26 de julho de 2024
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EP Agro

Pesticidas da cana-de-açúcar podem causar a morte de tilápias

Pesquisa aponta que toxicidade dos produtos afetam as brânquias, principal órgão respiratório dos peixes, podendo causar a morte desses animais por asfixia

A tilápia foi escolhida para o estudo por ser o peixe mais consumido no país (Foto: Freepik)

Dois defensivos agrícolas utilizados na produção de cana-de-açúcar na região de Presidente Prudente (SP) têm gerado preocupação devido ao impacto dos resíduos no solo e nas águas. Segundo um estudo realizado por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), esses pesticidas podem causar a morte de animais, como tilápias, em 24 horas.

A pesquisa foi divulgada nesta quinta-feira (29) pela Agência Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). Nela, foram analisados os efeitos dos pesticidas parationa-metílica (MP) e imazapique (IMZ), produtos borrifados nas plantações de cana-de-açúcar, nas brânquias de 150 tilápias-do-nilo mantidas em aquários do laboratório da faculdade.

Como o estudo foi realizado?

O time de pesquisadores começou o estudo pelas brânquias por serem o primeiro ponto de contato dos peixes com essas substâncias, mas outros sistemas e órgãos, como fígado, rins e coração, estão sendo analisados. As brânquias ou guelras são órgãos respiratórios que absorvem o oxigênio da água e eliminam dióxido de carbono.

a tilápia foi escolhida por ser o peixe mais consumido no país, de acordo com os pesquisadores. O critério de seleção dos pesticidas está referenciado em pesquisas anteriores que identificaram a presença de resíduos no solo e nas águas próximas às plantações e assentamentos humanos.

Os dois pesticidas, a parationa-metílica (MP) e imazapique (IMZ), foram diluídos na água do aquário em quantidades abaixo dos limites permitidos pela legislação de vários países. Em seguida, monitoraram o órgão respiratório das tilápias em 24 horas e depois de 96 horas.

Quais resultados os pesquisadores obtiveram?

Mesmo em pouca quantidade e em apenas 24 horas, os pesticidas destruíram completamente ou danificaram uma parte muito importante das brânquias, os filamentos ou lamelas. Trata-se de estruturas com muitos vasos sanguíneos, que desempenham um papel fundamental na troca de gases. Sua destruição é uma sentença de morte para os peixes, afirmou o estudo.

“Ficamos surpresos em constatar que a exposição a quantidades muito pequenas desses pesticidas, abaixo inclusive dos limites permitidos pela lei, foi suficiente para danificar as brânquias de tilápia”, destacou o pesquisador Rafael Rubira, da FCT-Unesp (Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual de São Paulo).

Os próximos passos serão análises químicas do que ocorreu com as moléculas de gordura das brânquias para identificar quais alterações estão associadas a processos cancerígenos.

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“Queremos mostrar, por microespectroscopia, que, se houver alterações no DNA ou no RNA, as próximas gerações de peixes poderão ter malformações”, pontua o cientista.

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Mais sobre os pesticidas

De acordo com as análises, o IMZ faz parte do grupo de herbicidas usados para combater o crescimento de certos tipos de plantas daninhas presentes no campo. Seu uso é autorizado no Brasil para as culturas de amendoim, arroz, cana-de-açúcar, milho, pastagem, soja, sorgo e trigo. “Porém, é uma substância altamente tóxica, com elevada solubilidade quando lixiviada em camadas mais profundas do solo”, diz o pesquisador.

O MP, por sua vez, é um poderoso inibidor de um tipo de enzima que causa efeitos tóxicos colaterais no sistema nervoso de animais. Pode também afetar a pele e os olhos, entre outros sistemas corporais expostos por seres vivos. Permitido nos Estados Unidos, com limite de concentração de 9,3 microgramas por litro [µg/L], o MP é proibido no Brasil, mas ainda é encontrado, segundo Rubira.

Controle dessas substâncias

A Fapesp procurou a Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasi), mas não obteve resposta.

Já o Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária), questionado sobre a existência de rotinas de monitoramento e controle do tipo de pesticida usado na cultura da cana-de-açúcar, esclareceu que “é de competência dos Estados legislar e fiscalizar o uso de agrotóxicos no âmbito da sua circunscrição”. O Mapa confirmou que a parationa-metílica tem uso agrícola proibido no Brasil desde 2015. E informou que a Anvisa monitora resíduos de agrotóxicos no âmbito do Para (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos).

Consultada, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) relatou que, no período de 2013 a 2022, a parationa-metílica foi pesquisada em 18.429 amostras de alimentos vegetais coletadas no âmbito do Para, tendo sido detectada em seis amostras (três coletadas em 2014 e três coletadas em 2015).

*Com informações da Agência Fapesp

**Sob supervisão de Marcos Andrade

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