Uma possível aliança entre Lula e Alckmin para as eleições presidenciais de 2022 é vista com bons olhos pelas lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT) em São Carlos (SP). No último domingo, os políticos se encontraram publicamente em um jantar na cidade de São Paulo.
“Eu apoio totalmente qualquer iniciativa do presidente Lula de organizar uma frente contra qualquer outra organização política que não seja em prol da democracia e do progresso. Pessoalmente, concordo totalmente com uma aliança, com uma discussão, que tenha como o vice o Alckmin”, disse Erick Silva, presidente do diretório municipal do PT.
Para a vereadora Raquel Auxiliadora (PT), é importante já pensar em nomes para uma aliança, mas eles devem, acima de tudo, representar um projeto político. “Qual é o projeto de nação que a gente precisa? Nesse momento, do abismo e do caos que o governo Bolsonaro jogou o Brasil, o que a gente precisa fazer para reconstruir nosso país? “.
“Uma aliança ampla, democrática, forte, que reconstrua nosso país, é urgente, é fundamental. A gente precisa, sim, se unir com todos aqueles que compreendem o abismo em que o Brasil foi jogado com Bolsonaro e a importância da democracia e do fortalecimento do nosso país”, complementou a parlamentar.
A vereadora do PT também ressaltou ser o momento de os partidos discutirem um programa político e, partir disso, definirem quais serão os nomes. “Nós temos total confiança no presidente Lula em comandar esse processo, com toda a experiência que tem. E o PT, nacionalmente, com a nossa presidenta Gleisi Hoffmann, vai coordenar esse projeto e a gente tem muita confiança nessa condução”, afirmou.
Ainda segundo a Raquel Auxiliadora, além de pensar na chapa presidencial, é necessário dar atenção para eleição de deputados e senadores. “É isso que vai dar governabilidade também ao país. Então essa é a discussão de projeto que deveria estar no centro da conversa (…) porque um governo é feito disso: uma coalizão de forças”, disse.
ANÁLISE
Para o cientista político e apresentador do programa Manhã CBN Araraquara, Bruno Silva, essa possível aliança entre Lula e Alckmin releva dois objetivos claros: “O primeiro deles tem a ver com a montagem dos palanques estaduais e, em especial, também o desenho que se faz pensando a disputa eleitoral do ano que vem no estado de São Paulo”.
Silva ressalta que essa questão da montagem do palanque estadual é central. “Por um lado, isso poderia beneficiar, por exemplo, tanto o candidato do PSB, que é com quem Alckmin tem flertado, tem discutido partido para ir para lá, que é o Márcio França. Ele que poderia se beneficiar dessa retirada do Alckmin da disputa ao governo do estado”.
“Como poderia beneficiar também Fernando Haddad, a depender do arranjo e do tipo de aliança que poderia sair, ou até mesmo a construção de uma campanha única tendo Fernando Haddad e Márcio França”, complementou Silva.
Ainda segundo o cientista político, o fato de Alckmin ter governado por quatro vezes o estado de São Paulo também beneficia Lula. “Alckmin tem uma entrada muito grande junto a bases eleitorais do interior, juntos a prefeitos, que ele, durante muitos anos, na condição de governador, foi construindo e isso beneficia Lula. Nós sabemos que o PT no estado de São Paulo como um todo tem uma rejeição muito grande, haja vista, por exemplo, os resultados eleitorais das últimas eleições”.
Já o segundo objetivo dessa aliança com Alckmin seria a construção de uma imagem pública do Lula migrando um pouco mais para o centro. “É uma figura que para muitos setores mais à direita da sociedade inspira, sim, alguém que é equilibrado, com capacidade de gestão, que implementou políticas que foram importantes e fundamentais ao longo do seu período como governador”.
Além disso, poderia passar a imagem da construção de uma grande aliança contra o Bolsonaro. “Seria uma frente que se colocaria contra o bolsonarismo, contra o legado do governo Bolsonaro, a despeito das disputas políticas, a despeito de um histórico que colocou em posições contrárias PT e PSDB”, concluiu Bruno Silva.