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Salva de palmas para alguns pais

Uma salva de palmas aos pais que assumem e dividem com as mães, de maneira equilibrada, as responsabilidades da criação dos filhos

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Por Fabiana Guerrelhas

Uma salva de palmas aos pais que assumem e dividem com as mães, de maneira
equilibrada, as responsabilidades da criação dos filhos
. Salve os homens sensíveis,
principalmente aqueles pais que reconhecem e se entregam às emoções sem se
contaminarem por moralismos, encarando as questões afetivas tanto quanto as mães o
fazem. Sim, eles existem!

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Nas sociedades patriarcais, como a nossa, as mães são sobrecarregadas e a
desproporção entre o envolvimento da mãe e do pai no cuidado geral das crianças costuma ser enorme, tanto que quando um pai se destaca e assume a dianteira, é chamado de “pãe”
.


As angústias e desafios emocionais das mães são muito mais evidentes e seu papel
na formação (e estrago) de um filho predomina no campo da psicologia. Quando se faz
uma busca por artigos científicos e discussões acadêmicas sobre o pai, encontra-se muito
pouca coisa. Porém, guerra dos sexos à parte, nesse mês de agosto, peço licença às minhas
companheiras de luta para jogar luz ao protagonista da vez: o pai.


Tenho atendido a cada vez mais homens em busca de autoconhecimento por meio
da psicoterapia. Nem sempre foi assim. Dos meus 48 pacientes ativos no momento, 20
são do sexo masculino, ou seja, quase a metade. E as temáticas trazidas por eles muitas
vezes se relacionam a dificuldades e desafios relativos ao papel de pai.


Boas histórias me impactam quando eu as encontro no consultório, nos livros, no
jornal, na mesa do bar e no cinema. Ainda mais se elas tratam de assuntos polêmicos,
sérios e delicados sobre o comportamento humano, como as angústias paternas. Outro dia
assisti a um filme sobre isso, que não saiu da minha cabeça. “Um filho”, de Florian Zeller,
mesmo diretor do aclamado “Meu Pai”, é mais um excelente dramalhão sobre relações
familiares. O aparente caso clichê de um homem que se apaixona por uma mulher bem
mais nova, largando esposa e filho adolescente para fazer uma nova família, revela
questões profundas sobre a paternidade. Num dado momento, o filho do primeiro
casamento começa a apresentar problemas de comportamento e pede para morar com o
pai. O que parece ser somente uma alteração devido à adaptação ao novo contexto indica
que o garoto tem uma depressão grave. Embora a situação do filho seja o cerne da questão,
meu olhar se dirigiu ao pai. Ele tem um repertório de comunicação reduzido e dificuldades
na sua relação com seu próprio progenitor, sendo difícil pra ele ter recursos para
administrar os problemas do menino. Ele está cheio de dilemas frente à ambiguidade de
viver a nova relação e a culpa por se achar responsável pela situação emocional do filho.


Lembrei também de outro filme em que o protagonismo do pai é digno de nota. O
belga “Querido Menino”, com Timothée Chalamet, é baseado na história real descrita nos
livros Beautiful Boy e Tweak, de David e Nic Sheff, pai e filho. Conta o drama da
dependência química pesada de um adolescente e da batalha de seu pai para entender e
livrá-lo da terrível situação. O pai é interpretado por Steve Carell, normalmente visto em
comédias românticas americanas. Sua personagem é bem convincente e mostra um
sofrimento que poderia ser vivido por qualquer pai que nós conhecemos. E, para mim, é
esse o valor do filme, já que o problema do lindo menino se instala em condições bem
saudáveis. Ele é criado em um lar harmonioso, por uma família amorosa, com atenção,
afeto e limites adequados, tem um desenvolvimento normal, aparentando ser bem
sucedido emocionalmente. Me fez pensar que ser abatido por uma adicção nesse nível
pode acontecer com qualquer um, em qualquer situação, e não é necessariamente culpa
de ninguém. E mais, não há muito a ser feito, embora o pai lute com todas as suas armas.

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Em “Me chame pelo meu nome”, o mesmo Timothée atua, a meu ver, em uma das
histórias de amor mais bonitas do cinema. O tema central do filme é a paixão de verão
entre dois jovens rapazes numa cidadezinha da Itália, mas o pano de fundo, e questão não
menos importante, é o amor dos pais para com seu único filho. O diálogo final entre o pai
e o garoto impressiona pela sinceridade, pela verdade, pela generosidade, pelo afeto e
pela liberdade. Uma atitude muito nobre e uma verdadeira e linda declaração de amor de
pai pra filho. Nota dez para esse pai.


Por incrível que pareça, para grande parte dos homens ainda é muito difícil
expressar honestamente seus sentimentos e demonstrar sensibilidade. Eles são realmente
oprimidos nesse ponto, vejo isso diariamente em meu consultório. Muitos me pedem
desculpas quando choram, como se estivessem fazendo algo errado. Outros nem revelam
aos amigos e familiares que estão fazendo terapia. No entanto, essa realidade vem
mudando, ainda bem!


Os que encaram a psicoterapia conseguem se expor de maneira sincera. Há os pais
que se queixam da tirania das mães no direcionamento da vida da família, os que revelam
sofrer alienação parental, os que se sentem abandonados pelos filhos. Alguns assumem
que o casamento acabou, mas não conseguem se separar, porque isso implica em deixar
de conviver diariamente com os filhos. Uns não lidam bem com o início da vida sexual e
amorosa das filhas ou têm dificuldade em aceitar que os filhos crescem e tomam seus
próprios caminhos, muitas vezes contrários aos deles. Há pais “grávidos” extremamente
inseguros, pais que não querem reproduzir a mesma educação machista e punitiva que
receberam, mas não sabem como agir de um jeito diferente, pais que precisam proteger
seus filhos de mães abusivas e pais em sofrimento extremo ao perceberem que os filhos
se tornaram pessoas detestáveis.


Os pais dos filmes que eu comentei tiveram que lidar com culpa, com traumas,
com perda de controle e com frustração. Quando os pais se envolvem de corpo e alma no
manejo dessas questões, todos se fortalecem e as relações familiares tendem a ganhar
qualidade.


E, aproveitando a ocasião, mando aqui um salve especial ao pai das minhas filhas,
homem de coração forte e enorme sensibilidade, que compartilha comigo todas as
responsabilidades, de igual para igual, todos os dias e em todas as ocasiões.

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