Em novo trecho dos áudios obtidos pela EPTV Campinas, o subsecretário de Relações Institucionais do Legislativo Campineiro, Rafael Creato, conta ao empresário, que gravou as conversas, que o presidente da Câmara, José Carlos Silva (PSB), o Zé Carlos, recebeu uma oferta de “um milha” de outro empresário, caso fizesse uma nova licitação. O áudio faz parte da investigação do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) contra o vereador e foi obtido com exclusividade pela emissora. Confira:
Empresário: – Você conversou com o presidente?
Rafael Creato: – Conversei, conversei. Mostrei os números pra ele, bacana e tal. E ele falou assim: ‘tô com uma proposta’, tá com uma proposta na mesa. Mostrou até o nome da empresa, o cara ofereceu pra ele uma ‘milha’. Mas aí eu falei: ‘Presidente, aí você vai ter que fazer uma nova licitação, você vai ter que direcionar’, enfim. Aí ele falou assim: ‘Eu não quero problema’. Ele falou: ‘fala pro cara…’. Ele falou até: ‘marca no seu escritório, não vem aqui, não quero que ninguém fique falando, tal, tal, tal’. Ele falou: ‘mas a gente não concorda’. Ele falou: ‘não aditar por enquanto. Depois a gente pensa em aditar”.
Em outro trecho, o empresário diz que não tem condições de garantir o pagamento mensal na mão de Zé Carlos: “Não tenho condições de falar: ‘olha, presidente, vou colocar todo mês tanto na sua mão. A única possibilidade é se reajustasse. Mesmo assim a gente teria que trabalhar para conseguir esse valor’”.
“Mesmo quem ganhar não vai conseguir bater esse ponto. Não sei qual o porte dessa empresa que ofereceu R$ 1 milhão para o presidente, acho muito difícil, pra não dizer impossível, do jeito que a gente está hoje”, completa o empresário.
O empresário relatou ao MP-SP que Zé Carlos aceitaria receber R$ 30 mil em propina, mas o dono da empresa afirmou à promotoria que não aceitou. Em outro trecho gravado pelo empresário, dessa vez com o Presidente da Câmara, o vereador teria pedido propina. Zé Carlos chega a falar de “garantia de ajuda”. “(…) que o acordo feito é 800, entendeu? Ele garantiu, ele garantiu que vai me ajudar… você me ajuda (…)”. O áudio foi registrado em 2 de agosto de 2021 com um gravador escondido, já que o presidente do legislativo não teria autorizado o empresário a levar celular ou relógio no encontro para não gravar nada da reunião.
INVESTIGAÇÃO
Zé Carlos e Creato são investigados pelo GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MP por um susposto esquema de corrupção, que envolveria cobrança de propina para manter ou prorrogar contratos de empresas prestadoras de serviços terceirizados com a Câmara de Campinas.
No mês passado, Zé Carlos e Creato foram alvos de mandados de busca e apreensão. As ações aconteceram na casa do vereador, na Câmara de Campinas, no escritório e na casa de Creato. As investigações começaram no segundo semestre do ano passado depois de denúncia feita por um vereador. Caso confirme a denúncia, os investigados podem responder por corrupção passiva consumada.
“Segundo o apurado até agora nos autos, teve reunião que foi realizada no escritório, do advogado, mas também teve reunião realizada no gabinete do vereador. Do que a gente apurou os empresários não pagaram. Foi solicitada a vantagem e houve a recusa em pagarem a propina desejada pelos investigados. O pedido de vantagem já configura um crime de corrupção passiva, consumado. Não precisa receber o dinheiro para consumar esse tipo de crime”, informou Rodrigo Lopes, promotor do Gaeco.
Em uma coletiva de imprensa em agosto, o promotor Felipe Bertolli também já havia confirmado as gravações de áudios que demonstrariam a ação criminosa.
“Há gravações de áudios. Os investigados pediam para os empresários não participarem das reuniões com celulares. O vereador estava presente. Quando ele passou a desconfiar que estava sendo gravado, ele pedia para deixarem celulares e relógios no banheiro”, afirmou.
OUTRO LADO
Em nota, Haroldo Cardella, advogado de Creato, disse que “no toante ao posicionamento solicitado da defesa técnica do Rafael, esclareço que ele prestará todos os esclarecimentos devidos quando for chamado pelo MP para fazê-lo”.
Já Ralph Tórtima, advogado que representa o vereador Zé Carlos relatou que “em respeito ao sigilo judicial decretado, deixarão de se manifestar publicamente quanto aos áudios divulgados, somente o fazendo formalmente nos autos da investigação”.
Procurada pela redação do acidade on Campinas, a Câmara Municipal de Campinas afirmou que não irá se pronunciar sobre o caso. (Com informações da EPTV Campinas)