No dia 1º de dezembro, uma pichação racista foi encontrada em uma das paredes do alojamento estudantil da Universidade de São Paulo (USP), na capital paulista. Com os dizeres “Volta p/ África”, a frase causou consternação tanto pelo conteúdo, quanto pelo momento em que foi feita: logo após o mês em que se comemora o Dia da Consciência Negra e menos de uma semana desde que uma suástica, símbolo nazista, foi vista desenhada no campus.
Tais situações demonstram, às claras, o racismo que ainda faz parte da sociedade brasileira, inclusive em ambientes no qual se espera que tais preconceitos sejam desconstruídos.
“O racismo é um projeto de dominação que permeia toda a sociedade brasileira e as instituições sociais que fazem parte desta estrutura, como as instituições de ensino. A escola acaba, portanto, perpetuando esse projeto em função de pertencer à estrutura do racismo institucionalizado”, explica o pedagogo José Claudio Salvador, professor da rede de educação municipal de São Carlos e presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra (CMCN).
Em toda a estrutura
Mas as escolas e as universidades são só alguns dos níveis de manifestação do racismo, que, na sociedade brasileira, se impõe de maneira estrutural.
“Significa que temos a prática de um conjunto de hábitos e estruturas que são bem datados e promovem uma classe e/ou raça/etnia a ser subalterna. Afinal, o racismo é um projeto de dominação mercantilista que determina que um povo seja servil a outro povo. Civilização e primitivismo. A aculturação é um dos filhos do racismo e o preconceito é seu principal instrumento”, explica Salvador, ressaltando que, historicamente, o racismo estrutural é um projeto de origem portuguesa, que adotou formas de usurpação dos direitos garantidos e se estende até os dias de hoje.
Sendo assim, manifestações racistas como as encontradas na USP são também consequências da ausência de práticas com perspectivas étnico-raciais dentro das comunidades escolares, as quais terminam por reproduzir o que já está dado. Contudo, na perspectiva da pedagoga Gabriela Maria Fornaciari, especialista em Educação Infantil e em Educação de Jovens e Adultos (EJA), é possível começar a desmontar essa estrutura discriminatória ao se admitir a existência do problema. ”
É preciso adquirir conhecimento e reconhecer que o racismo está presente inclusive em nossos atos cotidianos. Temos a obrigação de procurar informações e respostas para saber mais sobre o racismo, além de questionar e analisar a nossa própria vivência, colocando em xeque aquilo que é visto como natural”, alerta.