Existe um conceito muito bem conhecido na teoria econômica e muito ignorado por políticos chamado “crowding out” (expulsar/expulsando na tradução livre) que argumenta que o aumento dos gastos do setor público reduz, ou mesmo elimina (expulsa), os investimentos do setor privado.
Uma das formas mais comuns de “crowding out” ocorre quando um governo grande, como o do Brasil, aumenta ainda mais os gastos e se financia com mais dívidas. Isso inicia uma cadeia de eventos que resulta na redução dos investimentos do setor privado.
A consequência pura desse tipo de endividamento por parte do setor público pode levar a aumentos substanciais da taxa de juros. Com juros mais elevados, os empréstimos e financiamentos (crédito) ficam mais caros, a inadimplência das famílias e empresas aumenta e os investimentos privados diminuem. O aumento dos gastos públicos tem o efeito de reduzir a capacidade da economia de circular crédito e, logo, de desestimular as empresas a realizarem investimentos de capital.
As empresas geralmente investem em projetos (fábricas, galpões, máquinas, equipamentos, etc) em parte ou totalmente por meio de financiamentos.
Como fica mais caro com os juros mais elevados, as empresas são desencorajadas a fazê-lo porque o custo de oportunidade de tomar dinheiro emprestado aumentou, o que faz os projetos que poderiam ser lucrativos nunca saírem do papel.
Por qual motivo uma empresa tomaria risco de investir em um projeto que pode ser lucrativo, mas que também pode dar errado, se o caixa dela está sendo remunerado a 13,65% ao ano, por exemplo, ou o custo do financiamento é de 20-30% ao ano?
Muito melhor adiar o projeto ou nunca realizá-lo.
A consequência direta do efeito “crowding out” é menos dinheiro circulando, um menor crescimento da economia ou até mesmo recessão, aumento do desemprego e empobrecimento da população.
Os governantes, ao tentarem remediar o problema, tendem a aumentar ainda mais os gastos, expulsando ainda mais os investimentos privados, causando um ciclo pernicioso de destruição de riquezas e de alocação ineficiente de recursos.
O efeito contrário também é verdadeiro. Quando o estado gasta menos do que arrecada, possibilita a queda das taxas de juros, que torna o crédito mais barato. As empresas voltam a investir, a economia fica mais dinâmica, empregos são gerados e o crescimento econômico aparece.
O Brasil sempre teve taxas de juros elevadíssimas, pois sempre teve um estado gastador.
A solução é ter um estado que tenha responsabilidade fiscal. Não é à toa que os momentos que o país mais cresceu, se desenvolveu, reduziu desemprego e auxiliou os mais pobres foi quando o estado controlou seus gastos e permitiu que as taxas de juros caíssem.
Com a eleição do novo presidente e com isso a PEC da Transição, veio à tona a discussão de aumento de gastos para ajudar os mais pobres.
Um debate um tanto quanto raso e emotivo, porém nem deveria ter existido.
Responsabilidade fiscal por parte do estado é equivalente a responsabilidade social. Só é possível ter auxílios e benefícios aos mais pobres com um estado que gasta menos do que arrecada, mesmo que políticos ignorem o que a teoria econômica diz.