27 de abril de 2024
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Dois tipos de violência, bullying e racismo não devem ser confundidos

De acordo com pedagogos da rede municipal de Educação de São Carlos, ambas agressões podem ocorrer juntas, mas devem ser levadas em consideração separadamente

Pesquisa mais recente da a Polícia de Segurança Pública mostrou que, entre 2021 e 2022, houve um aumento de 37% dos casos de bullying em contexto escolar: foram 2.847 ocorrências, sendo 1.169 por agressões, e 752 injúrias e ameaças. Esses números, contudo, expressam apenas episódios devidamente registrados, excluindo tantos outros que acontecem de maneira rotineira e que, muitas vezes, são tratados como “brincadeiras”. Ao mesmo tempo, acaba por incluir situações como o racismo, com o qual não deveria ser confundido. 

Originada na língua inglesa, a palavra “bullying” une o termo “bully”, que significa “valentão”, ao sufixo “ing”, que marca uma ação contínua. Portanto, representa graficamente um conjunto de ações que se repetem com a intenção de humilhar, intimidar e/ou traumatizar uma vítima. 

Crédito: Freepik

 

De acordo com o pedagogo Jose Claudio Salvador, professor da rede municipal de ensino de São Carlos, as manifestações mais comuns são: verbal através de apelidos, xingamentos e insultos; física quando há empurrões, socos, tapas, entre outras agressões físicas; moral com difamações, calúnias ou disseminação de rumores; e psicológico a exclusão total do grupo.  

“Na sociedade, o que impera é o individualismo e a competição, enquanto o medo de ser diferente nos torna frágeis. A instituição escolar é um ambiente onde nas relações sociais os conflitos sociais têm seu combustível, fazendo com que o bullying seja um problema que sempre existiu. Inconscientemente, essas ações funcionam como forma de eliminar alguns e não criar empatia”, aponta o professor.

Mesma consequência, diferentes causas 

À frente da presidência do Conselho Municipal da Comunidade Negra (CMCN), Salvador destaca que, apesar do bullying se apresentar de muitas formas, ele não deve ser apontado como outras manifestações discriminatórias.  

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“Não podemos usar bullying como sinônimo do racismo, pois podemos acabar encobrindo as mazelas sociais, estruturais e institucionais que o racismo produz. Criaremos um mito como o da Democracia Racial, onde os conflitos gerados pelo racismo são amenizados e ditos como uma determinação e naturalização dessas ações”.

Ele ainda explica que, no racismo, as relações raciais foram polarizadas entre superioridade e inferioridade, e em uma relação de alteridade entre “eu” e o “outro”. Nesse contexto, ele é ideológico e estrutural.   

“O outro sempre é tratado como coisa e caracteriza um processo de violência que gera ódio em relação a pessoas que possuem um pertencimento racial diferente por sinais como cor da pele, tipo de cabelo, etc.”, destaca Salvador. 

Sendo assim, cada um desses atos possui características próprias, que, muitas vezes, podem ocorrer juntos. Contudo, para a pedagoga Gabriela Maria Fornaciari, especialista em Educação Infantil e em Educação de Jovens e Adultos (EJA), quando isso acontece, os dois problemas devem ser levados em consideração separadamente.  

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“O fato de a vítima ter sofrido bullying não deve amenizar o racismo que o acompanha no ato. Apesar desses conceitos estarem separados por uma linha tênue, não podem ser considerados a mesma coisa. O racismo é crime”, lembra.

Agressão não é brincadeira 

O presidente do CMCN difere também que, além de não ser o mesmo que racismo, o bullying não deve ser entendido como uma brincadeira.  

“O limite se estabelece a partir do momento em que uma brincadeira é uma ação esporádica e não uma sequência de comportamentos recorrentes entre o que brinca e o que é instrumento do brincar. No caso do bullying, é uma prática sistematizada. Segundo especialistas, uma brincadeira passa a ser bullying quando causa sofrimento para o alvo e prazer ao que prática”.

Projeto de Educação antirracista envolve diversos educadores e alunos. Crédito: Arquivo pessoal

 

O combate ao bullying, portanto, precisa fazer parte do planejamento escolar e estar presente no conteúdo. Para isso, a primeira iniciativa é identificar o problema, como explica a Gabriela.  

“A prática do bullying na escola é um assunto sério que deve ser tratado como um risco à integridade física e emocional dos envolvidos. Estar ciente de que o bullying acontece em todas as escolas, sem exceção, é o primeiro passo. Na maioria das vezes, o abuso acontece ao nível psicológico por meio de piadinhas, apelidos pejorativos e exclusão social”. 

Em seguida, é necessário criar um ambiente e buscar soluções de ordem prática, promovendo ações conjunta entre comunidade escolar e familiar.  

“A correria do dia a dia torna, por vezes, a conversação entre pais e filhos escassa. No entanto, é de grande importância reservar um tempo para conversar com as crianças sobre o que está acontecendo em suas vidas”, aconselha a pedagoga, citando, ainda, que, junto às conversas informais, palestras e atendimento com psicólogos podem ser maneiras eficazes de prevenção. 

Especificamente em relação ao racismo, faz-se imperativas iniciativas de orientação e conscientização da comunidade escolar em direção a uma educação antirracista. Ou seja, ações e projetos sobre o racismo e o preconceito, para além do cumprimento das legislações 10.639/03 e 11.645/08, que obrigam o ensino africano, indígena e afro-brasileiro nas instituições de ensino.  

“A prática cotidiana de respeito e empatia entre todos da comunidade escolar são imprescindíveis para o enfrentamento e quebra do ciclo de violência”, garante a também supervisora do Centro de Formação dos Profissionais da Educação (CeFPE/SME) de São Carlos.

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