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BairrosFeira Hippie em Campinas: confira histórias deste fenômeno no Cambuí

Feira Hippie em Campinas: confira histórias deste fenômeno no Cambuí

Há 50 anos, Feira Hippie é repleta de arte, serviços e boas histórias em Campinas; Conheça algumas histórias

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Havia uma sequência impressionante de quadros pintados ao longo de um pedacinho da imensa Praça Imprensa Fluminense, no Cambuí, em Campinas. Os quadros mostravam festa, eles mostravam paisagens e muitos instrumentos. De certa maneira, as obras feitas pelo artista plástico Nelson Theodoro traduziam um pouco da essência da famosa “Feira Hippie”.

A história da “Feira de Artes, Artesanato, Antiguidades, Quitutes e Esotéricos”, ou simplesmente “Feira Hippie”, é longa. Os primeiros registros de atividades semelhantes ao que há atualmente no Cambuí são de 1973. Nelson não é desse ano, mas ele pegou a primeira fase deste fenômeno na cidade.

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“Eu estou na feira, simplesmente, há 46 anos. Ela começou no Largo das Andorinhas, em frente à Prefeitura, e tem 50 anos”, explica. O nome faz referência aos primeiros hippies que tiveram a iniciativa de vender alguma arte na cidade. O movimento, testemunhado em diversos territórios do Brasil, durante a década de 60 e 70, encontrou em Campinas uma oportunidade de prosperar.

“Isso tudo começou, de fato, com os hippies. E eles estão ainda na Feira. Atualmente, tem só uma pessoa que é remanescente. Ele se chama Erasmo”,

explicou Nelson.

OS PRIMEIROS ANOS DA FEIRA HIPPIE

Mural na barraca de Erasmo traz um apanhado histórico da Feira Hippie (Foto: Tudo EP/ Anthony Teixeira)

No outro lado da Praça, Erasmo estava concentrado em um serviço. Com os óculos no rosto, ele buscava ajustar a fivela de um cinto de couro. Acima dele, em um painel, havia uma fotografia pendurada. Em preto e branco, a imagem mostrava dois homens sentados sobre um pano, com algumas artes espalhadas em uma superfície no chão. Eles olhavam à câmara, atentos ao registro.

“O Edson já faleceu. Ele foi o meu primeiro amigo em Campinas, quando eu vim de São Paulo”, explicou, em outro momento, Erasmo – que, na fotografia, está sentado ao lado direito de Edson. Segundo o artesão, os dois foram um dos primeiros e revela que houve apoio da população. “Os moradores de Campinas tinha a cabeça para essas coisas”, diz.

“Na época, a gente fez uma enquete no Largo do Rosário para saber se o povo era a favor ou não da Feira e o sim ganhou”, explica. Durante a trajetória em Campinas, diversas pessoas, de fato, ajudaram de alguma maneira o movimento, como, por exemplo, o jornalista do extinto jornal Diário do Povo, Clodomiro Lucas.

“Teve episódios que alguns oficiais confiscaram o nosso material e esse Clodomiro ajudou muito, ele foi o primeiro coordenador da feira”,

lembra.

A Feira Hippie é um fenômeno. Ela representou um movimento revolucionário cultural e artístico no passado e ajudou inúmeras pessoas a crescerem. O artista plástico Nelson Theodoro revelou que, ainda na década de 70, abandonou a profissão de torneiro mecânico para se dedicar às artes. “Eu fiz disso uma vida. São 46 anos. Eu formei os meus dois filhos em faculdades com o dinheiro da Feira Hippie”.

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Já Erasmo diz que, atualmente, o movimento hippie continua existindo, só que diferente de seu auge. “A gente hoje é mais artesão do que hippie. Ser hippie era um ideal, era muita das ideias”. Atualmente, de acordo com um levantamento da Prefeitura, há cerca de 300 feirantes.

CONQUISTAS AO LONGO DOS ANOS

Erasmo em frente ao painel que resgata a história da Feira Hippie em Campinas (Foto: Tudo EP/ Anthony Teixeira)

Ao lado dos feirantes, a Asecco (Associação dos Expositores do Centro de Convivência) já realizou inúmeros trabalhos em prol da visibilidade e melhorias da exposição. Em 2018, a associação conseguiu tombar a feira como patrimônio estadual. “Protocolamos junto ao Deputado Estadual Gustavo Petta um documento pedindo que ele entrasse com processo de Tombamento da Feira Hippie junto ao Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo). E, depois de apenas quatro meses, a nossa Feira é reconhecida como patrimônio cultural imaterial pelo Governo do Estado de São Paulo”, explica Marcelo Bonifácio, que é membro da Asecco.

Marcelo explica que houve outras conquistas ao longo dos anos, como por exemplo, a adoção de banheiros públicos na praça, a remoção de itens deteriorados no espaço, como a rampa de acessibilidade em estado crítico, e, também, a “passagem de pedestres entre os canteiros de jardim da praça, que causava acidentes, foi resolvida pela nossa atuação”, diz o membro da associação..

Seja como for, no Cambuí, o movimento se transformou em um símbolo do bairro. Trata-se de um local de encontro, um ponto onde a música, a arte e a convivência se encontram em uma interessante harmonia, tal qual, uma pintura.

“Não tem lugar melhor, sabe? O Centro de Convivência é para conviver com todo mundo mesmo. Com várias artes e culturas”,

diz Erasmo, que, sorridente, voltou ao trabalho com fivelas e couros.

DATAS IMPORTANTES DA FEIRA HIPPIE

Segundo um levantamento disponibilizado no site oficial da Prefeitura Municipal, as principais datas da história da Feira Hippie, em Campinas, são:

1973 Neste ano, houve o registro da comercialização de bijuterias e roupas dos primeiros hippies na cidade. Eles se concentravam no Largo da Andorinha, próximos ao Paço Municipal;

1975 Com a chegada de novos feirantes, houve a necessidade de realocação de espaço. Dessa maneira, a feira se deslocou ao Largo do Rosário. Entre os feirantes, haviam aqueles que não faziam parte do movimento cultural, mas que possuíam algum trabalho para ser comercializado;

1977 – Com a popularização cada vez maior da feira, a Prefeitura Municipal oficializou o evento e transferiu a feira para a Praça Carlos Gomes;

1980 – Neste ano, devido a uma onda de desemprego e, consequentemente, maior interesse pela feira, a Prefeitura criou mecanismos para seleção de candidatos oficiais. Esse procedimento continua vigente até os dias atuais;

1983 Foi neste ano que a feira se deslocou à Praça Imprensa Fluminense, no bairro do Cambuí, para suprir a necessidade de mais espaço e conforto aos feirantes;

1987 – O projeto no Cambuí foi desarticulado e passou a funcionar apenas na Praça Carlos Gomes;

1991 – A feira passa a funcionar aos domingos na Praça Carlos Gomes, por causa de sua crescente popularidade;

1997 – A Praça Carlos Gomes passa por uma reforma e a feira volta, por uma segunda vez, a funcionar na Praça Imprensa Fluminense;

2004 – Neste ano, houve uma reforma na Praça Imprensa Fluminense e a feira passou a funcionar na Estação Cultura. Em 28 de agosto de 2004, a feira voltou ao Cambuí, lugar que permanece até os dias de hoje.

SERVIÇO

O quê: Feira Hippie;

Quando: Sábado e Domingo;

Onde: Centro de Convivência.

Vozes da Nossa Gente

Essa matéria faz parte do Projeto “Vozes da Nossa Gente”, que tem como foco no jornalismo hiperlocal e busca uma maior conexão com a comunidade. O “Vozes da Nossa Gente” pretende inspirar com boas histórias, que são contadas de maneira humanizada pelos moradores de dez bairros da cidade.

A cada duas semanas, uma região será o foco das pautas desenvolvidas pela equipe de jornalismo do portal, que produzirá, para cada região visitada:

  • Matérias especiais que serão publicadas no ACidade ON Campinas
  • Conteúdos interativos, que serão postados nas redes sociais do portal
  • Um mini documentário que será disponibilizado no canal do ACidade ON no YouTube.
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Anthony Souza
Anthony Souza
É jornalista e analista de Mídias Digitais Jr. do Grupo EP. Tem experiência com reportagens multimídia e produção de web documentário. É formado em jornalismo pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e tem afinidade com produção e edição de conteúdo para as redes sociais. Está no grupo desde 2022.
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