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BairrosSementes do Amanhã: a importância dos centros educacionais e projetos de desenvolvimento infantil no Monte Cristo

Sementes do Amanhã: a importância dos centros educacionais e projetos de desenvolvimento infantil no Monte Cristo

Cerca de 1,4 mil adultos e crianças foram impactados pelo projeto ‘Verdejando Escolas’, da CoCriança em parceria com a Fundação Feac. Descubra a história de uma das instituições beneficiadas por essa iniciativa

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“A Jasmim adora. Chega em casa e fala sobre como foi seu dia e o que aprendeu. Ela sempre diz que gosta de estar aqui”, afirma Júlia Nascimento, moradora do Jardim Monte Cristo, assistente administrativa e mãe de Jasmim, de 2 anos. Júlia se refere ao IESA (Instituto Educacional Sementes do Amanhã), uma Organização da Sociedade Civil localizada na região do Complexo OMG (Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Gleba B), onde sua filha está matriculada desde o início do ano. Além de oferecer um espaço didático adequado para crianças na faixa etária da primeira infância (de 0 a 6 anos), o IESA recebeu uma novidade em abril. Por meio do projeto “Verdejando Escolas: Cocriação de Espaços Naturalizados com a Primeira Infância”, da Fundação FEAC e da CoCriança, a instituição ganhou uma renovação em sua área verde.

A creche e pré-escola Sementes do Amanhã tem uma história recente em um bairro que já soma 26 anos de existência. O instituto, localizado na Avenida Carlos Stella Neto, nasceu por meio de uma vontade comunitária dos moradores. “Em 2019, começamos com apenas uma criança matriculada”, afirmou Mariana Costa, diretora do IESA. O edifício já foi um posto de polícia, de saúde, centro comunitário e, durante alguns anos, ficou sem atividades.

“Era um espaço que não estava sendo utilizado. E a gente se uniu para discutir o que poderia ser feito para melhorar no bairro”,

diz Mariana.

Entre muitas ideias, os moradores concordaram que a criação de mais um espaço para abrigar crianças seria o melhor caminho. “Aqui no bairro, tínhamos duas escolas que atendiam cerca de mil crianças, e os próprios moradores indicaram que isso não era suficiente. Precisávamos de mais uma instituição”, lembrou a diretora.

Em 2023, uma nova conquista foi alcançada: foi firmada uma parceria com a secretaria de Educação de Campinas. Desde então, o sonho de construir uma educação de base forte e fortalecer o senso comunitário no bairro permanece vivo entre profissionais e familiares. Em 2024, por exemplo, a novidade foi a renovação do espaço verde, realizada em conjunto com crianças, professores e arquitetas especializadas.

Um novo começo

Espaço verde revitalizado do IESA em parceria com a CoCriança e a Fundação FEAC (Foto: Anthony Teixeira)

Alice tem quase 6 anos e é enfática quando o assunto é sobre os espaços preferidos na creche. “Eu gosto de brincar com o meu amigo no parque”. Para o pai dela, André Oliveira, espaços como esses, em que a filha e tantas outras crianças passam horas brincando, são fundamentais. “Assim como a Alice, a creche começou bem pequenina, como uma criança quando cresce. Você vê que ela desenvolveu muito. Ficou muito legal! É um exemplo para a rede pública, no aspecto de crescer e desenvolver as coisas”.

Um aspecto importante do “crescer e desenvolver” refere-se ao projeto “Verdejando Escolas”, desenvolvido pela Organização da Sociedade Civil CoCriança em parceria com a Fundação FEAC. O objetivo do projeto foi aproximar as crianças da natureza por meio da revitalização dos pátios de três instituições na periferia de Campinas, impactando diretamente 520 crianças e 28 educadoras entre junho de 2023 e junho de 2024. O projeto também incluiu seis encontros de formação para o corpo docente, focando na cocriação e execução das atividades.

No total, o “Verdejando Escolas” renovou uma área de 548 metros quadrados nas três escolas contempladas: Associação Douglas Andreani e Instituto Educacional Sementes do Amanhã, ambas no Jardim Monte Cristo, e Espaço Infantil Corrente do Bem, no bairro Vila Brandina.

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Camila Audrey é a atual diretora de projetos da CoCriança, ela ressalta detalhes da metodologia “Percurso CoCriança” (Foto: Acervo)

Camila Audrey é arquiteta, urbanista, formada pela USP (Universidade de São Paulo), e é a atual diretora de projetos da CoCriança. “A minha função principal é pensar em formas de co-criar nossas possibilidades de mundo, que valorizem as infâncias. Isso significa desenvolver projetos que possam impactar positivamente as crianças em situação de vulnerabilidade, trazendo a cocriação e a participação das crianças para o centro desse processo”, explica.

Ela foi uma das arquitetas envolvidas na cocriação dos espaços verdes das instituições de Campinas e diz que a iniciativa surgiu da necessidade de reaproximar as crianças da natureza em regiões urbanas vulneráveis. Foi então que nasceu a metodologia “Percurso CoCriança”, em 2017, que traz a premissa da participação, codesign e processo de cocriação junto às crianças. Metodologia essa que foi aplicada no projeto em Campinas. ”Além disso, o Verdejando Escolas veio para ampliar e aprimorar o edital ‘Novo Olhar’ da Fundação FEAC, que já trazia o desejo de proporcionar mais espaços verdes dentro das escolas e incentivar que as crianças brincassem mais ao ar livre”.

Nas instituições, Camila explica que as dinâmicas foram adaptadas a cada realidade. No Sementes do Amanhã, por exemplo, ela lembra que as crianças trouxeram contribuições criativas e práticas nas dinâmicas realizadas junto com as professoras. “As principais necessidades que a gente percebeu das crianças foi ter o desejo do espaço de liberdade e de interação com elementos naturais. Desde o início, elas pontuaram o gramado e o tanque de areia que já existiam lá como algo que eram os elementos preferidos delas nas escolas e também já trouxeram a necessidade de horta, a vontade de ter horta, traziam muitas representações de insetos, de bichinhos e a gente percebeu também que elas não buscavam esses espaços só para brincadeiras ativas, mas também espaços de refúgio e tranquilidade”.

Tatiane Zamai, gerente de fortalecimento das organizações da sociedade civil e do ecossistema social de Campinas da Fundação FEAC, diz que projetos como esse são fundamentais para permitir mais acesso às crianças em situação de vulnerabilidade no contexto urbano. “Quando a gente fala de crianças que moram na periferia, os acessos são muito mais limitados ao contato com a natureza ao estar ao ar livre, então, as crianças ficam muito voltadas às telas”.

Por isso, enquanto Fundação Feac, ela diz que há uma preocupação em investimentos sociais. “A gente desenvolve [esses projetos] junto com alguém ou muitos alguém, com muitas pessoas. Então, é criada, com muitas mãos, a partir de muitas mentes. Então, o parceiro técnico nesta primeira edição foi o CoCriança que desenvolveu ali na ponta junto com as crianças toda a metodologia, fez todo o processo, todo o reconhecimento do espaço, fez todos os encontros, as oficinas, as reuniões de acompanhamento”.

Um acompanhamento repleto de aprendizagens

Novos espaços construídos foram pensados por arquitetas, professoras e pelas crianças (Foto: Anthony Teixeira)

A professora Suyene Pabllyne acompanhou, como mediadora, as arquitetas e as crianças nos encontros de formação do corpo docente e nas dinâmicas de cocriação. “Através das dinâmicas e dos desenhos, fizemos uma investigação para saber qual era o interesse das crianças”, lembra. “Tudo o que elas queriam era ver além dos muros, pediram bastante flores e abelhas e tudo o que foi feito aqui”.

Para a pedagoga Patrícia Torres, especialista em Educação Infantil e Neuropsicologia, formada pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), um “espaço verde” pode ser caracterizado como todo ambiente com plantas, ar puro e oportunidades para brincadeiras. Nas escolas, ambientes como esses promovem o “desemparedamento” da infância.  

“Muitos estudos demonstram que estar em contato com a natureza proporciona um desenvolvimento adequado para bebês e crianças, reduzindo o nível de estresse, além de aumentar a criatividade, propiciar autonomia, favorecendo o desenvolvimento corporal, emocional e cerebral com reflexos positivos para toda vida”,

afirma.

A fala de Patrícia vai ao encontro de uma pesquisa feita pela organização britânica Wildlife Trusts, a “Nature Nurtures Children – A summary of research for The Wildlife Trusts” , que envolveu 451 crianças entre 8 e  9 anos. Embora a faixa etária pesquisada condiz com outra fase da infância (terceira infância), é importante para ilustrar os benefícios que o contato à natureza têm no desenvolvimento infantil.

No estudo, foi identificado que campos como bem-estar e saúde tiveram benefícios expressivos, além de alto nível de satisfação e sentimento de integração com o mundo. Além disso, 90% dessas afirmaram que puderam aprender algo novo e outras 79% disseram que a experiência as auxiliou em trabalhos escolares. Já 81% pontuaram que a relação com os professores melhorou. (Você confere a pesquisa completa por este link).

Por outro lado, um estudo feito pelo Espaço Crescer e Vencer e pela Fundação Feac, em 2023, revelou que, quase todas as crianças participantes (81,7%) não moravam em domicílio com área verde, além de 79% das crianças terem contato com a natureza apenas uma ou duas vezes na semana; 15% não terem contato algum com áreas verdes; 38% não terem quintal com área verde e 73% das crianças estarem expostas a adversidades quando brincam ao ar livre no bairro onde moram. (Você confere a pesquisa completa por este link).

Respeito à criança

Jasmim, 2 anos, é uma dos 1.724 alunos matriculados nas instituições educacionais localizados no Complexo OMG, de acordo com a Prefeitura (Foto: Anthony Teixeira)

Suyene tinha mostrado cada cantinho do novo parque. Apontou ao escorregador, às plantas, à torre e à colmeia de abelhas – que inclusive, estavam lá, voando em harmonia pelo ambiente.

“Elas queriam ver além dos muros, pediram bastante flores e abelhas e tudo o que foi feito aqui… Tudo o que foi feito aqui, que foi construído, foi o pedido das crianças através dos desenhos e da roda de conversa que tivemos”, diz.

Camila complementa ao dizer que notou uma necessidade das crianças por estruturas mais altas, de forma que pudessem ter mais liberdade no ato de brincar ao ar livre. “Uma coisa muito curiosa das crianças do Sementes do Amanhã, era sobre o quanto elas faziam elementos muito simétricos e altos [nos desenhos e maquetes]”, diz. “Nos desenhos, elas representaram muito escadas, nas maquetes que a gente fez, elas representavam muitos elementos verticais, totens, até com simetria”.

“Quando as crianças participam ativamente da construção dos projetos, elas se sentem pertencentes e valorizadas. Isso fortalece a sua autoestima e desenvolve habilidades de comunicação e empatia”, afirma Patrícia. “Projetos inclusivos refletem a diversidade e promovem um ambiente de respeito e acolhimento para todos”. 

“O meu sonho é que elas cresçam saudáveis e felizes, independente da profissão que elas escolherem, mas que sejam pessoas boas para a sociedade e que possam carregar valores”,

conclui Suyene.

Alguns dados sobre a educação no Complexo OMG

Em uma região de 1.621.661 m² e com uma estimativa de 12.142 pessoas, em 2022, de acordo com os dados da Prefeitura, com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), temas como saúde, lazer, segurança e educação são pautas recorrentes no Complexo OMG (Parque Oziel, Jardim Monte Cristo e Gleba B). 

Embora seja uma região grande, não se sabe ao certo quantas são as crianças, na faixa da primeira infância, que moram na região. Sobretudo, segundo a secretaria de Educação, sabe-se que há 1.724 alunos matriculados nas creches (30,6%), na Fumec (Fundação Municipal para a Educação Comunitária) (1,1%), no Ceprocamp (Centro de Educação Profissional de Campinas) (3,7%) e outros (64,6%). Dessas, 33,2% estão matriculadas no período matutino; 30,7%, no período diurno; 30,6%, no período noturno e 5,5% em tempo integral. Além disso, 49,7% são do sexo masculino e 50,3%, do sexo feminino.

O futuro do Verdejando escolas e os 60 anos de FEAC

A próxima edição do “Verdejando Escolas” ainda não tem uma data para ser divulgada, mas segundo Tatiane, deve ser lançada em breve. “Ao invés de três escolas, muito provavelmente, serão seis escolas. Nós estamos fechando uma coalizão de parcerias com outros institutos e organizações. Nós temos a Fundação Feac, nós temos o Instituto Arcor, nós temos o Tecendo Infâncias. Então, serão 5 escolas de Campinas e 1 escola em Itu”. 

“As crianças da periferia, as crianças de famílias negras, elas não têm as mesmas oportunidades que outras crianças de famílias que têm poder aquisitivo maior”, complementa.

“Esse bem-estar equitativo, que é muito importante para a Feac, acontece porque o mesmo direito que parte das crianças tem, as crianças que vivem nas periferias também têm”. 

A Fundação FEAC completou 60 anos em 27 de abril de 2024 e, apenas nos últimos 20 anos, já investiu mais de 300 milhões em projetos e impactou mais de 400 mil pessoas em situação de vulnerabilidade na RMC (Região Metropolitana de Campinas). Em um vídeo institucional, a Fundação informa que tem parceria com mais de 150 OSC. Apenas na primeira edição do Verdejando Escolas, cerca de 1400 pessoas foram impactadas indiretamente impactadas com o projeto.

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Anthony Teixeira
Anthony Teixeira
É jornalista e Analista de Mídias Digitais Jr. do Grupo EP. Tem experiência com reportagens multimídia e produção de web documentário. É formado em jornalismo pela Universidade Federal do Pampa (Unipampa) e tem afinidade com produção e edição de conteúdo para as redes sociais. Está no grupo desde 2022.
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