29 de abril de 2024
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Itshow

Revolucionando o trabalho: O impacto da semana de 4 dias nas empresas

A adoção da semana de trabalho de 4 dias revela-se benéfica tanto para a saúde mental e física dos colaboradores quanto para a produtividade e crescimento empresarial.

Já imaginou como seria se você fosse capaz de aumentar a produtividade da sua empresa, mantendo (e até melhorando) a saúde física e mental para você e seu time, e ainda por cima ajudar o nosso planeta?! Isso já está acontecendo e pode ser feito de uma maneira que para muitos pode parecer “muito bom para ser verdade”: reduzindo um dia da jornada de trabalho e adotando a semana de trabalho de 4 dias.

Você deve estar se perguntando nesse momento como pode ser possível produzir mais trabalhando um dia a menos. É uma pergunta justa e essencial. Mas os dados de projetos piloto que estão acontecendo ao redor do mundo revelam, por exemplo, a queda do número de pedidos de demissão e de faltas no trabalho por parte dos colaboradores e, inclusive, o aumento de receita das empresas participantes.

Neste artigo vamos falar um pouco mais sobre esse movimento, seus resultados e desafios e como você pode aplicar esse modelo em sua empresa de forma eficiente e responsável. Vamos lá?! 

Desafios atuais: o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal 

Nós vivemos em uma realidade cada vez mais corrida e hiper conectada, o que tem trazido inúmeros desafios para as pessoas de todas as idades e lugares do mundo. Especialmente a partir da pandemia da COVID-19, onde praticamente todos foram obrigados a trabalhar de suas casas de uma hora para a outra, os limites entre o tempo dedicado ao trabalho e à vida pessoal tem se tornado cada vez mais difíceis de estabelecer e isso tem causado consequências importantes.

O Brasil, por exemplo, é o país mais ansioso do mundo e segundo em síndrome de burnout, de acordo com estudos realizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela International Stress Management Association (Isma). Ainda, segundo pesquisa da McKinsey com 15 mil funcionários de 15 países, 59% passaram ou estão passando por um desafio de saúde mental, aumentando em quatro vezes a chance de sair da empresa e em duas vezes de estarem desengajados no trabalho.

Um outro estudo conduzido em vários países, incluindo o Brasil, feito pela Goethe University, na Alemanha, mostrou que há uma relação direta entre a incidência de burnout e a liderança, trazendo uma grande necessidade de discussão do tema pelas empresas. Afinal, como é possível atingir os objetivos e resultados que precisamos e se manter saudável? Como não sacrificar o tempo com a família e os amigos em prol do trabalho? Em que momento vou me atualizar e me capacitar com tantas atividades e reuniões diariamente? 

Resultados globais: a eficiência da semana de 4 dias em números 

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Foi a partir de questionamentos e desafios como esses que, em 2018, Charlotte Lockhart e Andrew Barnes, líderes da empresa neozelandesa Perpetual Guardian, começaram a experimentar formas de equilibrar as demandas da empresa e das pessoas que a formavam.

Esse esforço se tornou o método 100-80-80-100, em que os colaboradores recebem 100% do seu salário, para trabalhar 80% do tempo e manter os 100% de produtividade, e deu origem à organização “4 day week”. Hoje o preceito vem se expandindo globalmente a partir de programas-piloto com 1 semestre de duração e que vêm obtendo resultados interessantes.

Um relatório divulgado em Julho de 2023, trouxe dados coletados no período de testes e em uma revisão realizada 6 meses após o término do piloto. Entre outros fatos, foi constatado que: 

  • Em uma escala de 1 a 10, onde “1” é muito negativo e “10” é muito positivo, as empresas classificaram o impacto geral do teste em 8,7/10.
    A receita das organizações aumentou 15% ao longo do teste, ponderada de acordo com o tamanho da empresa;
  • Funcionários seriamente considerando deixar seus empregos caíram significativamente, com 32% dizendo que agora estavam menos propensos a sair; 
  • 69% dos colaboradores relataram reduções dos níveis de burnout e 40% sentiram-se menos estressados nas semanas de 4 dias
    Embora os níveis de esgotamento (burnout) tenham aumentado ligeiramente nos seis meses após o término do teste, a maior parte da melhoria foi mantida; 
  • As pontuações de saúde física e mental aumentaram e continuaram melhorando ao longo de 12 meses; 
  • A satisfação com a vida permaneceu estável, sem mudanças significativas do final do teste para a marca de 12 meses; 
  • A satisfação no trabalho mostrou uma ligeira regressão após 12 meses, mas permanece mais alta que a avaliação inicial. Isso sugere que os efeitos positivos de uma semana de 4 dias na satisfação com a vida podem estar mais profundamente enraizados no bem-estar geral dos indivíduos do que apenas na satisfação com o trabalho; 
  • 59% informaram redução nas emoções negativas, 45% afirmaram estar menos fatigadas, 40% disseram ter menos problemas de sono e 39% afirmaram estar menos ansiosas; 
  • Quase todos os participantes (95%) reduziram seu tempo de trabalho por semana de 40,1h para 35,6h; 
  • Quanto aos planos pós-teste, nenhuma organização expressou o desejo de voltar a cinco dias. 89% dos entrevistados estão definitivamente ou planejando continuar, com os 11% restantes inclinados a continuar sua semana de 4 dias. 

Os dados acima, coletados com mais de 40 empresas dos Estados Unidos e Canadá, são animadores à medida que percebe-se não apenas um efeito positivo na qualidade de vida das pessoas, mas também nos resultados da própria empresa. Vamos explorar outros casos para entender como é possível colocar essa premissa em prática:  

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Case Kickstarter 

Um estudo de caso muito interessante da adoção deste modelo vem da Kickstarter, importante plataforma norte-americana de financiamento coletivo (crowdfunding). Quando a empresa decidiu testar o modelo de semana de 4 dias observou-se um misto de entusiasmo e apreensão inicial, especialmente entre os líderes de equipe preocupados com a manutenção dos níveis de produtividade.

Para abordar essas preocupações, a empresa concentrou-se em trabalhar de perto com os times, garantindo que se sentissem confiantes com as adaptações necessárias, como a redução de reuniões ou tipos de trabalho, e mantendo clareza nas prioridades. Práticas de liderança eficazes, como metas claras e grande confiança na execução, foram aspectos cruciais na implementação da nova rotina.

O impacto mais significativo observado foi no aumento da retenção de funcionários e do engajamento. Desde a implementação da semana de quatro dias, a empresa notou uma redução significativa na saída de funcionários e um aumento de quase o dobro na previsão de permanência dos empregados a longo prazo. Além disso, houve um aumento de 50% no engajamento dos funcionários, que agora se sentem mais energizados e dedicados ao trabalho, utilizando o tempo extra para projetos criativos, cuidados familiares ou descanso.

Esse aumento de energia e criatividade refletiu-se na produtividade e nos resultados, como destaca Jon Leland, Diretor de Estratégia da empresa: “Enquanto tivemos sorte de atingir 70% dos nossos Objetivos e Resultados-chave (OKRs) em qualquer trimestre antes do piloto, hoje nós atingimos mais de 90%. É fácil pensar que uma empresa terá que sacrificar parte de sua ambição para implementar uma semana de 4 dias, mas nós só aumentamos a escala da nossa ambição desde a adoção do modelo.”.

No geral, a experiência da Kickstarter com a semana de trabalho de quatro dias se mostrou um sucesso, melhorando os resultados, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e promovendo um ambiente de trabalho mais produtivo, criativo e feliz. 

Case Microsoft 

Outro caso muito interessante foi realizado fora do programa da “4 day week”, ainda em 2019, pela Microsoft do Japão, mostrando que os impactos positivos desta filosofia vão além do método 100-80-100.

A empresa introduziu durante o verão a semana de trabalho de quatro dias, permitindo aos funcionários desfrutar de fins de semana de três dias, mantendo o salário correspondente a cinco dias de trabalho. Segundo o presidente e CEO da empresa à época, Takuya Hirano, o objetivo do programa era fazer os colaboradores pensarem a respeito e experimentarem como conquistar os mesmos resultados com 20% a menos de tempo trabalhado. “Trabalhe um curto período, descanse bem e aprenda muito.”, disse ele em uma declaração no site da empresa.

O resultado dessa mudança foi um aumento expressivo de 40% na produtividade. Além disso, foram registradas quedas no número de faltas em 25%, do uso de eletricidade em 23% e no uso de impressões em papel na ordem de 59%.

Uma das ações que permitiu esse resultado foi uma revisão significativa das práticas de reuniões dentro da empresa. A duração padrão de quase metade das reuniões foi reduzida de 60 para 30 minutos. Além disso, o número padrão de participantes em cada reunião foi limitado a cinco funcionários.

Em um post no seu blog, a empresa destacou que muitas vezes não havia razão para que as reuniões durassem uma hora ou ocupassem várias pessoas da mesma equipe. O projeto também incentivou os funcionários a utilizarem canais de chat colaborativos em vez de e-mails e reuniões, ambos considerados “desperdícios”.

Outras iniciativas foram o incentivo, inclusive financeiro, a atividades de autodesenvolvimento e até um projeto de visitas a outras organizações para experiências de trabalho e aprendizado. Esse suporte para programas de conscientização intercultural e experiência de trabalho em diferentes indústrias revelou-se uma sabedoria profunda, sendo essenciais para o aprendizado experiencial no contexto do local de trabalho.
 

Aplicando o modelo de 4 dias: diversas abordagens e caminhos para o sucesso

Como pôde ser visto nos exemplos acima, o modelo de semana de trabalho de 4 dias apresenta conclusões intrigantes. No entanto, é natural que você esteja se perguntando se isso se aplica à sua realidade ou mesmo ao contexto do nosso país.

Sobre o último, a “4 day week” iniciou em setembro de 2023 um programa piloto com 20 empresas no Brasil, sendo o primeiro realizado na América Latina. Em novembro já serão realizadas as primeiras entrevistas com os participantes e será possível ter as primeiras impressões.

A respeito da aplicação à sua realidade, diferentes abordagens podem e devem ser experimentadas. É fundamental entender que cada empresa pode e deve adaptar as ações ao seu contexto. Em uma matéria recente da Entrepeneur, John Emery, fundador de uma consultoria de marca que leva seu sobrenome, trouxe uma forma diferente de aplicação dessa ideia. Lá não foi implementado um dia sem trabalho, mas sim um dia sem reuniões (olha elas aqui novamente fazendo a diferença) e troca de mensagens em chats.

As “Quiet Fridays”(ou “Sextas-feiras Silenciosas”), como são chamadas, destinam-se para momentos de trabalho focado, como a criação de uma estratégia, a produção de conteúdo ou projetos paralelos. Mas também podem ser utilizadas como um dia de descanso: “Se as pessoas entenderem que tem pouco a fazer, eles tranquilamente tiram o resto do dia de folga. Eles claramente mereceram se tiverem realizado tudo em sua lista de tarefas.”, diz ele. Tudo com muita maturidade e alinhamento, uma vez que os resultados devem ser atingidos.

Outro fato interessante é que 76% das empresas participantes dos programas-piloto da “4 day week” que trouxeram os resultados citados acima possuem até 25 colaboradores. Isso indica que é possível colher os benefícios mesmo em uma empresa com menos pessoas para “cobrir os espaços vazios” deixados pelo dia extra de descanso, o que pode também ser uma estratégia possível.

A agência britânica Trio Media, por exemplo, julgando ser fundamental que sempre houvesse alguma equipe trabalhando nas demandas dos clientes, implementou um sistema onde parte da equipe trabalhava de segunda à quinta e outra parte de terça a sexta. Naturalmente que esse tipo de abordagem exige uma atenção aos processos e ferramentas de comunicação, mas isso é papo para outro momento.

Além disso, 56% das organizações são dos setores de T.I., prestadoras de serviço ou marketing, que costumam ter uma grande demanda contínua. Cada realidade, cada cultura terá a sua forma de lidar com o tema. O importante é que seja feita a reflexão sobre como é possível equilibrar a vida pessoal com a profissional e experimentar alternativas até encontrar o seu modelo.  

Reflexões Finais

Em Janeiro de 2023, durante o encontro anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos na Suíça, Sander van’t Noordende, CEO da Randstad, uma empresa de serviços de RH holandesa com atuação global, falou que a “semana de trabalho de 4 dias é um imperativo dos negócios”.

Considerando os desafios que enfrentamos diariamente para atingir nossos resultados profissionais, nos mantermos atualizados e capacitados nas novas tendências e ainda cuidar da família e da saúde física e mental, é crucial dedicarmos parte de nossa energia pensando em como gerenciar melhor o nosso tempo, afinal é o nosso recurso mais valioso.

Essa é uma reflexão que deve acontecer a nível individual, mas também nas organizações e os líderes são peça fundamental na construção de canais de diálogo e na implementação de ações que beneficiem a todos, inclusive a eles mesmos. 

Por Pablo Bezerra, content contributor | Itshow

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