Imagine um sujeito dirigindo um carro numa viagem de São Paulo para Belo Horizonte. São praticamente 600 km de viagem.
Quem conhece a rodovia Fernão Dias (BR-381) sabe que é uma estrada perigosa. Acho que eu nunca viajei por ali sem ver um caminhão ou um carro acidentado durante o meu trajeto.
Pista dupla, asfalto com irregularidades, tráfego pesado de caminhões, serras com longos aclives e declives, curvas acentuadas e com pouca inclinação. Lembra da força centrífuga, das aulas de física? Ali você aprende na prática.
Esse sujeito pode fazer a viagem de duas formas:
1) Trafegando numa velocidade de segurança, recomendada pelas placas indicativas, onde nos melhores trechos você não pode ultrapassar os 110 km/h; ou
2) Trafegando sempre no limite do carro, ultrapassando os 110 km/h em quase todo o trajeto e abusando das curvas (tentando inclusive fazer algumas a mais de 110 km/h).
Na primeira opção, o sujeito faria o trajeto numas 9 horas de viagem, se não fizer nenhuma parada. Na segunda opção, ele levaria entre 5 e 6 horas.
Então ele escolhe a opção 2. Tem pressa de chegar. E adivinha o que acontece durante a viagem? Nada. Ele termina com sucesso, sem acidentes, sem multas, e bem mais rápido.
Sabe qual é o problema dessa escolha e de ter dado tudo certo? Agora o sujeito acha que ele é bom no volante.
Acha que se deu certo uma vez, vai dar certo de novo. E assim vai. Dirigir perigosamente e em alta velocidade, passa a ser um padrão para ele.
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Das estradas para os investimentos
Trazendo essa situação das estradas para o mundo dos investimentos, é assim que a gente descobre um “investidor” que está prestes a detonar com o seu próprio dinheiro.
Esse tipo de investidor quer ganhar dinheiro rápido. Não tem paciência para gerenciar os riscos, porque isso implica em rentabilidades menores.
Ele quer ganhar muito, e num espaço curto de tempo. Então arrisca muito, e logo acontece o pior: dá certo!
Agora ele pensa que domina o assunto. Então aumenta as apostas. E como o risco é mal gerenciado, uma hora ele é pego de surpresa por uma situação inesperada, que poderia ter sido evitada, se não fosse pela visão de curto prazo já formada.
Resultado: perde boa parte do que conquistou, quando não é o caso de perder tudo mesmo. Eu prefiro ficar com a frase de Napoleão Bonaparte: “vamos devagar, pois eu tenho pressa”.
[Esse texto foi inspirado num trecho escrito por Benjamin Graham, um dos maiores investidores de todos os tempos, em seu famoso livro “O Investidor Inteligente”].