O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez nesta quinta-feira, 28, uma deferência à ex-ministra Marina Silva, de quem ele vem tentando se reaproximar. “Eu esperava que a Marina estivesse aqui”, disse o petista, durante um ato político da Rede, em Brasília, de apoio à sua pré-candidatura ao Palácio do Planalto.
A cerimônia foi organizada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que faz parte da coordenação da pré-campanha de Lula à Presidência, mas nem todos os integrantes da legenda aceitam subir no palanque com o petista. Além de Marina, a ex-senadora Heloísa Helena, uma das porta-vozes da Rede, também não foi ao ato. As duas deixaram o PT no passado após romperem com o ex-presidente durante o seu governo.
“Eu, na verdade, esperava que a Marina estivesse aqui. A minha relação com a Marina é muito antiga, é muito grande. Eu quero dizer para vocês que eu aprendi a gostar da Marina quando ela ainda era menina, lá no Estado do Acre”, disse Lula. O petista ressaltou também que indicou a ex-colega de partido para ministra do Meio Ambiente em seu primeiro mandato.
Durante a cerimônia, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, também citou Marina. “Da nossa parte, não tem mágoa nenhuma. Eu não sei se da parte dela. Mas eu acho que isso está sendo superado, é só uma questão de combinar mesmo uma conversa”, afirmou a deputada. “Neste momento, é importante o apoio de todos os que defendem a democracia. Nós estamos fazendo um movimento para que essas pessoas estejam junto.”
Marina foi filiada ao PT e ministra do Meio Ambiente de Lula, mas rompeu com o partido por discordâncias internas. Na campanha eleitoral de 2014, numa das vezes em que ela concorreu à Presidência, a estratégia usada pelo marqueteiro da então presidente Dilma Rousseff, João Santana, para barrar o crescimento da ex-ministra nas pesquisas foi considerada bastante agressiva e piorou a relação dela com o PT. Hoje, Santana integra a pré-campanha de Ciro Gomes (PDT).
Rede propõe a Lula acabar com o orçamento secreto e taxar grandes fortunas
Durante o ato político em Brasília, a Rede pediu a Lula que inclua em seu programa de governo uma proposta de reforma tributária com a criação de impostos sobre grandes fortunas e lucros e dividendos. O partido também sugeriu que o petista acabe com o orçamento secreto, caso vença a eleição de outubro para o Palácio do Planalto. Por meio do esquema, revelado pelo Estadão no ano passado, o governo Bolsonaro distribui verbas a aliados, sem transparência, em troca de apoio no Congresso.
Em documento apresentado a Lula nesta quinta-feira, a Rede fala em “fortalecer mecanismos de controle e fiscalização das emendas”. O petista já disse que, se eleito, acabaria com orçamento secreto e chamou o atual Congresso de “o pior da história”. A sigla também pediu que a distribuição de recursos do governo respeite critérios técnicos e a finalização de obras inacabadas.
Como mostrou o Estadão, apesar da falta de recursos para terminar 3,5 mil escolas em construção há anos, o Ministério da Educação (MEC) autorizou a construção de outras 2 mil unidades. O esquema de “escolas fake” tem como base o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), controlado pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, por meio de um apadrinhado.
A Rede também propõe a Lula uma reforma tributária “sustentável e progressista”, que simplifique o sistema de tributos do País, com foco na transição para uma economia de baixo carbono. A legenda sugere alíquotas entre 0,5% e 1% para o Imposto Sobre Grandes Fortunas, que incidiria sobre riqueza superior a R$ 10 milhões, além do fim da isenção tributária a lucros e dividendos de empresas.
O partido de Marina Silva ainda pede a criação de um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), com distribuição de parte dos recursos arrecadados aos Estados e municípios com base em critérios sustentáveis. O partido fala também em estímulos tributários à geração de energia solar, eólica e proveniente de biomassa.
Apesar do ato com Lula, a Rede também decidiu liberar seus membros para endossar a pré-candidatura do ex-ministro Ciro Gomes (PDT) ao Palácio do Planalto.