No noroeste de Campinas, o bairro Cidade Satélite Íris ganha destaque pela volumetria populacional. O loteamento ganhou intensidade de moradores a partir da década de 1970. Segundo dados levantados pelos pesquisadores da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Pedro Copola e Cristina de Campos, a população da Região do Campo Grande – lugar que hoje está a Cidade Satélite Íris – no início da década de 1970 era de 1.000 habitantes, passando a ter no início da década de 1980 mais de 32.000 habitantes.
De acordo com os pesquisadores, no artigo “Políticas de Planejamento Urbano em Campinas: um estudo de caso sobre o bairro Cidade Satélite Íris”, publicado em 2017, a região passou por um processo intenso de ocupação sem que houvesse infraestrutura adequada para comportar tantas pessoas. A falta de políticas urbanas no final do século passado refletem hoje em reivindicações por melhor qualidade de vida por parte da comunidade.
Claudineia Dantas está no bairro há 7 anos e tem uma opinião sobre como é morar na Cidade Satélite Íris. “Não tem muito tempo que eu moro aqui, mas eu vejo que tem muita coisa que precisa melhorar”. Claudineia descia a Rua Pastor Samuel de Campos Chiminazzo, conhecida por abrigar a Igreja Batista Satélite Íris. Na avaliação da moradora, a principal reivindicação são melhorias nos postinhos de saúde.
O bairro conta com dois centros de saúde à comunidade. O primeiro está localizado na Rua Reverendo José Coelho Ferraz, no Satélite Íris I, e o segundo, na Rua Ana Monteiro Erbetta, no Satélite Íris II. Em nota, a Secretaria de Saúde informou que o Centro de Saúde Satélite Íris I conta com uma “equipe estruturada e dimensionada”. “Além do médico pediatra, crianças podem ser atendidas pelos médicos de Saúde da Família e pelas equipes multidisciplinares”, escreveu.
Para a moradora Claudineia, sobretudo, faltam profissionais para o atendimento.
“Você chega lá [Centro de Saúde] de manhã para um atendimento médico e não consegue. Você leva a criança e consegue. Eu tenho duas crianças e eu não consigo fazer um exame de rotina nelas porque, no posto, nunca está marcando pediatra”,
diz.
A Prefeitura ainda informou que, desde 2021, 438 médicos foram admitidos para reforçar as equipes da rede municipal.
“A Saúde Digital está funcionando em todos os Centros de Saúde com a oferta de 500 teleconsultas semanais”,
afirmou.
Ela também explica que, embora haja transporte público satisfatório no bairro, ainda falta ajustar um horário melhor. “Eu moro lá embaixo. Eu desço aqui, desço a pé porque demora uma vida para passar lá embaixo”. A rotina de Claudineia é corrida. Ela pouco fica no bairro e sente que perde mais tempo em deslocamento para o trabalho. “Eu acho que aqui deveria ter mais praças também, mais opção de lazer para a população”.
No bairro, a linha de ônibus que circula é a 231. De acordo com a EMDEC (Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas), a linha “possui quatro ônibus vinculados à frota, com intervalos entre as viagens, nos horários de pico, de 25 minutos”. A empresa ainda informou que a “frota está dimensionada de acordo com a atual demanda de passageiros”.
TRANSFORMAÇÕES NO BAIRRO
Rose Batista é moradora há mais de 25 anos do bairro. Ela já observou algumas transformações no Satélite Íris e reconhece que muitas melhorias já chegaram na região. “Ônibus era bem ruim e faltava muita coisa. Quando eu vim morar aqui, só tinha um barzinho para fazer compras. Então, era a única opção. Hoje, já temos mais opções. Então, assim, [o bairro] cresceu neste sentido”, diz.
Dona Rose é costureira e trabalha em casa. Ela não precisa enfrentar a rotina dos ônibus, mas explica que já teve que encarar o desafio de depender do transporte público.
“E era assim, se você caísse lá dentro, você não tombava de tanta gente que estava ali dentro”,
explica.
“Aqui não tem muito o que apresentar para quem vem de fora. A gente tem a rua do ônibus ali em cima, a gente tem a igreja, mas não tem uma praça para ficar”, revela. No Satélite Íris, ela diz que pegou a época em que tudo era estrada de terra.
“A John Boyd Dunlop, por exemplo, era só barro. Mas melhorou, viu? Comparado ao que era antes, melhorou sim”.
Para a pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Mayra Abboudi Brasco, na dissertação “Os rearranjos espaciais na Região Noroeste de Campinas/SP: A Expansão Urbana na Periferia”, de 2022, mesmo com as mudanças na principal avenida que corta o bairro de ponta a ponta, os moradores ainda sofrem com buracos e acidentes. “Há buracos, problemas de sinalização, asfalto afundando, além da ausência de ciclovias, o que acaba por vitimar muitos ciclistas”, escreve.
Em julho deste ano, sobretudo, a Prefeitura ampliou o sistema cicloviário e uma das áreas contempladas foi nas proximidades do Terminal BRT Satélite Íris. O trecho faz parte do eixo da avenida John Boyd Dunlop e, de acordo com a gestão do município, a entrega promove a “integração, dando continuidade à ciclovia/ciclofaixa Jardim Florence/Pirelli”.
Vozes da Nossa Gente
Essa matéria faz parte do Projeto “Vozes da Nossa Gente”, que tem como foco no jornalismo hiperlocal e busca uma maior conexão com a comunidade. O “Vozes da Nossa Gente” pretende inspirar com boas histórias, que são contadas de maneira humanizada pelos moradores de dez bairros da cidade.
A cada duas semanas, uma região será o foco das pautas desenvolvidas pela equipe de jornalismo do portal, que produzirá, para cada região visitada:
- Matérias especiais que serão publicadas no ACidade ON Campinas
- Conteúdos interativos, que serão postados nas redes sociais do portal
- Um mini documentário que será disponibilizado no canal do ACidade ON no YouTube.