18 de maio de 2024
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Educador em Ação

Mulheres são mais de 90% dos professores da Educação Infantil no Brasil

Predominância é explicada por fatores históricos e culturais; todos os 21 projetos enviados ao Educador em Ação de 2023 foram desenvolvidos por elas

A docência na Educação Infantil tem o perfil feminino. Segundo o Censo Escolar de 2022, do Ministério da Educação (MEC), as mulheres representam 97,2% dos professores das creches e 94,2% da pré-escola.

Na edição 2023 do Educador em Ação, elas foram responsáveis por todos as 21 propostas recebidas pela organização do projeto. Três foram classificados à final e estão disponíveis para votação. O prazo para que você nos ajude na escolha do campeão, do 2º e do 3º colocados termina nesta segunda-feira (07/08).

Para Náthalia Gomes Moretto, especialista em Educação Infantil, a luta pelo ensino de crianças em anos iniciais é de todos, mas, historicamente, foi mais assumida pelas mulheres, devido aos papeis sociais de cuidado e proteção delegados a elas.

Por décadas, o Ensino Infantil foi ignorado pelos governantes. Era visto apenas como opção para que as mães pudessem deixar seus filhos enquanto trabalhavam. Apesar de muitos ainda pensarem dessa forma, o conceito evoluiu, com as creches e pré-escola deixando de ser lugares de assistência para integrar políticas públicas educacionais. Uma mudança que só foi possível graças a reivindicações proletárias lideradas por mulheres, que deixariam a causa como legado as gerações seguintes, como filhas e netas, muitas das quais se tornariam professoras.

Nathália começou em festas infantis e recreação. A facilidade de interagir com crianças a levou para a sala de aula. Foi num dos eventos em que trabalhava que recebeu o toque que precisava para migrar de área. Em 2009, começou a cursar Pedagogia e, desde então, não parou mais de estudar. Também é educadora parental e atua como coordenadora da Ludique, Escola de Estímulo e Desenvolvimento Infantil, em São Paulo.

Liovania destaca a importância do preparo dos professores para entender as fases do desenvolvimento infantil

Ausência masculina
Restringir a Educação Infantil à mulher é um dos grandes paradigmas da nossa sociedade, segundo Nathália. “É uma visão tradicional, explicada historicamente, de que o homem não pode buscar afeto. Que ele só serve para trazer o sustento, e a mulher deve ficar em casa cuidando da família”.

Liovania Souza, que é graduada em Pedagogia e pós-graduada em Neuropsicopedagogia, já passou por todos os segmentos da Educação Infantil, desde que se formou, em 2014. Hoje professora do Ensino Fundamental, concorda que a Educação Infantil está muito ligada ao cuidado e higiene da criança, atribuições que são vistas como delicadas e maternais. Mas não vê problemas se o professor fosse um homem. “Os pais precisam sentir confiança quando deixam sua criança na escola, independente se é um homem ou uma mulher”.

Para Liovania, o Ensino Infantil se posiciona como um impulsionador de estímulos para o futuro escolar. Por isso, o mais importante, na visão dela, é saber respeitar as fases de desenvolvimento da criança.

Segundo Nathália, o homem ainda é visto com preconceito no ambiente educacional, principalmente no Infantil. “Homens lecionam nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio. No máximo, Música e Educação Física para a Educação Infantil. Eles mesmo se afastam pela desvalorização e baixos salários”.

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Os números do Censo Escolar 2022 comprovam a percepção. Enquanto, na Educação Infantil, os homens representam 3,7% dos professores, eles são 22,5% nos anos iniciais e 33,9% nos anos finais do Ensino Fundamental, e 42,5 no Ensino Médio.

Nathália avalia que a grande predominância feminina na Educação Infantil também está ligada ao preconceito contra homens e à rejeição deles por baixos salários

Diversidade
Nathália avalia, ainda, que as crianças precisam, para um desenvolvimento integral, do convívio com a diversidade, seja de gênero, cultural, racial, entre outros aspectos. As experiências e vivências são de extrema importância para a evolução da aprendizagem. Nesse sentido, deve-se apostar na quebra de tabus e em incluir as famílias no processo de construção de conhecimento, já que, muitas vezes, elas não apoiam as brincadeiras desenvolvidas pelos docentes.

“Vejo famílias que não aceitam que seus meninos brinquem de fazer comidinha e de cuidar de bebês, e que meninas não brinquem de carrinhos ou de consertar casinhas, pelo preconceito que ainda é enraizado”.

Para ela, a Educação Infantil deve ser compreendida como base para um bom desenvolvimento, pois é nesta etapa que estão sendo formados os aspectos físico, psicológico, intelectual, social e cognitivo. Por isso, o envolvimento das comunidades também é fundamental. “Tem um provérbio africano que diz: é preciso uma aldeia inteira para se educar uma criança”.

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