O baile do Ozipa é tradição no Parque Oziel, em Campinas, e serviu de inspiração para o nome da “Ozipa Criativa”, que é um projeto social que nasceu como uma alternativa para atrair o olhar dos milhares de jovens que vivem na comunidade. A intenção é incentivar a capacitação pessoal e profissional.
O sucesso do projeto comprova que inovar nem sempre é criar um produto voltado ao mercado, mas pode também ser uma iniciativa de caráter social. “Para inovar é preciso identificar um problema para o qual ninguém ainda tenha proposto uma alternativa, e a partir daí pensar em soluções”, afirmou a gerente do Parque Científico, Tecnológico e da Incubadora da Unicamp, Mariana Zanatta.
Quando um projeto especial como esse vem à tona, fica explícito o que se fala sobre inovação ser muito mais “dia a dia” do que aquele universo restrito às empresas de alta tecnologia. A inovação pode tomar espaço em qualquer lugar, com quaisquer pessoas. O que a determina é a real vontade de solucionar problemas ou colocar em prática novas ideias que gerem valor para um grupo de pessoas.
E foi o que aconteceu no Parque Oziel. O fundador da Ozipa Criativa, Jeferson Rodrigues, conta que a ideia foi de aproveitar o apelido que o próprio baile deu ao bairro para aproximar os jovens das atividades a serem realizadas no projeto. Por meio de ações educativas e culturais e também de cursos técnicos gratuitos, o projeto prioriza a informação e a capacitação que podem auxiliar os jovens na busca por uma ocupação e que seja uma fonte geradora de renda.
“Normalmente o que eles têm aqui é o funk para se divertir, a gente não vê alternativas para a juventude. Então a gente quer oferecer atividades de educação comunitária com foco no desenvolvimento pessoal e profissional deles”, afirmou.
O projeto também é jovem, surgiu em setembro de 2021, mas desde então vem ampliando ações que estimulem a economia criativa de impacto social. No início, eram palestras informativas e instrutivas, como, por exemplo, com temas sobre alimentação saudável, e de utilidade pública, como consumo consciente em época de Black Friday, mas sempre realizadas com parcerias locais, profissionais e ONGs da própria comunidade.
“A ideia é construir junto com a comunidade. A primeira ação foi a Árvore dos Sonhos, em que eles tiveram a oportunidade de falar o que gostariam que o projeto oferecesse”, relembra Jeferson.
Agora, mais maduro e com um bom espaço físico, o projeto passou a ofertar cursos nas áreas de fotografia, jornalismo comunitário e marketing digital. Para concretizar este que era um sonho da comunidade, a associação de moradores cedeu um local que estava abandonado havia 10 anos e que engloba a sede do projeto, com espaço para o bazar de roupas, que é fonte de renda, e também uma sala completamente estruturada para a realização das aulas. Portador de deficiência visual, Jeferson ressalta que o próximo passo é fazer com que o espaço ofereça total acessibilidade.
O professor de fotografia, Douglas Santos, explica que “a intenção é promover a oportunidade de os jovens terem contato com informações e equipamentos com os quais eles não têm habilidade ou até mesmo que nunca tiveram acesso. Quem sabe a fotografia abra as portas de um trabalho e se transforme em uma fonte de renda para eles!”.
Inovação e empreendedorismo social
O Parque Oziel teve início há mais de 20 anos como uma grande ocupação urbana e, juntamente com os bairros de Monte Cristo e Gleba B, forma uma região de vulnerabilidade social.
“A gente entende que os moradores da periferia já são empreendedores, e o Oziel é um bairro potente, porque mesmo sem estrutura temos aqui muitos empreendimentos. Isso é tecnologia social, é usar da nossa criatividade para criar novos projetos e aprimorar os já existentes. Tudo isso ajuda a resgatar a auto-estima dos moradores”, afirma Jeferson.
Por tudo o que representa para a comunidade, a Ozipa Criativa é um exemplo de que inovação é tão simples quanto isso: fazer com que uma ideia possa contribuir para a qualidade de vida das pessoas ou seja, gerar real valor para as comunidades.