Camila Zago Castelli tem 30 anos e começou a correr aos 12. A influência veio dos pais, que praticavam a modalidade desde antes da filha nascer. Ela conta que frequenta o ambiente de provas desde criança, além das eventuais corridas ao lado do pai e da mãe nos parques de Campinas.
Aos 14 anos, chegou a ganhar premiações em provas dentro do condomínio. Aos 17 anos, participou da Corrida da Integração pela primeira vez. Encarou logo 10 km. Quando fez 18 anos, em 2010, a corrida fincou raízes ainda mais profundas em sua vida. Ela entrou para a faculdade de Engenharia Química da Unicamp e conheceu o Laboratório de Bioquímica do Exercício (LABEX), o qual possuía uma equipe de corrida.
Camila começou a participar de mais corridas e obter melhores colocações. Com a evolução, ganhou o prêmio de melhor aluna da corrida da Unicamp, tendo sido a quinta colocada geral. Para ela, a maior dificuldade ainda era conciliar os estudos, o treino e o estágio, principalmente em épocas de prova. A engenheira química conta que, no começo, quando ainda estava se adaptando, ficava muito cansada, o que não condizia com o estilo de vida das pessoas de sua idade. Acabava dormindo no meio de uma festa ou de uma reunião com os amigos. Para conseguir atingir seus objetivos esportivos, precisou abrir mão de algumas coisas. E os resultados seguem aparecendo desde então.
ON RUN: Como foi seu início na carreira?
Camila Zago Castelli: Eu comecei a correr aos 12 anos, por incentivo dos meus pais, que já corriam. Dos 12 até os 16, eu não tinha muita frequência e rotina, corria mais aos finais de semana, mas sempre gostei. Com 18 anos, quando ingressei na Unicamp, como aluna, voltei a correr com mais disciplina. E foi quando conheci o LABEX, equipe que me acolheu na época e com o qual treino até hoje.
ON RUN: Quais as maiores dificuldades que encontrou na vida e no esporte?
Camila Zago Castelli: Como comecei a correr muito jovem, desde o início tinha certa dificuldade em equilibrar a vida social com o esporte. Para correr bem, eu preciso dormir bem e descansar, e isso não combina com os programas dos universitários. Com o tempo, fui fazendo escolhas inteligentes e entendendo que para ter os resultados que eu queria, precisaria abrir mão de algumas coisas. Depois que entrei num ritmo bom de treino e superei essa questão do equilíbrio, tive mais alguns problemas com lesões. É muito triste se lesionar quando a corrida ocupa um espaço tão importante na nossa vida. Isso me abala demais.
ON RUN: Quais são seus pontos fortes como atleta amadora?
Camila Zago Castelli: Eu acredito que sou muito disciplinada e dedicada no esporte. Tenho constância nos treinos e faço o que tem de ser feito, mesmo quando é desconfortável. Meu temperinho especial é a competitividade. Falou que tá valendo, eu já corro duas vezes mais. Essa característica minha sempre faz com que eu me supere nas provas e competições. Dou o sangue e vou no limite mesmo.
ON RUN: O que você ainda precisa melhorar como corredora.
Camila Zago Castelli: Eu acho que o próximo passo para conseguir me desafiar ainda mais nos treinos e nas provas seria ser uma corredora mais completa. Quando eu digo completa, não falo só do momento do treino de corrida, mas em tudo que fazemos fora do horário do treino que nos permite correr bem, como alimentação, fortalecimento, alongamento, descanso. Preciso tentar caminhos que nunca tentei antes, para alcançar resultados diferentes.
ON RUN: Quais são as suas maiores conquistas?
Camila Zago Castelli: A maior de todas, com certeza, foi estar no pódio da corrida Integração em 2019 (5º lugar, com o tempo de 21m29s, para os 5km). Mas tiveram algumas outras que também guardo com carinho no coração, como vencer a corrida da Unicamp nos 5km (2012 e 2014), completar 5km na casa dos 20 minutos, e, por fim, ganhar um troféu numa corrida Internacional (Portugal 2017).
ON RUN: Como foi subir ao pódio da última Corrida Integração, em 2019?
Camila Zago Castelli: Indescritível. Como corredora nascida em Campinas, foi uma honra muito grande estar no pódio da maior prova da cidade, junto com as melhores. Realmente colocar os louros na cabeça foi o momento de maior emoção de toda a minha carreira como corredora amadora.
ON RUN: Quais são seus maiores sonhos?
Camila Zago Castelli: Desde quando comecei a correr, tenho dois grandes sonhos: o primeiro é fazer 5km abaixo de 20 minutos. Estou perseguindo essa marca desde que passei a integrar o LABEX, em 2010. É um longo caminho, mas acredito que é possível. O segundo sonho é chegar na frente da Corrida Integração mais uma vez, se possível no lugar mais alto do pódio.
ON RUN: Na sua opinião, como seria a sua corrida de rua ideal?
Camila Zago Castelli: A corrida de rua ideal depende mais da minha preparação do que da corrida em si. A corrida ideal é aquela em que eu durmo bem na véspera, acordo com antecedência para me preparar, chego cedo na largada e consigo estar concentrada do início ao fim.
ON RUN: Quem são seus ídolos ou pessoas que te inspiram?
Camila Zago Castelli: Eu gosto de me inspirar em pessoas próximas, minhas colegas de prova, família e amigos. Em relação aos resultados, minhas maiores inspirações são a Marina Malachias e a Luana Andrade. Elas são incríveis! Em relação à longevidade na corrida e postura no esporte, me inspiro muito nos meus pais e na minha amiga Nadir Camacho.
ON RUN: Descreva como é sua rotina de treino.
Camila Zago Castelli: Eu faço três treinos de corrida por semana, dois deles são intervalados, como tiros e fartlek, e o terceiro, em geral no final de semana, é contínuo e mais longo. Além da corrida, faço musculação cinco vezes por semana, priorizando os treinos de perna nos dias que eu não corro, para garantir o descanso da musculatura. Aos domingos, quando não tem competição, pratico o alongamento. Por fim, duas vezes por semana eu faço natação.
ON RUN: Como é sua alimentação no período de treinos e pré-prova?
Camila Zago Castelli: Eu tento sempre priorizar uma alimentação saudável, com alimentos de qualidade, como pão integral, ovos, iogurte, arroz, feijão, carnes, frutas, muitos legumes, sempre garantindo os nutrientes e energia para conseguir praticar minhas atividades da semana. No período pré-prova, continuo a alimentação saudável normalmente, mas dou atenção especial à hidratação, evito álcool e alimentos pesados. Eu já passei por reeducação alimentar com acompanhamento de nutricionista, e também já montei dietas especificas para melhoria de performance. Acompanhamento profissional nesses casos é muito importante.
ON RUN: Já sofreu alguma lesão grave? Se sim, conte como superou.
Camila Zago Castelli: Infelizmente já sofri muitas lesões desde que comecei a correr. Na maioria das vezes, elas aconteceram no período do ano em que eu estava mais em forma, fazendo treinos mais fortes. Todas às vezes, eu tive acompanhamento de fisioterapeuta, e sempre segui à risca as recomendações. Fiz os exercícios recomendados em casa, na musculação, etc. A vontade é sair correndo, mas também sempre respeitei o período de redução no volume de treinos. Sempre penso assim: quanto mais rápido eu tratar e fizer tudo direitinho, mais rápido vou voltar a correr sem dor e recuperar a forma.
Minha última lesão foi a mais grave de todas, uma inflamação no ligamento subtalar do calcanhar direito. Me rendeu seis meses de fisioterapia e quase um ano de recuperação. O que me ajudou muito nesse período, além do acompanhamento profissional, foi ter esportes alternativos para não perder o condicionamento, como a natação e o spinning.
ON RUN: Quais conselhos daria para quem sonha em se tornar uma atleta amadora?
Camila Zago Castelli: São três. O primeiro é: começar devagar, com acompanhamento de um professor. O segundo: saiba por que você está correndo, para conseguir traçar seus objetivos. Terceiro e último: se conheça, dê seu melhor, mas saiba seus limites e respeite seu corpo.
ON RUN: Para você é importante ter um professor especialista em corrida?
Camila Zago Castelli: É imprescindível. O acompanhamento com um profissional especialista que tenha propriedade para prescrever um treino de acordo com a necessidade e capacidade de cada atleta é muito importante para evitar overtraining, lesões, e garantir um desenvolvimento contínuo com os descansos necessários.
ON RUN: Você tem alguma mania ou superstição?
Camila Zago Castelli: Antigamente eu achava que, dependendo dos números de peito, eu ia fazer uma prova melhor ou pior. Sempre que tinha 2 ou 5 acontecia alguma coisa esquisita, como ter que parar para ir ao banheiro, quebrar, etc. Hoje em dia eu não acredito mais nisso, tento nem ver que número é, para não me influenciar.
ON RUN: Conte algumas histórias inusitadas, interessantes ou engraçadas que viveu ou viu nesses anos de corrida
Camila Zago Castelli: Durante a pandemia eu e meu marido (que também corre) treinamos muito em um Canavial que tem aqui na cidade. Optamos por correr lá porque não tinha muitas pessoas e também foi um espaço que não fechou em nenhum momento, como aconteceu com parques e universidades. O canavial virou um lugar muito nosso, íamos correr lá de manhãzinha, víamos o nascer do sol todos os dias, realmente criamos uma conexão com o espaço. No final do ano passado, ele me pediu em casamento no meio do treino, e adivinha o local escolhido? Canavial (das paixões).
ON RUN: Qual a importância da Corrida Integração na sua vida e o que espera da prova em 2022?
Camila Zago Castelli: Eu cresci vendo essa prova na televisão, ouvindo histórias sobre ela. A Corrida Integração norteia todo meu planejamento de treinos do ano. Ela é minha prova alvo. É quando eu alcanço meu maior desempenho ao longo do ano, justamente para buscar o tão sonhado 5km sub-20 ou o tão desejado pódio. Para esse ano, espero que a prova tenha a mesma energia contagiante de sempre, e que eu consiga mais uma vez dar o meu melhor!
ON RUN: Qual sua mensagem para os corredores da Integração?
Camila Zago Castelli: Treinem muito, se preparem, e vamos com tudo!