O Lobisomem é um personagem difundido em muitas culturas. Até onde se sabe, o primeiro registro da transformação de um ser humano em um lobo, aconteceu na Grécia mitológica.
MITOLOGIA GREGA
Zeus estava cansado das sucessivas reclamações de que o sanguinário Licaão, Rei de Arcádia, vinha descumprindo a lei divina da hospitalidade, já que ao invés de receber bem estrangeiros em seu reino, matava todos que chegassem em Arcádia.
O Deus do Olimpo se disfarçou de peregrino e pediu guarida no Palácio de Licaão, que alerta do por seus súditos de que aquele peregrino não parecia um mero viajante, resolveu testar seu pretenso hóspede.
Então, ele mata um de seus filhos e serve a carne do homem a Zeus na primeira refeição oferecida, enfurecendo o Deus do Olimpo, que queima o palácio de Licaão e o transforma em um lobo.
MITOLOGIA NÓRDICA
Mas essa não é a única referência mitológica de homens lobos. Fenrir, na mitologia nórdica, era filho de Loki, sobrinho de Thor e neto de Odin. Ele era uma criatura abissal com formas canídeas, que tinha como destino assassinar seu avô Odin, durante uma comemoração em Ragnork.
Mas o mega lobo, também conhecido como criatura do poço, não teve êxito nessa missão, já que foi morto por Vidar, outro filho de Odin.
GILES GARNIER
A França, talvez seja o país com o maior número de registros de Lobisomens no mundo. É bem possível que um destes acontecimentos tenha até inspirado Charles Perrault a escrever Chapeuzinho Vermelho. Aliás, o conto original é bem mais sangrento do que o que ouvimos quando crianças.
Ainda nas terras de Napoleão, houve o caso de Giles Garnier, que justificou sua transformação em Lobisomem a um encontro com um espírito na floresta. Ele alegou ter matado um garoto de 10 anos após ser tomado por essa força bestial e maligna, que o transformou em um lobo. Ele foi preso depois do testemunho de um garoto que sobreviveu ao ataque do Lobisomem e o identificou.
Ainda recaiu sobre Giles a responsabilidade sobre 3 mortes, antes dele ser condenado à morte e executado em uma fogueira, no Vilarejo de Dole na França. O perfil de Garnier, somado à possibilidade de identificação da vítima sobrevivente, dá margem a dizermos que seu caso pode se tratar de um caso de Licantropia clínica, que se trata de uma condição psiquiátrica que causa um tipo de fantasia de que um ser humano pode se transformar em animal.
Na mitologia dos povos originais do Brasil, encontramos um fenômeno parecido chamado de “ingeramento” onde pessoas passam por um fenômeno parecido. Para nos lembrarmos de um recente exemplo disso, basta recordarmos as transformações de Juma Marruá em Onça, na novela “Pantanal”.
JEAN GRENIER
Voltando para a França, outro caso de Lobisomem é o de Jean Grenier, que aterrorizou o sul do país no início do século XVII.
Grenier começou a atacar e comer crianças depois de se cansar de se alimentar de cães e outros animais. Ele se transformava fisicamente em Lobo, por um espaço de tempo, e cometia seus ataques neste período. Depois de ser reconhecido por uma sobrevivente, foi detido e condenado, ficando preso em uma cela adaptada em um mosteiro.
BESTA DE GEVAUDAN
Mas a fera mais atroz que a França conheceu foi a besta de Gevaudan, que deixou as forças de segurança francesas de joelhos entre 1764 e 1767.
Segundo os relatos dos pouquíssimos sobreviventes, um animal monumental com traços canídeos – atacava com bestialidade suas pobres vitimas, que podem ter passado de 100. A França mobilizou soldados e caçadores para deterem a fera.
Os lobos quase foram extintos na região, tamanha a sana de executarem a fera. Aliás, um grande lobo foi abatido nessa incursão, levado ao rei, que decretou o fim da Besta.
Mas, passado um tempo, outros ataques voltaram a acontecer até que outro caçador, utilizando uma bala de prata benzida por um padre, matou outro lobo de grande porte, encerrando assim, os ataques na região. Esse foi o primeiro registro do uso de bala de pratas para matar Lobisomens.
HIPERTRICOSE
Outra síndrome genética pode explicar a descrição do arquétipo do Lobisomem: A hipertricose, que desenvolve pelos em condições excessivas e em locais não habituais nos seres humanos acometidos pela síndrome.
Essas pessoas eram preconceituosamente exploradas como aberrações em circos e eram frequentemente descritas como pessoas lobos.
LOBISOMEM NO BRASIL
Existe um lobisomem original brasuca que é o Capelobo, uma criatura que pode ser uma mistura de homem com lobo ou cachorro, mas ainda há versões dele de misturas de homens com cavalos, antas, tamanduás e porcos.
Isto porque a consagração da metamorfose depende da touceira de mato em que a pessoa encostar para se transmutar. Sim, no caso do Capelobo, se abre um canal de contato físico com o último bicho que transitou na encruzilhada, fazendo com que o homem amaldiçoado desabe e se contorça durante o processo de “vira”.
Um dos ensaios mais interessantes sobre os Lobisomens no Brasil é o de Câmara Cascudo, chamado “Licantropia Sertaneja”. O ensaio faz um diagnóstico muito interessante sobre a conformação do licantropo brasileiro destacando muito a influência do dogma católico, especialmente nas estratégias contra os ataques dos lobisomens.
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AULA BÁSICA SOBRE O LOBISOMEN BRASILEIRO:
Não há consenso na maneira de concepção do homem lobo. Há quem diga que o Lobisomem é o sétimo filho homem de uma linhagem de seis outros filhos homens. Há quem diga que o Lobisomem é o sétimo filho homem de uma linhagem de outras 6 filhas mulheres.
Neste último caso, se a primeira filha batizar o rebento, no primeiro ano de vida, antes da quaresma, a maldição pode ser quebrada, caso contrário, quando ele completar 13 anos, na primeira sexta feira da paixão, a metamorfose acontecerá e é melhor estar longe quando o adolescente virar bicho!
Também existe uma tese de que garotos nascidos na Sexta-Feira da Paixão, data da crucificação de Cristo, podem se transformar.
Essas são as possibilidades de transformações “genuínas”, mas pode haver outro tipo de forma de metamorfose, que é a de um ser humano sofrer ferimentos provocados por um lobisomem. Mas não são ferimentos comuns, há de haver contato do bichano com a vítima, tanto pelas garras, como por mordidas.
O interessante é que, neste caso, mulheres podem se transformar em feras, também, já que praticamente não há concepção original de mulheres em Lobisomens.
COMO SE LIVRAR DE UM LOBISOMEN?
O símbolo de Salomão é o instrumento mais temido por um Lobisomem.
Outro item obrigatório para espantar a criatura é a cruz manufaturada com palha santa, colhida no Domingo de Ramos.
Bala de Prata, não aconselhamos, pois, executar um Lobisomem é crime ambiental, segundo este que vos escreve! Como diria Flora Gil, você pode substituir a bala de prata por cera de vela de altar de igreja.
Aliás, nas histórias brasileiras, para ajudar um Lobisomem voltar ao seu estado humano, basta fazer um pequeno corte em qualquer lugar de seu corpinho peludo. Nada profundo, nem cruel com o bichano, hein?
Ainda em tempo, não podemos esquecer do maior gatilho da transformação de nosso monstrinho homenageado, a Lua Cheia. Ela é uma coadjuvante importante nas aparições do Lobisomem, mas não são obrigatórias para a transformação do monstro.
Talvez ela seja a grande responsável pela evidência da criatura nas noites, pois seu reflexo faz a claridade das madrugadas aumentarem consideravelmente, perto de outros estágios lunares.
Mas, eu entendo, que é impossível dissociar o Lobisomem de sua companheira Lua Cheia, por isso, essa informação consta apenas como um dado sem graça.
Thiago de Souza é compositor, roteirista e humorista, fundador do grupo “Os Marcheiros” e idealizador do projeto “O que te Assombra?”. Ele também é o criador do programa de políticas públicas para preservação de patrimônio material e imaterial chamado “saudade e suas vozes” já implementado nas Cidades de Campinas e Piracicaba.
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