Desde o século 19, com a utilização das máquinas de raio-X, a tecnologia levou o paciente para o hospital. Centros de saúde se desenvolveram com o diagnóstico apoiado em equipamentos. O médico da família, aquele personagem conhecido por todos, que atendia em domicílio, agora passa a estar em um hospital.
Dois séculos depois, a modernidade trouxe novos equipamentos e procedimentos, oferecendo mais sofisticação para a jornada do paciente, desde o atendimento e trabalho até os diagnósticos mais rápidos e precisos e, claro, sem esquecer os cuidados durante todo esse processo.
Para que esta atividade aconteça de forma eficaz, a relação entre médico e paciente deve ser potencializada. Historicamente, esse contato é feito por meio de encontros pessoais: busca-se obter o maior número possível de informações não só com o diagnóstico presencial, mas também ao criar uma relação única de confiança – o que auxilia no diagnóstico e no tratamento.
A consulta presencial ainda é, hoje, de longe a forma mais comum do primeiro contato entre médico e paciente, mas o conceito relativo à sua essencialidade tem mudado, e o avanço da tecnologia é um dos motivos para essa mudança de dinâmica. Um exemplo disso é o NHS, sistema de saúde inglês, que aprovou o uso da telemedicina como primeira consulta em atenção primária. A introdução de inovações práticas na medicina tem transformado a maneira como médicos e pacientes interagem, o que tem tanto benefícios quanto desafios associados.
Presenciamos uma associação cada vez mais forte entre a tecnologia e a saúde. Para que essa mudança traga reais benefícios para a sociedade, ela exige a união entre governos, empresas, organizações sem fins lucrativos, profissionais e até mesmo pacientes, com o propósito de estabelecer um planejamento consistente que assegure qualidade e equidade no âmbito da saúde.
IA generativa na melhoria do atendimento
A chegada da Inteligência Artificial (IA) generativa, ou seja, aquela com capacidade de gerar textos e imagens em resposta a solicitações em linguagem comum, escancara uma grande janela com o intuito de humanizar o tratamento. No Brasil, já temos um sistema que permite apoiar a decisão médica e o registro das informações dos pacientes no prontuário eletrônico.
Em uma consulta, a IA é capaz de ouvir e transcrever tudo que foi falado. Desta forma, o médico não precisa ficar anotando as informações passadas pelo paciente e consegue conversar diretamente com ele, olho no olho, enquanto a IA prepara e estrutura a informação a ser arquivada no prontuário.
Assim, ela atua como se fosse um “copiloto”, podendo corrigir e atualizar o prontuário, dar sugestões de perguntas que o médico deve fazer ao paciente durante a consulta e oferecer sugestões de diagnósticos.
Ao contrário do que se possa imaginar, a adoção por máquinas e ferramentas não vai deixar o atendimento “mais frio”. Vivemos um cenário onde os profissionais da saúde gastam, em média, mais de 16 minutos por consulta para cuidar de tarefas em sistemas eletrônicos, como preenchimento de guias e solicitações administrativas. A cada hora em que realiza um atendimento clínico direto a pacientes, quase duas outras são gastas em sistemas eletrônicos ou trabalho de mesa.
Com tudo isso, 7 a cada 10 médicos concordam que os prontuários eletrônicos contribuem muito para o burnout das equipes. E 6 entre 10 acreditam que há a necessidade de uma revisão completa neles.
Ou seja, a IA generativa apenas irá tirar funções burocráticas das equipes médicas, que terão mais tempo para se dedicarem ao que realmente importa: o paciente. O reforço no julgamento clínico garante uma tomada de decisão otimizada, e ela sempre será tomada por um humano, nunca por uma máquina!
Telemedicina
Regulamentada no Brasil desde o mês de dezembro do ano passado através do Projeto de Lei 14.510/2022, a telemedicina permite a assistência médica a distância, com a interação eficiente de médicos e pacientes, mesmo estando em locais distintos.
A realização de consultas por meio de videochamadas ou plataformas de comunicação online agiliza a atuação médica e ainda permite que atestados, prescrições e até laudos dos exames sejam feitos de forma online e enviados diretamente à farmácia escolhida pelo paciente, minimizando erros.
A adoção coordenada da telemedicina também trará uma economia significativa, tanto aos pacientes quanto aos prestadores de serviços de saúde, pois o atendimento realizado de forma remota reduz custos com viagens e deslocamentos, além de diminuir a demanda por espaço físico nos consultórios e hospitais.
Tecnologias de saúde portáteis
As tecnologias de saúde portáteis incluem dispositivos, como monitores de glicose, monitores de pressão arterial, vestíveis que monitoram a atividade física (como relógios inteligentes) e aplicativos de saúde. Por meio de dispositivos conectados, a equipe médica consegue monitorar e gerenciar proativamente a saúde dos pacientes.
O aplicativo de Saúde da Apple, o Samsung Health e outros aplicativos existentes no mercado já permitem que as pessoas tenham um acompanhamento de sua própria saúde. Qualidade do sono e a prática de atividade física são calculados em tempo real e as informações colhidas podem ser compartilhadas com seus médicos. A autogestão também evidencia uma preocupação maior dos pacientes e lhes oferece um papel ativo em sua saúde.
As tecnologias portáteis, em especial os smartphones, complementam uma jornada que pode ser totalmente digitalizada, dando flexibilidade ao paciente. Este realiza o agendamento de consultas online, passa por uma consulta virtual e ainda tem a comodidade de ser acompanhado de maneira efetiva a distância.
Análise de dados e Registros Eletrônicos de Saúde (EHRs)
A adoção dos Registros Eletrônicos de Saúde (EHRs), em substituição aos antigos registros em papel, permite o armazenamento, a recuperação e a modificação segura dos históricos de saúde dos pacientes. Desta maneira, a tomada de decisões terá maior eficácia.
Tecnologias de Big Data e IA podem extrair insights dos dados de saúde com a análise de prontuários eletrônicos. Estas ferramentas permitem identificar tendências de saúde em uma população e até o uso de algoritmos de aprendizado de máquina, com o objetivo de prever o risco de doenças em um indivíduo.
Contudo, para que esta solução seja realmente eficiente, é preciso fazer com que os dados estejam estruturados, evitando informações incompletas e desencontros. Eles precisam ser convertidos em um único padrão ao trafegar de forma padronizada.
Assim, por exemplo, se o paciente comunicar a alergia a determinado medicamento, os médicos terão acesso a esta informação e não irão utilizar determinado remédio, mesmo se ele chegar desacordado a um pronto-socorro.
O que vem a seguir
A tecnologia tem sido uma aliada na evolução dos serviços de saúde, desempenhando um papel cada vez mais central na melhoria dos serviços e proporcionando avanços significativos. Entre eles, está a relação entre médico e paciente, que vem se transformando, especialmente nos últimos anos, após a Covid-19.
O acesso a informações médicas online está empoderando os pacientes a buscar conhecimento sobre suas condições, tornando a relação médico-paciente mais colaborativa.
A confiança e empatia nessa relação continuam sendo inegociáveis. As novas ferramentas vão otimizar o atendimento, economizar recursos e proporcionar uma abordagem mais personalizada à saúde para aprimorar o atendimento, mantendo sempre o foco no bem-estar e na saúde do paciente.
Por André Cripa, diretor de inovação e produtos da CTC. | Itshow