27 de abril de 2024
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Educa mais cast

MOVA: movimento em direção à uma educação para todos

Lideradas por professores voluntários, ações em São Carlos buscam alfabetizar e dar mais autonomia a jovens, adultos, e pessoas em situação de rua e com deficiência

A vida da professora doutora Maria Alice Zacharias é uma história de lutas e vitórias: primeiro, pelo direito de estudar, quando foi tirada da escola para trabalhar; depois, para continuar estudando, enquanto ajudava a sustentar a família; mais tarde, para ser aceita e ganhar o devido respeito nos meios acadêmicos; e hoje, ela está ao lado de pessoas que, assim como ela, precisam superar barreiras para ter acesso ao direito básico. 

“Atualmente, faço parte do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos de São Carlos, o MOVA, e é algo que me enche de alegria. Quando conseguimos alfabetizar uma pessoa, que passou a vida inteira sem conseguir ler e consegue ler pela primeira vez, eu sinto que todo o meu esforço valeu a pena, porque sabemos que isso melhora a vida dela”, afirma a alfabetizadora e coordenadora do MOVA São Carlos.

Maria Alice Zacharias, alfabetizadora do MOVA São Carlos. Crédito: Arquivo pessoal.
Maria Alice Zacharias, alfabetizadora do MOVA São Carlos. Crédito: Arquivo pessoal.

 

O movimento tem como objetivo alfabetizar jovens (acima dos 15 anos), adultos, idosos, pessoas em situação de rua, pessoas com deficiência, e pessoas que vivem no campo, as quais, muitas vezes, nunca tiveram acesso às salas de aula.  

“Quando uma pessoa é alfabetizada, ela se torna autônoma. Então, não precisa mais depender de outra pessoa para ir ao banco ou até mesmo para usar o celular. E isso tem relação com a cidadania. Isso transforma a realidade, não só dela, mas de toda a comunidade onde ela vive”, destaca a professora voluntária.  

Alfabetizar contra o preconceito 

Para atender aos diferentes públicos, o movimento oferece aulas gratuitamente através de núcleos, cedidos por apoiadores, liderados por educadores voluntários, que, primeiro, fazem trabalho de campo. Ou seja, eles vão até os possíveis beneficiários, inclusive em locais descentralizados ou distantes das áreas urbanas, para convidá-los a participar. 

“Atuar na comunidade rural é muito valoroso, porque lá estão minhas raízes. Eu nasci e fui criada no campo. Então, é como se eu tivesse dando um retorno para as pessoas. Até porque, se eu não puder contribuir com a sociedade, dar esse retorno, todo o estudo que eu tenho, para mim, não faz sentido. Acredito que os desafios sempre existirão, mas que, coletivamente, vamos rompendo as barreiras para tentar superá-los” 

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A educação foi também o caminho encontrado por Maria Alice para enfrentar o racismo, que tanto marcou sua trajetória.  

“As questões raciais influenciaram no meu desenvolvimento, acredito eu, na medida que fui percebendo que a minha vida só teria sentido se eu pudesse fazer algo para contribuir, não só na comunidade negra, mas também com as pessoas que vivem à margem da sociedade e sofrem por não terem os direitos básicos garantidos. Nesse sentido, minha área de pesquisa é a Educação, porque acredito que ela é a chave para transformar a comunidade desfavorecida socialmente”. 

Crédito: Freepik
Crédito: Freepik

Nesse sentido, o MOVA trabalha a temática racial por meio de projetos que partem da compreensão que a perspectiva antirracista deve ser desenvolvida continuamente e não só em determinado período do ano. Como exemplo, a coordenadora do movimento cita um trabalho de fuxico, técnica artesanal, pelo qual foram abordadas questões étnica-raciais. 

“Nele, as mulheres rurais confeccionaram uma obra de arte e, durante o processo, fomos dialogando sobre diversas questões e práticas em relação à violência diárias. Elas relataram também situações que já vivenciaram de preconceito, por serem negras, por serem mulheres. Isso, nós vamos tentando abordar de maneira leve, porém eficiente. Porque, pela interação dialógica, as mulheres vão se sentindo mais à vontade para falar e se desprendendo de conceitos errôneos que a nossa sociedade foi passando ao longo da história”. 

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Além desse projeto, no fim de semana do 26 de novembro, aconteceu a Expo MOVA, uma exposição em que todos os educandos do movimento apresentaram trabalhos que desenvolveram ao longo do ano. Em seguida, a exposição foi para o Museu da Ciência, onde ainda permanece aberta para visitação.  

“Eles nunca imaginaram que um trabalho deles estaria em um museu. E foi lindo ver os trabalhos maravilhosos que eles desenvolveram e a alegria de estar em contato uns com os outros, contando como é poder conquistar o direito da leitura e da escrita. A gente vê o brilho no olhar de cada um. Então, é isso que me move e que move toda a equipe de educadores: a busca por transformar o contexto educativo”, destaca Maria Alice. 

Os interessados em se matricular nas aulas do MOVA podem ir ao seu espaço-sede, na Avenida João Dagnone, 7. O movimento também está com inscrições abertas, até 21 de dezembro, para educadores voluntários que queiram se unir à missão de alfabetizar pessoas jovens e adultas. Mais informações pelo telefone (16) 3416-0832 ou (16) 99235-2190.

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