Imagine uma pessoa adulta que não domina o idioma do país onde mora, nem a linguagem escrita. Para se comunicar na farmácia, no mercado ou no banco, pegar um transporte, falar com vizinhos ou com a própria família, ela precisa fazer gestos improvisados e esperar que, com sorte, seja compreendida. O exemplo pode parecer extremo, mas é a realidade da experiência de uma pessoa surda analfabeta representada por alguém que não foi escolarizada em LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) ou em português.
A Escola Municipal de Jovens e Adultos (EMEJA) “Austero Mangerona”, em São Carlos (SP), acolhe casos como o exemplificado, visto que é também um polo bilíngue para surdos. Sendo assim, faz um trabalho essencial de escolarização em LIBRAS e não somente do aluno, conforme explica a professora bilíngue Tatiana Dornelles. “A pessoa surda analfabeta chega sabendo apenas sinais caseiros. Nós ensinamos LIBRAS como forma de comunicação visual e o português como linguagem escrita. No caso de estudantes surdos que têm filhos ouvintes, por exemplo, ensinamos LIBRAS para a família também, para que, assim, possam a se comunicar com eficácia”. Além de professor bilíngue, os estudantes contam com o suporte de um instrutor surdo para auxiliá-los nas aulas.
A alfabetização no caso do surdo é importante como conhecimento, mas, em especial, como forma de inclusão na sociedade. “Com a língua de sinais e escrevendo em português, a pessoa pode comprar sozinha um remédio, trabalhar, pegar um ônibus, fazer tarefas sem que alguém precise acompanhá-la sempre, o que também tem um grande impacto na autoestima desses adultos”, destaca Tatiana.
A EMEJA atende estudantes que estão sendo alfabetizados no Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano) e é o único polo bilíngue da EJA com aulas nos três períodos: manhã, tarde e noite. Há outros dois polos que ensinam LIBRAS-português em São Carlos: a CEMEI “Ida Vinceguerra” (Educação Infantil) e a Escolma Municipal de Ensino Básico (EMEB) “Dalilla Galli” (Fundamental I e II). No entanto, suas aulas estão concentradas em um período só. Em qualquer um deles, os estudantes têm direito gratuitamente a transporte escolar, material pedagógico e uniforme.
