Há 64 anos, São Carlos (SP) recebia a visita de três atores que seriam peças-chave da política nacional: o então presidente Juscelino Kubitschek, fundador de Brasília e responsável por aqueles que seriam conhecidos como “anos dourados” da economia nacional; Jânio Quadros, governador na época que viria a ser presidente no mandato seguinte e que causara uma reviravolta na política brasileira; e o deputado federal Ulysses Guimarães, um dos maiores articuladores brasileiros e então presidente da Câmara dos Deputados.
Ciceroneados pelo prefeito Alderico Vieira Perdigão, o trio assistiu ao desfile comemorativo do centenário e visitou as instalações da recém-inaugurada Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, onde participaram de almoço oferecido pela Prefeitura nas dependências do Edifício E-1.
A presença dos dois políticos mais importantes do país no município da época em meio a um ambiente festivo na cidade mostrava aos moradores a importância do município no cenário nacional e impõe aos saudosistas a ideia de que a cidade já tivera mais atenção de governadores e presidentes.
Na opinião de cientistas políticos e sociais, a resposta é, ao mesmo tempo, sim e não.
Localizado no meio geográfico de São Paulo, São Carlos teve participação central na política do Estado na virada política que transformou o Império em República. Desde então, a importância do município tem oscilado a depender da economia local e dos atores que ocuparam a principal cadeira do Paço.
Para o cientista social Álvaro Rizzoli, ex-professor da UFSCar, o major José Inácio de Camargo Penteado foi o nome de maior expressão na política local. Um dos episódios que marcariam essa força política foi a ocasião da demissão do coronel Leopoldo Prado, a pedido de Inácio.
“Dizem que o major não deixou o presidente do Estado [cargo homólogo ao de governador naquela época] assinar a demissão, porque ele iria resolver o caso primeiro. O homem [governador] só assinou depois que ele mandou. Então o major tinha bastante prestígio”, afirma.
A cientista política Aline Zambello avalia que a falta de alinhamento dos gestores municipais aos políticos de plantão em São Paulo e Brasília pode explicar em parte a não vinda de políticos para o município. Recentemente, as idas de João Doria (PSDB), governador paulista, para Araraquara tem reacendido a rivalidade entre as cidades e questões sobre uma possível predileção palaciana pelo município vizinho. Em seu lugar, o governador tem enviado para a Capital da Tecnologia o vice Rodrigo Garcia (PSDB), pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes no pleito do ano que vem.
“A visita parece algo para quem está de fora da política como algo protocolar, mas na verdade é um espaço em que se pensa articulação, discussão de projetos de futuro, seja em termos de políticas públicas ou eleitorais”, afirma.
Apesar de não contar com visitas oficiais, São Carlos não tem ficado para trás nos investimentos e políticas públicas estaduais ou federais, opina a cientista. Entre os ocupantes da Presidência, uma das visitas mais recentes é a da ex-presidenta Dilma Rousseff, em 2015, em inauguração de casas de programa habitacional. A ocasião foi a última em que chefe das três esferas estiveram juntos em evento na cidade.
“Quando a gente escolha um lado, escolhemos as benesses e os ônus. Se está defendendo o partido que está governo do Estado compra as benesses como emendas, políticas públicas, enfim, tudo o que o governo pode proporcional, mas também qualquer escândalo, dificuldades, perda dentro de uma votação, resvala nos apoiadores. Então é uma estratégia é nem apoiar, nem desapoiar, daí pende de acordo com o clima político. É uma técnica, forma de fazer política também”, avalia.
Representação são-carlense na Alesp e Congresso
Com o passar dos anos, a mudança da economia cafeeira, predominante no começo da república, para a industrialização trouxe novos nomes à política local. Mais tardiamente, São Carlos teve representação na Assembleia Legislativa com Miguel Petrilli (1947-1959), nome que trabalhou pela vinda da Escola de Engenharia da USP para a cidade; Vicente Botta (1951 a 1995), político que integrou a Constituinte Estadual. Mais tarde, em 1962. O município teve na Assembleia o deputado Antônio Donato, que testemunhou o fechamento da Casa de Leis paulista após o recrudescimento da ditadura, em 1968. Mais recentemente, São Carlos teve representações na Alesp com Airton Garcia, hoje prefeito, e Júlio César Pereira de Souza.
No âmbito federal, José Zavaglia chegou à Câmara dos Deputados em 1977, após renúncia de Francisco Amaral, e teve mandato-tampão até 1979.
Entre os deputados, um de grande expressão foi industrial Ernesto Pereira Lopes. Atuou na Constituinte estadual paulista, entre 1947 e 1951, e integrou a Câmara Federal entre 1951 e 1955 e retornou à Casa para ficar entre 1959 e 1975. No Congresso Nacional exerceu papel de destaque em comissões e chegou à presidência da Câmara em 1971. Nesta época, trouxe o então presidente Garrastazu Médici para visitar a cidade.
“Depois, sempre a nossa participação foi diminuta. A mais forte foi a do Dr. Ernesto [Pereira Lopes] que foi presidente da Câmara na época dos militares, do golpe [de 1964]”, relata Rizolli.