Startup. O começo, início, como um tabuleiro de um jogo, só que na realidade. No mundo dos negócios é um estrangeirismo, de conceito um pouco abstrato. Afinal, que empresa não começa do “começo”?
Nos últimos anos, São Carlos tem abrigado mais e mais modelos de negócio deste porte com o crescimento das chamadas incubadoras e hubs (espaços que reúnem empresas de tecnologia) de inovação.
O consultor de negócios do Sebrae, Eduardo Ranin, explica que apesar de subjetivo o termo reúne características bem definidas.
Assim como um risoto, alguns ingredientes fazem com que essa receita seja caracterizada por determinado sabor, quase que uma experiência de mercado:
- Agilidade: são empresas capazes de identificar um problema e ofertar uma solução de maneira rápida. Geralmente subvertem modos de fazer do mercado tradicional, com metodologias sofisticadas em seu modo de criar e realizar tarefas.
- Criatividade: abordagem empreendedora geralmente inovadora na hora de vender soluções.
- Tecnologia: As ideias geralmente envolve o uso de tecnologias, como aplicativos por exemplo no caso de startups digitais, ou até hardwares e materiais de ponta no desenvolvimento de um protótipo.
- Escalabilidade: Apesar do risco, do tudo ou nada, tem potencial de investimentos e resposta de caixa alta, com retorno financeiro rápido.
DeepTechs
Mas em São Carlos, esse risoto tem um sabor peculiar: o de ‘DeepTech’, um modelo de startup focado na ciência e não tanto em soluções digitais.
“Essa é a carinha de São Carlos. Grande parte das startups da cidade são DeepTechs, principalmente nas áreas de saúde e agro. Geralmente não ouvimos falar delas com tanta frequência, porque são modelos de negócio B2B.”
Os modelos de negócio B2B são caracterizados por oferecerem soluções e produtos para outras empresas, diferente do B2C, que busca atender o consumidor final.
Talvez a explicação do grande volume de DeepTechs esteja no fato do município reunir duas das melhores universidades públicas do país: a Universidade de São Paulo (USP) e a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) com uma população flutuante de uma mão de obra de inúmeras regiões.
Foi ali, no ambiente universitário que muitas ideias e sonhos começaram, como a FUBÁ Educação Ambiental. “As quatro sociais se conheceram fazendo pós-graduação na UFSCar, e depois resolvemos criar a empresa para levar educação socioambiental para diversos lugares”, contou Mayla Valenti.
Oito anos depois, a Fubá tem clientes em 21 estados brasileiros. “Clientes são diversos, empresas, governos e organizações não-governamentais. Passamos a considerá-la uma startup em 2018, quando inserimos tecnologia e acessibilidade em nosso projetos”.
Em 2018, as fundadoras tiveram um investimento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) por meio de um programa de fomento, o Pipe (Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas). “Desenvolvemos aplicativos com base em pesquisa. O primeiro aplicativo foi para o Parque Ecológico de São Carlos”, disse.
O aplicativo citado por ela é o BoRa Parque Ecológico de São Carlos, que mapeou todas as trilhas e informações do local, oferecendo ao usuário ferramentas de acessibilidade que podem ser usadas por pessoas cegas e surdas.
A empresa já desenvolveu mais três aplicativos nesse formato. O último será lançado no aniversário de São Carlos, o BoRa Sanca, permitindo o usuário conhecer todas as áreas verdes da cidade.
Transformar ciência produto
Outra característica que define as DeepTechs é o tempo de desenvolvimento mais longo de uma ideia. “Você precisa transformar ciência em tecnologia e tecnologia em inovação, que é pegar a tecnologia e utilizá-la comercialmente”, explicou Rantin.
Essas empresas também costumam receber investimentos públicos de agências de fomento à ciência.
“Também é uma forma de garantir que a distância tecnológica que nos afasta dos países mais desenvolvidos seja reduzida. É nesse caso que entramos com apoios como Pipe da Fapesp, Sebrae, Embrapii”, contou Rantin.
Estratégias territoriais
Criada em 2005, a Fine Instrument Technology, que atua na área de equipamentos de ressonância magnética, migrou da capital para São Carlos.
A empresa trabalha hoje com equipamentos e tecnologias para agronegócio e indústrias e tem lançamentos que fazem parte de uma estratégia de expansão de mercados e expansão territorial, que passa de 20 países com suas soluções.
“Este ano firmamos uma parceria com a Embrapa Solos para desenvolver soluções na área de solos e estamos lançando um equipamento junto ao Instituto de Física de São Carlos da USP com objetivo de alcançar o mercado de exploração de petróleo, polímeros e outros materiais”, disse Consalter.
Um problema sempre é uma oportunidade
Quase um ano antes da Covid-19 chegar ao Brasil, Conrado Rantin e os amigos decidiram trazer um ideia inovadora: a primeira loja autônoma em um condomínio residencial no Brasil.
A ideia consistia em um mercado sem funcionários, com produtos simples, onde o pagamento é realizado por um aplicativo da marca via QR Code. “Os sócios fundadores já tinham background em áreas como tecnologia para condomínios, meios de pagamento, franquias, varejo, bens de consumo e food service”, disse Conrado.
Talvez a ideia ganhasse sentido um gigantesco, essencial um tempo mais a frente, por conta do isolamento social. Dito e feito: em abril de 2020, em meio as ameaças de lockdown, a empresa recebeu seu primeiro aporte de investidores anjo na cidade e começou uma expansão nacional.
Até o negócio escalar, ele garante que foi um frio na barriga. “No meu caso, eu estava com a esposa grávida do nosso primeiro filho, vendi meu carro e montei a primeira loja. Hoje nossa empresa, além das lojas espalhadas no Brasil todo, tem filiais em Portugal, Estados Unidos e Dubai”, disse.
Foguete não dá ré, mas Conrado diz que não tem pretensão nenhuma de sair de onde tudo começou, na capital da tecnologia. “É um local ótimo pra ter a sede por ser um hub de inovação e contar com mão de obra de qualidade”, finalizou.
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