PolíticaVereador propõe retirada de crucifixo da Câmara de São Carlos
Vereador propõe retirada de crucifixo da Câmara de São Carlos
Em defesa do Estado Laico, Djalma Nery (PSOL) também sugere a substituição da leitura da bíblia sagrada no início das sessões pela da Constituição Federal.
Um projeto de resolução do vereador Djalma Nery (PSOL) propõe a retirada do crucifixo de Jesus Cristo do plenário da Câmara Municipal de São Carlos (SP). Além disso, o parlamentar sugere a substituição da leitura da bíblia sagrada no início das sessões pela da Constituição Federal ou de Tratado Internacional de Direitos Humanos do qual o Brasil seja signatário. A Diocese de São Carlos e o Coletivo pela Defesa da Diversidade Religiosa divergiram sobre a proposta (veja abaixo).
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“Esta resolução direciona todos/as que estiverem presentes às sessões a seguirem um ato de caráter religioso, instituindo preferência por determinada religião, orientado por aqueles que têm preferência em seguir a Bíblia Cristã, deixando de contemplar os/as que não se orientam por ela”, explicou Djalma Nery em publicação.
Católico, o vereador já se recusou a ler um trecho da Bíblia cristã no começo da sessão ordinária do dia 5 de outubro e justificou dizendo que entende que isso viola o princípio constitucional do Estado Laico.
A leitura está prevista na resolução Nº 222 da Câmara de São Carlos, que também obriga a manutenção de um exemplar da Bíblia Sagrada sobre a mesa diretora durante as sessões.
Para Djalma Nery, o importante é debater o assunto com tranquilidade e bom senso, sendo a Câmara Municipal soberana para decidir se deve ou não promover mudanças. “Se há 20 anos nós temos essa resolução vigente, ela pode no mínimo ser debatida. Para, quem sabe, se for entendido pela maioria dos vereadores, que têm a soberania de decidir sobre isso, ser alterada”, afirmou.
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Questionado se concorda com a manifestação da Diocese de São Carlos (veja nota completa no fim da matéria) de que “não é momento de polarização, tampouco de instrumentalização da fé ou de símbolos religiosos para se fazer política”, Nery afirmou: “Em partes sim, mas em partes não. É um assunto polêmico e toda polêmica polariza. No entanto, é um assunto necessário, porque, na minha concepção de mundo, a democracia depende da laicidade, da pluralidade de ideias, do acolhimento das diferentes vertentes do pensamento e da fé nos espaços institucionais”.
O projeto de resolução será votado no dia 9 de novembro na Câmara de São Carlos.
AMEAÇA DE MORTE
Durante a sessão da Câmara Municipal, na terça-feira (26), Djalma Nery disse ter recebido uma ameaça de morte, por intermédio de seu cunhado, de um homem que trabalha com conserto de ar condicionado. “Ele disse assim: avisa o Djalma que lá na Itália, ele é italiano, mataram os caras que mexeram com a igreja. Fala para ele tomar cuidado”.
“Eu não vou ser intimidado. Ninguém vai dizer o que eu posso ou não fazer como vereador”, complementou.
O parlamentar disse que já está conversando com uma advogada para tomar as medidas cabíveis contra esse homem e explicou ter sido um caso isolado: “Muitas pessoas nas redes sociais, especialmente, que é um espaço que potencializa essa polarização e essa violência, muita gente passando dos limites na agressão verbal, xingando com palavras de baixo calão. Não conseguindo se ater um debate racional”.
“Acredito que se trata de uma minoria radicalizada, que não tem condições, capacidade e interesse de debater (…). Mas que não representam a totalidade e a grande maioria das pessoas, que são ou contrárias ou favoráveis ao projeto”, complementou Nery.
MANIFESTAÇÃO DIOCESE
A Diocese de São Carlos se manifestou sobre o assunto em um comunicado. Confira na íntegra:
“É preciso que se compreenda que na sociedade temos as Instituições e cada uma delas tem seu mecanismo próprio de ação, tem sua isonomia e autonomia diante da sociedade. Neste sentido o que o vereador propõe é uma Resolução de Lei que altera uma ação interna da Câmara Municipal. Bem se sabe que a posição do vereador representa a opinião de uma parcela da população que o elegeu para representá-los.
A Câmara é a casa das Leis que representa a população como um todo. Bem por isso, estão lá outros vereadores que representam outras parcelas e setores sociais. Cada munícipe que não se sente representado por esta mudança interna no plenário e nas sessões ordinárias, deve buscar junto ao seu representante fazer chegar sua voz expressa no voto à resolução.
A Resolução proposta altera uma Lei interna promulgada em 2002, portanto, já se passaram dezenove anos. Talvez seria de se refletir que ao invés de suprimir a Lei, pudesse se ampliar a compreensão da mesma, uma vez que nossa sociedade é composta por pessoas que são cristãs e não cristãs, no entanto, em sua grande maioria, pessoas religiosas. Sendo o lugar onde trabalham os vereadores, a casa do povo, toda a população deve se sentir contemplada naquele espaço.
Na “Constituição Pastoral Gaudium et Spes Sobre a Igreja no Mundo”, entendemos que “a Igreja que, em razão da sua finalidade e competência, de modo algum se confunde com a comunidade política e nem está ligada a nenhum sistema político, é ao mesmo tempo sinal e a salvaguarda do caráter transcendente da pessoa humana” – seguiremos, como Instituição Religiosa, nos empenhando na construção do Reino de Deus, através do empenho por uma sociedade mais justa e fraterna.
O momento, na sociedade pandêmica, é de unidade e políticas públicas eficazes no que se refere a saúde física e mental, bem como nas realidades de assistência social aos mais vulneráveis. Não é momento de polarização, tampouco de instrumentalização da fé ou de símbolos religiosos para se fazer política. Unamo-nos na busca pelo bem comum! “.
MANIFESTAÇÃO COLETIVO PELA DIVERSIDADE RELIGIOSA
Criado em 2019 no CEMAC, o Coletivo pela Defesa da Diversidade Religiosa de São Carlos, que inclui católicos, evangélicos, espíritas, umbandistas, candomblecistas e ateus também se manifestou nas redes sociais. Veja nota na íntegra:
“O Coletivo pela Defesa da Diversidade Religiosa de São Carlos foi criado em 2019 no CEMAC, no Dia Municipal de Combate à Intolerância Religiosa e inclui católicos, evangélicos, espíritas, umbandistas, candomblecistas e ateus.
Viemos a público manifestar nosso apoio à resolução proposta pelo vereador Djalma Nery que garante a laicidade do estado, legitimando igualmente todas as religiões, ao solicitar que que não haja elementos de uma única vertente religiosa fixados na câmara ou que apenas o livro sagrado de um grupo religioso seja lido antes da sessão.
Por que não tem sido lidos também fragmentos da Bhagavad Gita, do Darmapadda ou do livro dos espíritos? Por que não ter cantos devocionais hindus, tão belos e cheios de energia ou um ponto cantado de Exu? Como isso não será possível dada a infinidade de vertentes que deveríamos celebrar, nada mais justo que a câmara seja um local sem símbolos religiosos, garantindo o respeito igualitário a todas as religiões.
Uma vez que há tantas vertentes, sendo impossível tratá-las com a igualdade que merecem, parece-nos preferível não privilegiarmos alguma, omitindo a existência das outras, onipresentes num país plural como o Brasil”.
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