Netto Donato assumiu a articulação do governo municipal em meio a um tsunami político vivido pelo prefeito Airton Garcia (União). Antes adversário nas urnas – Netto foi o segundo colocado nas eleições municipais passada – agora se junta na trincheira para tentar evitar a derrocada da gestão. A nomeação causou surpresa no mundo político ontem.
Em entrevista ao acidade on São Carlos, Netto Donato afirma que a situação do governo é “muito difícil” e elencou as principais tarefas suas no posto de articulador, antes ocupada por Edson Fermiano.
“É uma situação delicada, não é? O relacionamento entre Câmara e Prefeitura… Eu só entrei para cá porque acredito que podemos reverter isso com muito trabalho, conversa, diálogo e respeito com a Câmara Municipal e isso é importante”, afirma.
Com experiência nos bastidores da Câmara Municipal, Netto pretende trabalhar no tête-à-tête com os vereadores. Ouvir as principais queixas e trabalhar no restabelecimento das pontes com o Legislativo são ações que pretende tomar de imediato.
“Conversando a gente entende quais são as principais dificuldades que eles estão enfrentando, porque, na realidade, todos nós queremos o bem para a cidade de São Carlos”, comenta.
Dentro do governo, Netto deve ter posto central na articulação entre as diferentes pastas – e cabeças – no Executivo, algo como um “primeiro-ministro” ou primeiro entre os pares. Essa função deverá dar maior uniformidade às ações da Prefeitura e parar o bate-cabeça que reina na gestão atual.
Essa falta de coordenação faz com que indicações de emendas fiquem atracadas em uma secretaria ou que pedidos diversos sejam ignorados, aumentando o clima de irritação entre os vereadores.
Vereadores ouvidos pelo acidade on relatam que uma dificuldade vivida no relacionamento com o governo Airton é que a gestão se porta com “pequenas prefeituras”. “Vários prefeitos”, resumiu o presidente da Câmara, Roselei Françoso (MDB), em entrevista recente ao acidade on.
A relação com o Legislativo se encontra desgastada em nível de irritação que beira o belicismo. Airton enfrenta uma Comissão Processante e a primeira-dama, uma CPI. Ambos se viram agora em um novo desafio: uma investigação para apurar suposto favorecimento na dispensação e entrega de medicamentos, um “delivery” de remédios.
Do ponto de vista prático, nos próximos dias, Airton deve alinhar nomeações para cargos que por ora estão desocupados, como a Secretaria de Esportes e Cultura e a Secretaria de Agricultura e Abastecimento, além dos quadros comissionados que foram desocupados por ordem do prefeito em represália à votação da Processante.
Dentro desta equação para a escolha de nomes para o governo “Airton 3.0”, entra a recomposição de uma base mínima na Câmara. Apenas três vereadores votaram contra a abertura da Comissão Processante contra Airton. Seriam necessários, no mínimo, cinco vereadores para manter o governo de pé. A governabilidade, porém, viria com uma base mais alargada, como a vivida num passado não tão distante.
“Esses cargos são de autonomia do prefeito e não há nenhum problema em realizar alguma composição com a Câmara Municipal, mas na realidade, precisamos pensar e analisar certinho como estão sendo essas funções”, relata.
