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Política'São Carlos não vai ficar sem um Prêmio Paulo Freire', afirma Azuaite

‘São Carlos não vai ficar sem um Prêmio Paulo Freire’, afirma Azuaite

Projeto que criaria o prêmio em homenagem ao patrono da educação brasileira foi rejeitado na Câmara Municipal, mas o vereador já tem um ‘plano B’; confira

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Vereador Azuaite Martins de França. Foto: Divulgação/ Câmara Municipal de São Carlos

Em 19 de setembro de 2021 completam-se 100 anos do nascimento de Paulo Freire (1921-1997), patrono da Educação Brasileira. Em virtude disso, a Câmara de São Carlos aprovou um decreto legislativo para prestar uma homenagem ao educador. No entanto, na mesma sessão ordinária, realizada na terça-feira (17), rejeitou a criação do “Prêmio Paulo Freire de Educação e Inovação”.
Autor dos dois projetos, o vereador e professor Azuaite Martins de França (Cidadania) falou sobre essa contradição na votação. “A diferença entre uma coisa e outra é que o centenário é uma vez só. Paulo Freire faria mês que vem 100 anos de vida, isso é uma coisa irreversível. Agora o prêmio é a serenidade da lembrança e da memória”, disse.
“Então, por que rejeitaram? As pessoas não confessam, mas é por que elas são reacionárias. Eu sabia que iria enfrentar resistências e tudo mais, que poderia não ser aprovado, como não foi. Então, para mim, não é surpresa”, complementou Azuaite.
Apesar da não aprovação do prêmio na Câmara Municipal, o político afirmou que a cidade de São Carlos não vai ficar sem um Prêmio Paulo Freire. “O respeito a Paulo Freire é unânime entre os professores. E o CPP [Centro do Professorado Paulista], anualmente, já oferece alguns prêmios: Benedicta Stahl Sodré, o prêmio João Jorge Marmorato, Palmiro Mennucci, e vai estar oferecendo o prêmio Paulo Freire”, disse.
Por ser diretor do CPP em São Carlos, Azuaite explicou que tem autonomia para desenvolver ações para os professores e também para a educação. “Já que o Legislativo não quer, não deseja, eu faço pela via privada, através do Centro do Professorado Paulista”, afirmou.

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Votação do projeto para a criação do Prêmio Paulo Freire

Os vereadores que votaram contra a criação do prêmio foram: André Rebello, Ubirajara Teixeira (Bira), Cidinha do Oncológico, Moisés Lazarine. Robertinho Mori, Lucão Fernandes, Dé Alvim, Tiago Parelli e Sérgio Rocha.
Vereadores que votaram pela aprovação do projeto em homenagem ao Paulo Freire: Azuaite Martins de França, Dimitri Sean, Elton Carvalho, Marquinho Amaral, Professora Neusa, Raquel Auxiliadora, Gustavo Pozzi e Roselei Françoso.
O vereador Bruno Zancheta se absteve de votar.  
 
Professor lamenta aversão a Paulo Freire
Professor na área de linguagens na cidade de São Carlos, Glauco Keller acredita que essa aversão que alguns políticos e setores mais conservadores da sociedade têm em relação ao Paulo Freire se deva à história político-partidária do educador.

Seu projeto educacional, por exemplo, esteve vinculado ao governo João Goulart na década de 60.

Além disso, Freire também foi secretário de Educação da Prefeitura de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina (1989-1992). “Infelizmente, quem critica o método Paulo Freire, eu tenho certeza que não leu Paulo Freire. Mesmo esses setores mais conservadores da sociedade, que fazem da crítica e da verbalização agressiva uma forma de conduta, se lessem aquilo que propõe Paulo Freire, eu tenho certeza que mudariam completamente sua opinião”, disse Keller.

O professor de São Carlos também exaltou o método de ensino desenvolvido por Paulo Freire e lamentou que não tenha sido aplicado massivamente no Brasil. “O método Paulo Freire, que infelizmente não é aplicado na maioria das escolas brasileiras, prega que a criança deve aprender, e ser alfabetizada, a partir do contexto em que ela está inserida, do micro para o macro. Então o vocabulário, as experiências e o ambiente em que a criança está inserida devem ser utilizados nessa educação, que, naturalmente, seria mais regionalizada”, afirmou.

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Por fim, Keller lamentou a rejeição da criação do Prêmio Paulo Freire pela Câmara Municipal de São Carlos. “Vejo com muita tristeza a Câmara Municipal de São Carlos não entender a importância do Paulo Freire educador. Todos nós temos opiniões políticas, mas quando você tem um pensador que crê que a massificação da educação, que a alfabetização deva ser levada a todas as pessoas, quando a gente vê um projeto em relação a esse pensador ser rejeitado na Câmara de sua cidade, eu vejo certamente com muita tristeza”.

 
Freire dedicou seus 75 anos de vida à construção de métodos inovadores de educação, com foco na transformação social. Foto: Escola de Gestão Socioeducativa Paulo Freire – RJ


Paulo Freire – (Com informações do projeto de decreto apresentado pelo vereador Azuaite Martins de França).

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921 na cidade de Recife. Filho de Joaquim Temístocles Freire, capitão da PM de Pernambuco, e de Edeltrudes Neves Freire. Paulo teve uma irmã, Stela, e dois irmãos, Armando e Temístocles, aos quais sempre se reportava de maneira agradecida por terem abandonado os estudos para trabalharem e ajudarem nas despesas de casa e possibilitado que ele continuasse seus estudos.
Sua família fazia parte da classe média, mas Paulo Freire vivenciou a pobreza e a fome na infância durante a depressão de 1929, uma experiência que o levaria a se preocupar com os mais pobres e o ajudaria a construir seu revolucionário método de alfabetização.
Por seu empenho em ensinar os mais pobres, Paulo Freire tornou-se uma inspiração para gerações de professores, especialmente na América Latina e na África.
O talento como escritor o ajudou a conquistar um amplo público de pedagogos, cientistas sociais, teólogos e militantes políticos.
A partir de suas primeiras experiências no Rio Grande do Norte, em 1963, quando ensinou 300 adultos a ler e a escrever em 45 dias, Paulo Freire desenvolveu um método inovador de alfabetização, adotado primeiramente em Pernambuco.
Seu projeto educacional estava vinculado ao nacionalismo desenvolvimentista do governo João Goulart. Muitos anos mais tarde, foi Secretário de Educação da Prefeitura de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina (1989-1992).
Freire entrou para a Universidade do Recife em 1943, para cursar a Faculdade de Direito, mas também se dedicou aos estudos de filosofia da linguagem.
Apesar disso, nunca exerceu a profissão, e preferiu trabalhar como professor numa escola de segundo grau lecionando língua portuguesa. Em 1946, foi indicado ao cargo de diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço Social no Estado de Pernambuco, onde iniciou o trabalho com pessoas analfabetas pobres.
Em 1961, tornou-se diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do Recife e realizou junto com sua equipe as primeiras experiências de alfabetização popular que levaram à constituição do Método Paulo Freire.
Seu grupo foi responsável pela alfabetização de 300 cortadores de cana em apenas 45 dias.
Em resposta aos eficazes resultados, o governo brasileiro aprovou a multiplicação dessas primeiras experiências num Plano Nacional de Alfabetização, que previa a formação de educadores em massa e a rápida implantação de 20 mil núcleos (os “círculos de cultura”) pelo País.
Em 1964, meses depois de iniciada a implantação do Plano, o golpe militar extinguiu esse esforço. Freire foi encarcerado por 70 dias.
Em seguida passou pela Bolívia e trabalhou no Chile por cinco anos para o Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e para a FAO da ONU.
Em 1967, durante o exílio chileno, publicou no Brasil seu primeiro livro, Educação como Prática da Liberdade. Freire foi convidado para ser professor visitante da Universidade de Harvard em 1969. No ano anterior, ele havia concluído a redação de seu mais famoso livro, Pedagogia do Oprimido, que foi publicado em várias línguas; mas no Brasil, por causa da ditadura só foi publicado em 1974.
Depois de um ano em Cambridge, Freire mudou-se para Genebra, na Suíça, trabalhando como consultor educacional do Conselho Mundial de Igrejas.
Durante esse tempo, atuou como consultor em reforma educacional em colônias portuguesas na África, particularmente na Guiné-Bissau e em Moçambique. Com a Anistia em 1979, Freire pôde retornar ao Brasil, mas só o fez em 1980.
Exerceu o cargo de secretário de Educação de São Paulo, de 1989 a 1991, quando criou o Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), um modelo de programa público de apoio a salas comunitárias de alfabetização de jovens e adultos que até hoje é adotado por numerosas prefeituras, inclusive aqui em São Carlos, e outras instâncias de governo.
Em 1991, foi fundado em São Paulo o Instituto Paulo Freire, para estender e elaborar as ideias de Freire, onde estão os arquivos do educador.
Também realiza atividades relacionadas com o legado do pensador e atua em temas da educação brasileira e mundial. Freire morreu em 2 de maio de 1997.
Neste ano, Paulo Freire completaria 100 anos de idade. É tempo de relembrar sua história, seu pensamento e suas propostas político-pedagógicas, cuja força ainda mobiliza milhares de educadores por todo o mundo.
É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado de maneira decisiva o movimento chamado pedagogia crítica.
Autor de diversos livros, como Cartas à Guiné-Bissau, Educação e Mudança, Pedagogia da Esperança, Política e Educação, Pedagogia da Autonomia, À Sombra desta Mangueira, Freire recebeu dezenas de títulos Doutor Honoris Causa das universidades mais conceituadas de diversos países.
Seu livro, Pedagogia do Oprimido, está entre as obras mais citadas em trabalhos e textos sobre Educação por todo o mundo. De maneira muito simples, ele defendia como objetivo de a escola ensinar o aluno a “ler o mundo” para poder transformá-lo. Sua filosofia baseia-se no diálogo entre o professor e o aluno, procurando transformar o estudante em um aprendiz ativo.
Ele criticava os métodos de ensino em que o professor era tido como o detentor de todo o conhecimento e o aluno apenas um depositário de informações, conteúdos – o que ele chamava de “educação bancária”.

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