28 de abril de 2024
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Vini Jr. desabafa que tem “menos vontade de jogar” devido a racismo

Jogador falou sobre impunidade e recorrência dos ataques racistas em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (25); confira

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Amistoso desta terça (26) fará campanha antirracista (Foto: CBF/Direitos Reservados)

O atacante do Real Madrid, Vinícius Júnior, alvo constante de insultos racistas, falou sobre o assunto em entrevista coletiva nesta segunda-feira (25). O brasileiro apontou que se frustra com a impunidade dos atos e a repetição consequente disso.

A conversa aconteceu às vésperas do amistoso Brasil x Espanha, quando Vinícius Jr. usará a braçadeira de capitão da seleção. O jogo também contará com uma campanha antirracista e acontecerá no estádio Santiago Bernabéu, em Madri, nesta terça-feira (26). O slogan “uma só pele; uma só identidade” estará estampado em português, inglês e espanhol em jaquetas pretas usadas por jogadores brasileiros durante o hino. (leia mais abaixo)

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Os ataques discriminatórios pautaram a coletiva e o atacante, que esteve sozinho na mesa, ficou em lágrimas ao tratar do assunto. Ao falar da forma como é tratado pela imprensa na Espanha, chorou pela primeira vez.

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“Acredito que eles [jornalistas] têm que falar menos de tudo o que eu faço de errado dentro de campo, é claro que tenho que evoluir, mas tenho 23 anos, é um processo natural, saí muito novo do Brasil, não pude aprender tantas coisas. Tenho 23 anos e sigo estudando. Por que os repórteres da Espanha, que são mais velhos do que eu, não podem estudar e ver o que realmente está acontecendo? Cada vez estou mais triste, cada vez tenho menos vontade de jogar, mas vou seguir lutando”

Vini falou que o racismo ocasiona uma menor vontade de jogar, mas que sua luta antirracista é algo que o motiva a seguir, por todas as gerações e pessoas negras, citando o próprio irmão mais novo. Disse também que, se saísse do clube, estaria dando a todos os racistas o que eles querem, mas segue lutando e fazendo história em campo para promover mudanças.

Quando questionado, para além dos ataques, sobre o jogo desta terça-feira (26) o camisa 7 mostrou-se empolgado. “Vai ser um sonho realizado para mim, poder jogar na minha casa aqui na Espanha, o Bernabéu, com a camisa da seleção brasileira, onde sempre sonhei estar. E pela primeira vez com a torcida contra. Vai ser um duelo muito importante para as duas seleções, algumas das maiores do mundo, faz tempo que não se enfrentam. A gente gosta de jogar contra os melhores, como foi contra a Inglaterra, conseguimos fazer um grande jogo”.

Trechos da entrevista

O jogador recebeu muitas perguntas ao decorrer da entrevista, e sua resposta foi a seguinte sobre os assuntos a seguir:

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Deixar o Real Madrid

“Pensei em sair, sim. Mas se saio daqui, estou dando o que querem aos racistas. Vou seguir lutando e jogando no melhor do mundo, ganhando títulos e fazendo muitos gols, para que vejam cada vez a minha cara. Sigo evoluindo para isso. Jogar futebol e fazer a alegria das minhas pessoas e de todos que vão ao estádio. Racistas sempre serão minoria. Como sou um jogador atrevido, que joga no Real Madrid e ganhamos muitos títulos, é complicado. Mas vou seguir firme e forte pois presidente me apoia, o clube me apoia, para que eu continue e possa ganhar muitas coisas”.

O que frustra mais?

“A falta das punições. Se a gente começar a punir todas essas pessoas que cometem crime e aqui eles não consideram crime, vamos começar a evoluir, tudo vai ficar melhor para todo mundo. Faço tantas denúncias, muitas vezes chegam cartas para fazerem mais denúncias, mas no final acontece como aconteceu com meu amigo em Barcelona, eles arquivam o processo e ninguém sabe de nada. Se a gente começar a punir essas pessoas, não que eles vão mudar o pensamento, mas vão ficar com medo de falar, seja no estádio, onde tem câmeras… e assim vamos diminuir isso, colocar medo naquelas pessoas. E que eles possam também educar seus filhos. Muitas vezes aqui tem criança me xingando e eu não culpo a criança, porque eles não entendem, eu na idade deles não entendia o racismo. É complicado.

No futebol tem muitas pessoas, tantos jogadores melhores do que eu que já passaram por aqui, eu quero fazer com que as pessoas no mundo possam evoluir, melhorar, que possamos ter igualdade, que num futuro próximo haja menos casos de racismo, que as pessoas negras possam ter uma vida normal, como as outras. Quero seguir lutando por isso. Se fosse por mim, eu já teria desistido, fico em casa, ninguém vai me xingar, fazer nada comigo… Eu vou para os jogos com a cabeça centrada no jogo para fazer o melhor para minha equipe, mas nem sempre é possível. Tenho que me concentrar muito todos os dias”, revelou, entre lágrimas.

Apoio dentro e fora de campo

“Quero agradecer desde já a todos os jogadores da Espanha que sempre que dão entrevista estão me apoiando, fazendo tudo para que a Espanha mude seu pensamento. Não só a Espanha, em todo lugar tem muito racismo. Espero que a gente possa fazer tudo para diminuir cada vez mais o racismo. Os jogadores da Espanha estão me ajudando muito, falando coisas que no início só eu falava. Sempre peço que Fifa, Conmebol, Uefa possam fazer mais coisas, como a CBF está fazendo, vem me ajudando para que possamos evoluir como seres humanos, para que todos possam estudar para ver o que os pretos passam e passaram. O que eu passo não é nem perto do que todas essas pessoas passaram. Eu quero lutar por aqueles que são pretos”.

*Com informações de Agência Brasil

**Sob supervisão de Marcos Andrade

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Janaína Boaventura
Estagiária no Tudo EP e a A Cidade ON, é graduanda em Estudos Literários pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Adentrou no Grupo EP em 2024 e atua nos conteúdos digitais, enfaticamente com a parte textual.
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