tempos parece impossível.

A mentirada generalizada e a violência estão deixando todos com os nervos à flor
da pele. Eu já fiz minha escolha, de acordo com meus ideais e princípios, mas, muitas
vezes, sinto-me acuada e sem coragem de tornar pública minha decisão. Deveríamos
poder conversar, porém não é o que está acontecendo em nenhuma esfera em que há
discordâncias.

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Hoje será um dia tenso e o que pode acontecer após a apuração me preocupa, como
cidadã e como terapeuta. Estou preparada para acolher as angústias que virão através dos
relatos dos meus pacientes nos próximos dias e espero que as regras do jogo sejam
respeitadas da maneira mais racional e civilizada possível. Que o fanatismo não vença a
sensatez.

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