No Brasil e em boa parte do planeta só se fala em futebol. Em meio a Copa do Mundo e o sonho do hexa, os brasileiros em geral só pensam no esporte da bola nos pés.
E como para marcar gols é preciso correr, ON RUN traz algumas reflexões sobre a corrida de rua e futebol.
Após dois jogos na Copa do Qatar, Casemiro é o jogador da seleção brasileira que mais correu. Segundo as estatísticas da Fifa, o volante percorreu 22.27km, uma média de 11.27km a cada 90 minutos (sem contar os acréscimos)
Em uma associação da relação quilômetros x tempo, os campeões da Corrida Integração 2022, Altobeli Santos Silva e Jenifer do Nascimento Silva, completaram 10km em 29m53s e 35m24s, respectivamente.
São dados que ressaltam o óbvio. Corre-se muito no futebol, mas em velocidades, intensidades e ritmos bem diferentes de uma prova de rua, na qual os atletas buscam regularidade. Durante o percurso, os corredores de média e longa distância alternam entre uma leve aceleração ao longo do percurso ou a manutenção do ritmo constante. Sprint, no máximo, perto da linha de chegada.
Embora seja impossível comparar o desempenho de atletas entre corrida de rua e futebol, fica a pergunta: o treinamento de uma modalidade poderia beneficiar a outra?
FÔLEGO EXTRA
O comum é encontrar amantes do futebol dispostos a treinar corrida para aprimorar o desempenho nos jogos de final de semana. A ideia é correr mais durante toda a partida. Em bom português: “melhorar o fôlego”.
Na teoria, tem lógica. Afinal, quanto mais o jogador correr em campo, melhor, Na prática, a história não é bem essa.
“De acordo com o princípio da Especificidade, para que ocorra melhora na performance de uma determinada modalidade, os treinamentos devem ser voltados para a realidade que o atleta encontrará na modalidade escolhida, tanto nos grupos musculares a serem priorizados quanto no sistema energético exigido pela atividade”, cita artigo assinado por Renan Watanabe, tendo Marco Costa, do Portal Sangue do Corredor, como fonte.
Ou seja, para evoluir de verdade, cada um deve executar treinos específicos para sua modalidade. Óbvio que a corrida sempre fará parte de da rotina de exercícios no futebol, mas o trabalho deve ser desenhado para atividades com durações menores e intensidades mais elevadas em relação as realizadas visando provas de 5km aos 42km.
A capacidade física compartilhada entre o corredor e o jogador é a resistência e os treinos que auxiliam na melhora aeróbia podem fazer diferença. Porém, no futebol, entram em ação fatores como velocidade para repetidos tiros curtos e saltos. E isso exige força muscular além das exigidas em uma prova de rua. Flexibilidade e agilidade também são demandadas de maneiras diferentes entre os dois esportes.
ENTENDA
-Força muscular é a quantidade máxima de tensão que um grupo muscular pode produzir em um movimento realizado
-Resistência muscular é a capacidade de executar contrações musculares de forma repetida por um determinado período de tempo.
Por tudo isso, fica claro que o trabalho de resistência no futebol e na corrida de rua são completamente diferentes.
VELOCIDADE
Para correr em menor tempo em provas de rua, é preciso correr rápido. Seguindo na comparação entre os dois esportes, se a aceleração dos movimentos é uma constante no futebol seja para alcançar uma bola, ganhar uma jogada do adversário ou de retornar ao campo de defesa , na corrida, a necessidade do condicionamento aponta para resistência de velocidade. Afinal, o atleta precisa manter um ritmo intenso pelo maior tempo possível até a linha de chegada.
Apenas para termos de comparação em relação à velocidade para tiros curtos, vejamos os seguintes casos:
-Em 2008, o jamaicano Usain Bolt sustentou 43,9 km/h por 30 metros nos Jogos Olímpicos de Pequim.
-Estudo de 2017 indicou que Cristiano Ronaldo, considerado um dos jogadores mais bem condicionados fisicamente da história, era pouco mais de 10 km/h mais lento em relação a Bolt, chegando a 33,6 km/h.
CADA UM NA SUA
Invertendo a pergunta, é preciso ponderar se quem só joga futebol consegue alguma uma vantagem na corrida. A resposta é, basicamente, não. Sem levar em conta os riscos de lesões, ocasionadas pelo contato físico com adversários em campo, jogar bola pode ser divertido, mas não vai trabalhar as capacidades exigidas ara sustentar velocidade por longos períodos e distâncias.
Concluindo, os corredores amadores devem treinar sem uma bola nos pés, Já o pessoal da pelada do final semana, pode, sem problemas, adotar certos procedimentos dos colegas que gastam sola de tênis no asfalto.