27 de abril de 2024
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Educa mais cast

Educadores de São Carlos tentam colocar Educação antirracista em prática

Ao encontro de lei federal, rede municipal propõe desenvolver currículo escolar com perspectiva crítica, a fim de engajar alunos na luta ativa contra o racismo

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Um currículo escolar que proponha a perspectiva antirracista conceito da filósofa norte-americana Angela Davis, no seu livro “Mulheres, raça e classe” deve contemplar a reflexão sobre o racismo, revendo conceitos sobre violência, preconceito, violação de direitos e a própria construção social. Ou seja, vai além de uma postura “não racista” e da simples revisão da história e da cultura negra, como já previsto pela lei 10.639/03. 

“Não ser racista é um comportamento sem ação, inerte diante de um problema que é de todos. Em nome da construção de uma sociedade antirracista, é fundamental o envolvimento e a participação que vai além do 13 de maio [Dia da Abolição da Escravatura/Dia Nacional de Combate ao Racismo] e do 20 de novembro [Dia da Consciência Negra]. As práticas antirracistas têm que ser contempladas durante o ano todo, inclusive pelo currículo escolar”, defende o professor da rede municipal de São Carlos, José Claudio Salvador, também presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra (CMCN).

Crédito: Freepik

 

De acordo com a norma federal promulgada em 2003, é obrigatório, “o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo escolar da Educação Básica, nas escolas públicas e particulares, a fim valorizar as Diretrizes Curriculares Nacionais para as relações étnico-raciais, por meio do “estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil”. 

“Uma educação que se pretende antirracista terá como cerne a interdisciplinaridade como prática educativa; a transversalidade como estratégia didática; a interculturalidade como valorização de culturas diversas; e a interseccionalidade para compreender melhor as desigualdades e a sobreposição de opressões e discriminações existentes em nossa sociedade. Devemos, como educadores, ampliar e estender o trabalho educacional a todos os conteúdos tradicionais”, afirma Salvador, também membro do Núcleo Municipal de Promoção de Igualdade Racial em São Carlos (NUMPIR). 

Ele avalia, contudo, que, até hoje, após quase 20 anos, a lei 10.639/03 ainda não foi plenamente implementada no currículo oficial. “Ainda estamos discutindo formas práticas de valorizar e a praticar ações educacionais que valorizem a cultura negra brasileira, a ancestralidade e o negro na formação na sociedade nacional, acolhendo os alunos dos segmentos negros, brancos e indígenas no combate ao preconceito e ao racismo”.

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Educação pela igualdade 

Hoje doutora em Educação, a professora Maria Alice Zacharias não só entende a importância da perspectiva antirracista, como precisou superar os obstáculos interpostos pela presença do preconceito e da discriminação. Criada na zona rural, onde precisou trabalhar desde muito cedo, ela lembra que não sabia, na época, o que era o racismo propriamente dito, mas podia sentir a hostilidade das pessoas, principalmente quando era motivo de piada.

Lembrança de Maria Alice Zacharias no início da sua jornada no magistério. Crédito: Arquivo pessoal.

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“Na maioria das vezes, era pela minha própria característica fenotípica, presente em mim e na população negra. Certo dia, saindo do corte de cana mais cedo, porque eu sempre saia um pouco mais cedo, tipo uns 40 minutos antes, pra dar tempo de ir à escola , eu ouvi a voz de um italiano que disse: Quem ela pensa que é? Estudar para que? Por acaso ela acha que vai ser doutora? Só se for dos canaviais. E ria. Tudo isso me marcou muito, mas eu só pensava eu não vou desistir. Não vou. Eu sou capaz. Nesse sentido, foi necessário um esforço muito grande para permanecer na escola e enfrentar tantos desafios e preconceitos, ainda mais por ser uma mulher negra e uma mulher rural.”. 

Foi nessa trajetória de lutas que a atual professora voluntária e coordenadora do MOVA São Carlos Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos adquiriu duas fortes convicções: a primeira, de que a Educação é o melhor caminho para a realização de sonhos; e a segunda, de que, para fazer frente ao racismo, ter um propósito de vida é a melhor arma.  

“Pela própria forma como a sociedade foi constituída, às vezes é algo muito difícil da gente perceber de pronto. Porque é um racismo velado. E se a gente não tem um olhar crítico, reflexivo que, às vezes, só conseguimos com estudo acabamos sendo podados o tempo todo. A pior forma de racismo é quando ele é praticado na invisibilidade. Porque ele fere, agride e poda nossos sonhos. E lutar contra tudo isso exige de nós uma força imensa”, garante a professora, cuja missão de vida é garantir a todos o direito à Educação. 

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