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CotidianoInfecção que causou mortes por consumo de álcool de posto é a mais grave em 41 anos, diz Ciatox

Infecção que causou mortes por consumo de álcool de posto é a mais grave em 41 anos, diz Ciatox

Onze mortes na região de Campinas podem estar ligadas a metanol adulterado de postos de combustíveis

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As 11 mortes da região de Campinas provocadas por intoxicações graves relacionadas ao consumo de álcool combustível podem estar diretamente ligadas à ingestão de metanol em quantidades ilegais, causada por adulterações em postos de combustíveis. A afirmação foi dada por membros do Ciatox (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) da Unicamp, em Campinas, em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (17).

Ontem, o Centro emitiu um alerta para os serviços de saúde em todo o Estado, por causa do aumento no número de casos de intoxicação grave e mortes relacionadas à ingestão de metanol por meio do consumo de álcool combustível especialmente na região de Campinas.

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Segundo o CIATOx, os casos registram a intoxicação mais grave no Centro desde a sua história, nos últimos 41 anos (veja mais abaixo).

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Os casos

Desde 2016 até julho deste ano, foram registrados 14 casos de intoxicação grave na área de atendimento do Centro, com 11 mortes. A maior parte desses incidentes ocorreu recentemente, no ano passado e neste ano.


Em 2022, foram notificados cinco casos de intoxicação, e neste ano, outros cinco até o mês passado. A maior parte das vítimas é de pessoas em situação de vulnerabilidade, dependentes de álcool e em situação de rua, que consomem a substância após compra em garrafas de plásticos em postos de combustíveis.

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Quando foram as infecções?

Dos 14 casos de intoxicação registrados pelo CIATox, dois foram em 2016, um em 2020 e um em 2021. Já em 2022 foram cinco intoxicações, e outras cinco nos sete primeiros meses deste ano.

Combustível adulterado?

Segundo o coordenador associado do CIATox, Fábio Bucarete, os casos registrados no Centro demonstram um grave problema de saúde pública. As mortes estão ligadas ao consumo de álcool obtido em postos de combustíveis e causadas possivelmente por álcool adulterado contendo metanol.

A legislação brasileira impede o uso do metanol como combustível, devido a sua alta toxicidade. A substância é somente usada como insumo na indústria de transformação. Ou seja, o metanol só pode ser usado como parte da mistura de combustíveis, mas em índices que não deveriam chegar a 1%.

O produto é tóxico e a exposição contínua pode até mesmo causar cegueira e afetar o sistema nervoso do corpo humano.

“Nós temos acompanhado agora, nesses últimos dias, várias matérias na mídia da Associação Nacional de Petróleo, mostrando, realmente, o aumento de apreensões nos últimos dois anos e, para nossa surpresa, inclusive, colocando que chega a ter apreensões de amostras contendo até 80% de metanol dentro do álcool. Isso é absolutamente proibido pela legislação brasileira, que permite, no máximo, 0,5% de metanol na composição do etanol hidratado vendendo nos postos de combustíveis”, afirmou o coordenador.

Fraudes

O permitido pela legislação é em torno de 92% a 95% de etanol, no máximo 0,5 % de etanol e o restante da mistura sendo água. No entanto, quantidades elevadas do metanol estão sendo misturadas aos combustíveis, principalmente nos últimos anos.

Com isso, além do alerta para as redes de saúde, os membros do Centro indicaram a necessidade de uma fiscalização mais reforçada entre a Polícia Civil e a ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis).

Segundo o CIATox, das vítimas fatais de 2016, duas tinham consumido o álcool da bomba de um mesmo posto. Os órgãos responsáveis foram acionados e identificaram que o posto já havia sido autuado.

No mês passado, um posto no Centro de Campinas foi interditado após agentes encontrarem mais de 5 mil litros de metanol em um dos tanques (leia mais aqui).

Ciatox classifica como o tipo infecção mais grave já registrada no Centro

Segundo o coordenador, com a alta mortalidade das vítimas, o caso é possivelmente o mais grave já registrado pelo órgão.

“Dos 14 pacientes, 11 faleceram. Ou seja, talvez é a intoxicação mais grave que o Centro tem lidado, desde a sua história, nos últimos 41 anos”, afirmou.

Segundo ele, as mortes são causadas pela infecção resultante da metabolização da substância.


“O metanol em si não é ele que mata, é o metabólito dele que chama ácido fórmico, que é o que causa a intoxicação, responsável pela letalidade. É uma intoxicação extremamente grave (…) No Brasil é algo inédito isso de você, dentro da história da medicina, morrer devido ao consumo de álcool combustível, quer dizer, comprar o álcool de combustível para esse fim”, disse.

Vítimas em situação de vulnerabilidade

De acordo com o balanço, os pacientes que morreram após intoxicação são pessoas em situação de vulnerabilidade, dependentes de álcool e em situação de rua. As mortes foram registradas nas seguintes cidades:

  • 2 em Campinas
  • 2 em Sumaré
  • 2 em Santa Bárbara d´Oeste
  • 1 em Limeira
  • 2 em Itu
  • 1 em Jundiaí
  • 1 em Rio Claro

Os três sobreviventes tiveram sequelas neurológicas e também amaurose (cegueira total ou parcial).

“O que chama atenção também é que são populações de indivíduos vivendo em situação de rua, vários deles, e também vulneráveis que estão vivendo em abrigos”, afirmou o coordenador, citando que com o baixo valor que o álcool pode ser obtido em postos, o líquido é atrativo para alcoólatras, em momentos de abstinência.

Misturas para ingestão

Segundo o docente, pacientes atendidos relataram misturar o álcool obtido em postos com sucos, água ou até mesmo achocolatado.

“Se ele diluir aquilo ao meio com água, praticamente ele tem a concentração de um aguardente ou de um destilado com whisky, com vodka ou com cachaça. Então, essa é a procura deles, por um preço barato. Por menos de R$ 2 ele consegue isso”.

O antídoto

Atualmente, segundo a Unicamp, o único antídoto disponível no Brasil é o álcool (etanol) absoluto para uso intravenoso, encontrado em poucos serviços de urgência.

“Para o tratamento, os que usaram antídotos, praticamente todos foram recebidos do estoque do CIATox, porque eles (os Centros de Saúde) não dispõem do antídoto nas unidades de emergência. No Brasil, o único antídoto disponível é o etanol, para uso injetável”, explicou.

Alta pode ser apenas a “ponta de um iceberg” no Brasil

Com o aumento dos casos e o baixo estoque de antídoto, o órgão fez o alerta para chamar a atenção para a rede de saúde que atende os casos no Brasil, alertando também os centros de informação toxicológica de todo o país, para estarem atentos ao diagnóstico dessa intoxicação.

“Esses 14 casos a gente está vendo como uma grande possibilidade de ser uma ponta, como se fosse uma ponta de um iceberg de casos que ainda não estão sendo diagnosticados, ou que não foram diagnosticados. Muitas mortes eventuais de indivíduos pertencentes a essa população mais vulnerável, moradores de rua, eventualmente mortes acidentais, ou mortes súbitas podem estar sendo por conta desse tipo de intoxicação”, completou.

O laboratório do CIATox de Campinas é o único laboratório na Região Metropolitana de Campinas com o poder de diagnosticar a intoxicação por metanol e também por ácido fórmico, mas muitos dos casos não são relatados ou as amostras são coletadas tardiamente após o consumo do álcool.
Segundo o CIATox, muitas infecções podem não ter sido identificadas no país por falta de informação ou diagnósticos laboratoriais.

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