27 de abril de 2024
- Publicidade -
Educa mais cast

Professoras são reconhecidas por projeto para uma educação antirracista

Honraria entregue pela Câmara Municipal de São Carlos destacou a importância pedagógica de vivências que aproximaram crianças da história e cultura afro-brasileiras

Mesmo que a formação de uma sociedade antirracista dependa do engajamento de todos tanto nas escolas quanto nas comunidades , algumas pessoas acabam de destacando pelo impacto dos resultados já conquistados. No início de dezembro, a coordenadora pedagógica Alessandra Guerra da Silva Oliveira e a professora Rosana Izabel Cerino de Almeida tiveram seus papeis reconhecidos nessa missão, em consequência do trabalho à frente do projeto “Vivências em africanidades na Educação Infantil”, desenvolvido durante todo o ano de 2022, com crianças da rede municipal de São Carlos. 

Às profissionais, a Câmara Municipal concedeu, pela primeira vez, o “Selo Carolina Maria de Jesus”, uma honraria que incentiva ações de inclusão de temas sobre a história e a cultura afro-brasileiras no currículo escolar (como previsto pela lei federal 10.639/03). A escolha pelo projeto que defende a pedagogia antirracista como potência na luta por relações mais humanizadoras veio de uma comissão, formada por vereadores, representantes dos conselhos municipais da Comunidade Negra, da Educação, do Poder Executivo e de universidades em atividade no município.

Alessandra e Rosana receberam o “Selo Carolina Maria de Jesus” em cerimônia na Câmara Municipal de São Carlos. Crédito: Arquivo pessoal

 

“Senti-me honrada e privilegiada em receber o selo, pois sei que muitas são as ações e os trabalhos exitosos desenvolvidos com a temática étnico-racial pelas professoras/es da rede municipal de ensino. A premiação vem valorizar e reconhecer todo o trabalho pedagógico que está sendo realizado, consolidando toda uma luta por uma educação democrática, equânime, que respeite as diferenças e práticas educativas mais humanizantes”, comemora a coordenadora, que atua em 10 escolas situadas nos bairros Cidade Aracy, Antenor Garcia, Zavaglia e Abdelnur.

Sobre o projeto 

Realizadas com a participação de 19 crianças do Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) “Olivia Carvalho”, as “Vivências em africanidades na Educação Infantil” promoveu, durante todo o ano, uma série de interações, brincadeiras, rodas de conversas, danças, capoeira e contação de histórias, sempre sob a perspectiva da lei 10.639/03 e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana.

- Publicidade -
Crianças durante o projeto “Vivências em africanidades na Educação Infantil”. Crédito: Arquivo pessoal

 

Nessa perspectiva, buscou-se compreender os processos educativos decorrentes das práticas antirracistas, procurando incluir, através da escuta ativa, as percepções e as interpretações que os estudantes davam a tais práticas.  

“Compreendemos as crianças como sujeitos autônomos, ativos, protagonistas que produzem culturas em todas as relações e práticas sociais que vivenciam. Considerando que, na Educação Infantil, as aprendizagens ocorrem através das brincadeiras e interações, precisamos possibilitar experiências educativas nas quais as crianças possam ser acolhidas em suas diferenças e especificidades, em que todas possam identificar as contribuições e importância da história e da cultura dos negros, bem como no seu jeito de ser, viver e se relacionar com outras pessoas”, destaca Alessandra. 

- Publicidade -

O projeto contou também com o apoio dos pais e familiares das crianças, que durante o desenvolvimento das vivências, foram incentivados a participar ativamente das ações.

Trabalho em relação a memórias e histórias, desenvolvido pelas crianças. Crédito: Arquivo pessoal

  

As ganhadoras e o selo 

A professora da sala referência Rosana Almeida, formada em Pedagogia e especialista em Educação Infantil e Educação Especial, atua como professora há 18 anos. Ao ser convidada a colaborar com o projeto, aceitou prontamente, por acreditar que as escolas precisam realmente mudar paradigmas e lutar por uma educação que respeite as diferenças. 

Também formada em Pedagogia, Alessandra trabalhou como professora por 12 anos antes de assumir a coordenação pedagógica da Educação Infantil da rede pública de São Carlos. Ao longo da sua trajetória, vivenciou, na prática, a constante necessidade de valorização das identidades étnico-raciais nas crianças, de maneira a fortalecer sua autoestima dentro e fora das salas de aula, como bem lembra. 

“Sou uma mulher negra, mãe de duas crianças negras. Todos os dias, eu preciso dizer para meus filhos que eles são maravilhosos, lindos e potentes, pois, diariamente, eles encontrarão na rua, onde eles andarem, pessoas que dirão o contrário, que tentarão inferiorizá-los, discriminá-los, já que o racismo perpassa por todos os espaços e práticas sociais em nossa sociedade. Então, levo essa atitude pessoal para o profissional, porque o racismo não pode ser silenciado”.

Alessandra Guerra da Silva Oliveira e Rosana Izabel Cerino de Almeida. Crédito: Arquivo pessoal

 

Atualmente doutoranda da linha de pesquisas “Práticas sociais e processos educativos”, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Alessandra garante que todas e todos que estiveram envolvidos nas vivências se sentiram valorizados e reconhecidos pelo “Selo Carolina Maria de Jesus”, visto que as práticas pedagógicas antirracistas, o compartilhamento de lembranças, a busca pelas identidades e pelo pertencimento étnico-racial foi uma ação conjunta, cheia de amorosidade e dedicação.  

“A premiação vem materializar a importância desta parceria: pais, familiares e escola no desenvolvimento e aprendizagem de nossas crianças. Acredito que a premiação poderá transcender os muros da escola, incentivando e inspirando outros profissionais da educação a compartilharem os trabalhos que estão realizando, multiplicando, assim, a visibilidade das ações antirracistas em nosso município”, afirma.

- Publicidade -
plugins premium WordPress