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Lazer e culturaProjeto "O que te Assombra?"Conheça a história de Toninho do Boi Falô

Conheça a história de Toninho do Boi Falô

Uma das histórias mais populares de Campinas aconteceu em uma Sexta-feira Santa; saiba mais sobre a vida e, principalmente, a morte de seu protagonista

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Todo cristão sabe que a Sexta-feira Santa é um dia de retiro, reflexão e cuidado. Por ser a data que inaugura os três dias em que Cristo se ausenta fisicamente da terra, muita coisa esquisita acontece entre às 23h59 da quinta-feira, que antecede a Sexta da Paixão, até o Domingo de Páscoa, quando Jesus ressuscitou.

Por exemplo: o sétimo filho homem de uma linhagem de seis mulheres ou, em algumas versões, o sétimo filho homem de uma linhagem de outros seis homens, se transforma em lobisomem, pela primeira vez, na madrugada da Sexta-feira da Paixão.

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A mesma coisa acontece com a mula sem cabeça. A pobre mulher, que cai na besteira de se relacionar afetivamente com um padre, bota fogo pelas ventas em forma de um quadrupede sem cabeça, justamente na madrugada da Sexta da Paixão.

Essas são histórias amplamente difundidas pelo interior do Brasil, em todos os seus rincões, mas, como em Campinas tudo tem que ter um particular, a metrópole tem uma história de Sexta-feira Santa só sua: a famosíssima…

A lenda do Boi Falô

Vamos para a história em sua versão mais difundida.

Era uma Sexta-feira da Paixão e o Barão Geraldo, dono da fazenda Santa Genebra, onde hoje se situa o distrito que leva seu nome, manda um homem escravizado buscar alguns bois no capão.

O nome deste homem é Antônio Africano – também conhecido como Toninho.

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Ele segue até o capão do boi e, ao colocar a canga no pescoço do bicho, o animal dá o alerta:

“Hoje não é dia de trabalho, hoje é dia de nosso Senhor.”

Antônio sai correndo, volta para casa apavorado contando o ocorrido ao Barão e a quem mais quisesse ouvir.

O Barão não acredita na história e manda seu capataz seguir com Antônio até o capão do boi para cumprir a tarefa, aparentemente simples, claro, em circunstâncias em que os bois não falassem.

Os dois seguem até o capão do boi e, ao tentarem colocar a canga no bicho, ele repete a frase dita em outrora:

“Hoje não é dia de trabalho, hoje é dia de nosso Senhor.”

Os dois voltam para a casa grande, com a mesma versão. O Barão acredita no capataz, homem de sua confiança.

Consta que Toninho deixa a lida mais pesada e vai trabalhar dentro da mansão e que o capataz deixa a função e se torna um rezador.

Outra versão

A evidente desumanização do homem escravizado, obrigado a trabalhar em uma data santa e de reclusão cristã, é muito presente nos debates sobre a história que, embora essa seja a mais difundida, é também muito contestada em Barão Geraldo.

No distrito onde a história se desenrolou, corre a história de que a primeira testemunha do boi falador foi um jovem rapaz, negro e escravizado e que, o capataz que acompanhou a segunda diligência, aí sim, era Antônio Africano.

Para mim, faz mais sentido isso, especialmente pelo que vem depois.

Toninho

Antônio Africano se torna um homem visto como santo. Não por outra razão, hoje ele é venerado no Cemitério da Saudade como um grande milagreiro, intercessor de demandas de saúde, financeira e até judiciais.

Seu túmulo é forrado de placas de ex-votos, expressando as graças que ajudou seus milhares de devotos alcançarem.

Sua campa fica ao lado do mausoléu da família Geraldo de Resende, portanto, o túmulo do Barão – seu Senhor.

Um escravizado ser enterrado ao lado de seu escravizador é no mínimo inusitado.

Há quem diga que o Barão nutria amizade por Antônio, advinda de uma situação em que seu escravizado o livrou da morte em uma tocaia, literalmente pulando na bala pelo nobre fazendeiro.

Mas, há quem diga que quem tinha simpatia por Antônio era a Baronesa, mulher extremamente católica e que assistiu a mudança ocorrida na visão de mundo e do florescimento da habilidade de rezador do escravizado da família, depois dele ter presenciado o milagre dos bois falarem.

Nesta esteira dos fatos, em teoria, quem teria determinado o sepultamento de Antônio ao lado do mausoléu da família teria sido a Baronesa e não o Barão.

Essa vontade da nobre senhora teria se concretizado anos depois da morte de Antônio, segundo consta e, a depender da versão, havida em 13 de março de 1904 ou em 13 de maio de 1904.

Polêmicas

Existe muita polêmica em torno deste fato, evidentemente, sobrenatural.

São constantes os debates sobre as reais funções de Toninho, as motivações políticas para a promoção do fenômeno paranormal e conflitos com a diocese na medida em que a incorporação do boi falante motivou a organização de uma festa popular.

Fatos irrefutáveis

Antônio foi enterrado ao lado de seu patrão, algo bastante inusitado dado ao tratamento a que homens escravizados tinham na época.

Independentemente dos papéis nas muitas versões do acontecidos (nós só contamos duas, mas existem muitas outras), ninguém contesta que o Boi falou e falou em uma Sexta-feira Santa!

Quem é Thiago de Souza

Thiago de Souza é compositor, roteirista e humorista, fundador do grupo “Os Marcheiros” e idealizador do projeto “O que te Assombra?”. Ele também é o criador do programa de políticas públicas para preservação de patrimônio material e imaterial chamado “saudade e suas vozes” já implementado nas Cidades de Campinas e Piracicaba.

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Thiago Souza | Colunista
Thiago Souza | Colunista
Você tem medo de quê? Thiago de Souza que é compositor, escritor, roteirista, humorista, colunista do acidade on e idealizador do projeto “O que te Assombra?” conhecido por fazer passeios noturnos ‘assombrosos’ pela cidade. Nesse espaço vai trazer um pouco das histórias de 'fantasmas' da cidade. Imaginário popular, lendas urbanas ou folclore local? Confira as principais que permeiam o imaginário da população.
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