Entre os dias 9 e 15 de junho deste ano, imagens inéditas de onças foram capturadas por pesquisadores na Serra dos Toledos, em Itajubá (MG).
Pelas gravações, foi possível identificar uma onça pintada (Panthera onca) de grande porte e mais quatro espécimes: uma jaguatirica (Leopardus pardalis) e três onças pardas (Felis concolor).
A responsável pela pesquisa, Talita Nazareth de Roma, atua na Reserva Biológica da Serra dos Toledos, em Itajubá, desde 2017. Roma faz parte do Laboratório de Educação Ambiental e Sustentabilidade (Leas) da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e, sob a orientação da professora doutora Daniela R. T. Riondet-Costa, realiza a observação da fauna e flora na reserva biológica.
Mestre em Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela Unifei e especialista em Gestão Ambiental pelo Instituto Federal (IFSULDEMINAS), Talita já conseguiu catalogar 34 espécies da fauna pertencentes à Serra dos Toledos.
Para realizar o trabalho investigativo nos mais de mil hectares da reserva caracterizada como Mata Atlântica, a pesquisadora faz uso de máquinas com sensores infravermelhos e também de movimento. “Chamamos de armadilhamento fotográfico. Como a maior parte dos animais se alimenta à noite, é preciso deixar o equipamento preparado para a captura das imagens”, explica.
Ainda, Talita diz que o trabalho não é simples e requer cuidados com a segurança. “Nosso equipamentos possuem GPS para mapeamento do local, porém o localizador acaba servindo como ferramenta de segurança”, diz.
Ela afirma que as incursões ao local são sempre muito bem planejadas e conta, inclusive, com o próprio marido para fazer a segurança das expedições. “Não é recomendado, de modo algum, adentrar a mata sozinho. A serra é muito irregular, de difícil acesso, e a caminhada pode causar acidentes”, orienta.
Talita também explica que, no geral, os animais fogem de medo, mas as onças, não. Há também a questão dos caçadores”, comenta.
Segundo a pesquisadora, a caça, infelizmente, é prática recorrente na Reserva dos Toledos. “Além de já ter me deparado com homens portando facões e armas de fogo, também já identifiquei restos mortais de animais decapitados não provocados por predadores naturais”, denuncia.
A caça, além de ilegal, ainda prejudica o trabalho de Talita. “Já tive equipamentos furtados. Certa vez, duas câmeras instaladas em árvores enormes sumiram. As árvores haviam sido cortadas por moto serra”, lamenta.
Ela ainda pede que a caça seja denunciada. “É ilegal e prejudica a todos nós, pois esses felinos são predadores naturais de javaporcos que se proliferaram demais e causam prejuízos às plantações e criações”.
Sul de Minas
A pesquisadora explica que a região do Sul de Minas, como um todo, tem registros de diversos felinos como as onças parda e pintada, jaguatiricas e gatos do mato. “Há, inclusive aqui na região, o relato de uma onça parda leucística. Como é um animal absolutamente raro, não divulgamos o local da aparição por questões de preservação desse felino”, diz Talita.
Segundo ela, o leucismo é uma anomalia genética cromática que deixa o pelo do animal totalmente branco. No Brasil, o primeiro registro e até então único, foi no Parque Nacional Serra dos Órgãos (Parnaso), em Petrópolis, no ano de 2013.
Grandes felinos
Sobre os grandes felinos identificados na pesquisa, é possível estimar o peso, mas a variação da idade, com observação, somente é possível dizer se é jovem ou adulto. Os machos são maiores que as fêmeas e podem chegar a 1,7 metros de comprimento a partir do final da cauda até o focinho.
Em relação ao peso, os felinos têm entre 35 kg podendo chegar a 160 kg. Uma curiosidade é que as onças do Pantanal são maiores que as encontradas aqui. Cada gestação dura em média de 90 a 115 dias e os animais chegam a 15 anos de idade em vida livre. A dieta desses mamíferos é composta por répteis, aves e até grandes animais como antas, queixadas, veados, jacarés, porcos-do-mato e capivaras.
Preservação
Segundo Talita, as Reservas Biológicas pertencem à categoria de unidades de conservação de proteção integral. “O objetivo é a preservação total dentro de seus limites, sem interferência humana, exceto nos casos de recuperação. São de posse e domínio públicos, porém é proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo científico e educacional, de acordo com regulamento específico”, comenta.
Ela completa: “A proteção desses animais é deixar eles onde estão. É preciso se conscientizar que a proteção do meio ambiente é um dever fundamental de todos nós. Faz parte da Constituição, até. O art. 225 diz que o poder público e a coletividade têm o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.