Era setembro de 2015 quando a Organização das Nações Unidas (ONU) apresentou ao mundo a Agenda 2030, um plano ambicioso para promover o desenvolvimento social de forma mais sustentável, erradicando a pobreza, proporcionando vida digna a todas as pessoas e protegendo o planeta. A partir dela, seus 193 países signatários teriam 15 anos para atingir 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), compostos por 169 metas.
Agora, com o prazo cada vez mais próximo, o desafio parece ter aumentado, especialmente para o Brasil. De acordo com o Relatório Luz 2022, produzido todos os anos pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030, o país está “vivenciando significativos e sérios retrocessos” em relação aos objetivos.
“Para o sucesso de um projeto tão ambicioso, é imprescindível que cada país estabeleça estratégias, políticas, planos e programas consistentes com cada uma das metas e que a evolução do processo de implementação seja regularmente monitorada”, defende a bióloga Isabela Pelatti, que é servidora do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de São Carlos desde 1995 e hoje está na equipe técnica de projetos da Secretaria Municipal de Educação (SME) de São Carlos (SP).
Conheça os 17 ODS e suas propostas:
1. Erradicação da pobreza: desenvolver produtos ou serviços que beneficiam e melhoram a qualidade de vida de grupos economicamente vulneráveis.
2. Fome zero e agricultura sustentável: apoiar pequenos produtores de alimentos e a agricultura familiar.
3. Saúde e bem-estar: incentivar comportamentos saudáveis e melhorar o acesso aos cuidados com a saúde.
4. Educação de qualidade: assegurar acesso a treinamento profissional e oportunidades de aprendizagem.
5. Igualdade de gênero: tratar mulheres e homens de forma justa, com oportunidades iguais de crescimento profissional e equiparação de cargos e salários; respeitar e apoiar os direitos humanos e combater toda e qualquer discriminação à diversidade.
6. Água potável e saneamento: implantar estratégias de gestão da água que sejam ambientalmente sustentáveis e economicamente benéficas.
7. Energia acessível e limpa: aumentar a eficiência energética, utilizando fontes renováveis e levando essas mesmas ações à cadeia de suprimentos.
8. Trabalho decente e crescimento econômico: criar e garantir condições de trabalho decente e formais em setores intensivos em mão de obra.
9. Indústria, inovação e infraestrutura: investir em tecnologia para criar produtos, serviços e modelos de negócios que promovam uma infraestrutura sustentável, moderna e resiliente.
10. Redução das desigualdades: criar e implementar produtos, serviços e modelos de negócios que visam às necessidades das populações desfavorecidas e marginalizadas.
11. Cidades e comunidades sustentáveis: pesquisar, desenvolver e implantar melhorias de acesso a edifícios resilientes, mobilidade eficiente, limpa e moderna e a espaços comuns verdes.
12. Consumo e produção responsáveis: desenvolver, implementar e compartilhar soluções para rastrear e divulgar a procedência de produtos, monitorando sua eficácia no desenvolvimento da consciência ambiental e social da sociedade.
13. Ação contrária à mudança global do clima: reduzir substancialmente as emissões de gases poluentes, em alinhamento com os mecanismos de regulação climática.
14. Vida na água: pesquisar, desenvolver e implementar produtos, serviços e modelos de negócios que eliminam impactos nos ecossistemas oceânicos e colaboram para sua restauração.
15. Vida terrestre: implementar políticas e práticas para proteger os ecossistemas naturais que são afetados por atividades humanas, além de investir em pesquisa e tecnologia para o desenvolvimento de produtos, como o uso de embalagens biodegradáveis.
16. Paz, justiça e instituições eficazes: identificar e combater a corrupção e a violência.
17. Parcerias e meios de implementação: sociedade civil e governo atuando juntos em prol dos ODS.
Realidade preocupante
Em sua 6ª edição, o documento, que monitora, desde 2017, as metas previstas no compromisso assinado durante a Cúpula das Nações Unidas, aponta que “no contexto de uma pandemia global ocorrendo em meio a uma crise climática, dados sobre o aumento da pobreza e da fome, a perda de biodiversidade e um declínio geral na qualidade de vida mostram irrefutavelmente uma sociedade aflita pelos impactos devastadores da Covid-19 e da crescente desigualdade”.
Ainda segundo a análise, o país demonstrou progresso satisfatório apenas na meta 8 do ODS 15, a qual prevê “até 2020, implementar medidas para evitar a introdução e reduzir significativamente o impacto de espécies exóticas invasoras em ecossistemas terrestres e aquáticos, e controlar ou erradicar as espécies prioritárias”.
Dentre as demais, 11 delas ficaram estagnadas, 14 se mostraram em risco, 24 tiveram insuficiente progresso, 110 retrocederam e oito não apresentaram dados.
“A realidade do Brasil em 2022 é profundamente preocupante”, conclui o relatório.
Unindo forças
Atuando no setor de apoio pedagógico da SME de São Carlos, a bióloga Isabela Pelatti defende que é preciso uma ação mundial coordenada entre governos, empresas, universidades e sociedade civil a fim de que os objetivos propostos pela ONU sejam alcançados.
“Muitas ações, em diferentes níveis da sociedade e nas mais diferentes formas, estão sendo realizadas. O desafio é muito grande, mas a cidade de São Carlos está fazendo sua parte. Muito ainda pode e deve ser realizado”, afirma.
Questionada sobre a dificuldade de cada um dos objetivos, ela avalia que “não existe um objetivo que efetivamente possa ser mais difícil, especialmente porque todos estão e são relacionados. Mas, na minha opinião, talvez a questão do consumo se sobreponha, visto que somos uma civilização consumista”.