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BairrosVila Industrial: Conheça histórias de moradores do bairro

Vila Industrial: Conheça histórias de moradores do bairro

Na Vila Industrial, um punhado de casas tombadas abriga moradores com histórias extraordinárias; conheçam alguns moradores

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A casa de dona Luzia Cordeiro Pereira fica no beco, ou melhor, na Travessa Manoel Dias – um dos primeiros agrupamentos de casas da Vila Industrial, em Campinas. Além de residente de uma das mais antigas localizações do bairro, Luzia também tinha uma padaria. “Eu tenho 76 anos, eu tive a primeira padaria em Hortolândia, mas mudei para a Vila depois que o meu filho nasceu”, revela.

Na Vila Industrial, Luzia construiu uma história. Ela fez um bom relacionamento com os vizinhos e criou toda uma família. Sentada nos degraus da casa da Travessa, ela suspirava, relembrando os tempos da padaria na rua de trás. “Teve tempos difíceis, sabe? Nós contraímos algumas dívidas trabalhistas e acabamos fechando na pandemia”, revela.

A realidade da empreendedora não é isolada. De acordo com dados da Prefeitura de Campinas, em 2020, 3.070 negócios fecharam as portas em Campinas por causa das restrições exigidas para o combate à covid-19. A trajetória atual da moradora da Travessa está também ligada às dificuldades daqueles tempos. Até a pandemia, o comércio de Luzia, que continua sendo lembrado pelos moradores da Vila, somava 26 anos de funcionamento. 

O negócio segue fechado, mas Luzia ainda sente o desejo de reabrir a padaria, mesmo que ainda haja desafios. “Eu sempre senti que, na Vila Industrial, o pessoal não valoriza o que tem”. A impressão de Luzia é recorrente e outros moradores já revelaram dificuldades de encontrar negócios prósperos na região.

“Mas não é por esse motivo que eu não estou com a minha padaria aberta”, faz um alerta. Segundo a empreendedora, o que dificulta é encontrar pessoas para a ajudar a tocar o negócio, já que a padaria continua montada. 

“Eu adoro a padaria. Mas, às vezes, as consequências da vida são complicadas. Eu tenho certeza que o meu filho ainda vai levantar de novo o negócio”. A esperança de Luzia, além do filho, é a sobrinha, que já revelou interesse em estar à frente do negócio. “Estamos dando apenas um tempo”.

TRAVESSA MANOEL DIAS E MANOEL FREIRE

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Entrada da Travessa Manoel Freire na Vila Industrial (Foto: Tudo EP)

A Travessa Manoel Dias lembra o formato de um ‘T’, não é bem um “beco”, mas é conhecido assim. Inclusive, há placas com o escrito, sinalizando o lugar que entra e o que sai. Na Vila Industrial, o que mais se assemelha a um beco é a Travessa Manoel Freire que, de fato, não tem uma saída.

Dona Luzia tem uma opinião de como as pessoas enxergam os moradores das Travessas e ela entende que não é positiva a percepção. “Parece que as pessoas que não conhecem aqui tem muita discriminação”, explica. “Quando falam, parece que é lugar de marginal. E isso não é verdade”, pondera. 

Muitos vizinhos da empreendedora são moradores antigos. Apontando para as casas, ela contava do amigo senhor que viveu a vida toda na casa, ou da colega que viu a família nascer e crescer na Travessa.

“Aqui é excelente para se viver. Aqui é muito bom”.

Para o historiador da Prefeitura Municipal de Campinas Américo Villela, as Travessas são históricas por terem sido lar dos primeiros operários da Vila Industrial no início do século XX. “Essas foram as primeiras construções feitas por iniciativa privada na cidade”, explica.

Tamanha é a importância do lugar que em 24 de novembro de 1994, através da resolução n° 19, a secretaria municipal de Cultura, Esportes e Turismo de Campinas tombou as Travessas. Portanto, mesmo hoje, as casas devem ser preservadas e conservadas, tal qual o lugar com que dona Luzia habita e se orgulha de morar.

“O meu neto nasceu aqui. Ele vai fazer 26 anos nesta casa. Então, eu tenho muito orgulho de morar aqui”, conclui.

DIRETAMENTE DE OUTRO ESTADO À VILA

Empreendedora Eva Rodrigues em frente à uma casa histórica na Vila Industrial (Foto: Arquivo)

Eva Rodrigues estava sentada no degrau da porta da frente de uma casa tombada da Rua Francisco Egídio. Ela fazia um reparo na calçada, enquanto observava o filho brincar com um carrinho de plástico. “Bom, você pode colocar eu como referência de história de morador daqui da Vila Industrial”, ela disse com confiança.

“Eu vim do Rio Grande do Sul, quando era uma menina, com apenas 20 anos”,

explica.

Eva veio para o interior de São Paulo em busca de novas oportunidades. Ela sonhava em fazer uma faculdade e precisou cruzar três estados para ver o sonho se realizar. Em Campinas, sobretudo, a sul-rio-grandense encontrou mais desafios do que oportunidades. “Eu sempre morei em fazendas, entende? Então, aqui, eu comecei a morar em apartamento em frente ao Castro Mendes e eu me vi presa lá”, explica.

Para ela, a casa ideal seria um lugar que desse mais liberdade. “Na época, eu procurei um médico e ele me recomendou encontrar uma casa maior. Eu me sentia como um passarinho em uma gaiola”. Na Rua Francisco Egídio, bem próximo à igreja São José, ela encontrou o lugar ideal: uma casa histórica.

“No começo, eu tinha muito medo. Eu não conhecia nada do bairro. Foi então que me disseram que tinha essa casinha para vender”. Foi uma paixão à primeira vista. E embora o proprietário não quisesse fazer acordo com a gaúcha por ser “nova demais”, ela conseguiu convencê-lo.

Atualmente, ela é formada em Segurança do Trabalho e segue a vida como empreendedora. Ela já teve um restaurante, mas segue com a venda de doces e sorvetes que faz na própria casa. 

Para ela, um ponto a melhorar no bairro são os negócios locais. “O comércio deixa a desejar, realmente. Quem tenta montar alguma coisa, eu não sei o que acontece, não vai para frente”, relata.

Na frente da casa, havia uma fachada promovendo a venda de balas. Hoje em dia, Eva precisou reduzir os esforços e retirar a faixa por causa do pouco engajamento nas vendas por parte da comunidade. Embora ela entenda que prosperar seja complicado na Vila Industrial, ela é enfática ao dizer sua opinião sobre o bairro.  “Eu não consigo me ver morando em outro lugar”.

Vozes da Nossa Gente

Essa matéria faz parte do Projeto “Vozes da Nossa Gente”, que tem como foco no jornalismo hiperlocal e busca uma maior conexão com a comunidade. O “Vozes da Nossa Gente” pretende inspirar com boas histórias, que são contadas de maneira humanizada pelos moradores de dez bairros da cidade.

A cada duas semanas, uma região será o foco das pautas desenvolvidas pela equipe de jornalismo do portal, que produzirá, para cada região visitada:

  • Matérias especiais que serão publicadas no ACidade ON Campinas
  • Conteúdos interativos, que serão postados nas redes sociais do portal
  • Um mini documentário que será disponibilizado no canal do ACidade ON no YouTube.
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