As últimas horas do vice-prefeito Edson Ferraz (MDB) não foram fáceis. Ocupante de um cargo de expectativa, viu seus últimos prepostos no governo caírem na noite da última quinta-feira (7).
Tido como um dos pilares de campanha vitoriosa em 2020, que levou Airton Garcia (União Brasil) ao segundo mandato, Edson está cada vez mais longe do centro das decisões. Primeiro viu a articulação política sob a tutela de seu apadrinhado Fernando Carvalho bater asas. Antes fora Carlos Alberto Caromano que saíra do Departamento de Cultura.
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Mas agora, a saída dos “meninos do Esporte” foi o golpe mais duro. Em uma “tacada” só, Diário Oficial botou para fora da gestão praticamente os principais nomes da pasta, agora esvaziada. O secretário Thiago de Jesus Quirino também foi demitido.
A reação de Edson Ferraz foi quase que instantânea nas redes sociais. Primeiro postou sobre as exonerações, com direito a cópia do Diário Oficial que exonerou toda a cúpula do Esporte de São Carlos. Constou ter sido “a pedido de Netto Donato”. Depois, distribuiu mensagem com indireta; na terceira, uma foto do prefeito com o secretário de Governo, em que o mandatário, de acordo com Edson, estaria assinando documentos, “sem entender o que está assinando”.
Procurado ainda na noite de ontem, afirmou que se pronunciaria na manhã de hoje. Após longa noite em que deve ter remoído os fatos da véspera, decidiu falar à imprensa. O alvo preferencial, como era de se esperar, foi Netto Donato.
“Eu não gosto muito do termo, mas [isso aí] se chama usurpar o poder. É tomar o poder sem ter competência para tal. É um usurpador do poder”, disparou.
Airton e Edson saíram vitoriosos das urnas em 2020 com expressiva votação. Foram 54.573 votos. Três vezes mais do que o segundo colocado, Netto Donato (PSDB), que amealhou 17.882 votos.
De acordo com o vice-prefeito, o antigo rival nas urnas – e agora rival no governo – “foi contra o prefeito, falou mal do prefeito e tinha vergonha de chegar perto” de Airton. “E hoje simplesmente para ocupar um cargo ele inverte toda a situação e o prefeito é o melhor do mundo”, afirma.
Para Edson, a mudança de opinião do secretário de Governo sobre o prefeito foi “para simplesmente poder colocar os apadrinhados dele nos cargos de confiança e tirar dinheiro dos funcionários públicos”.
O vice-prefeito se encontra em uma situação “sui generis”: mesmo com suposta fragilidade do prefeito, quem goza de mais confiança do prefeito é o secretário de Governo, antes rival nas urnas.
“Eu sou um vice-prefeito eleito. Eleito. E mesmo com toda a fragilidade, mesmo com o prefeito doente, eles acabam fazendo algumas situações lá comandadas pelo ‘Seu’ Netto Donato para que eu não possa assumir, porque, de repente, eu vou ganhar uma repercussão política”, relata.
Os atritos entre governo e governo têm ocorrido há tempos, mais precisamente, depois de Edson Ferraz entrar e sair da internação por Covid-19. Para ele, a possibilidade de ser candidato a prefeito nas próximas eleições teria feito com que um movimento para enfraquecê-lo fosse colocado em prática.
Não é a primeira vez que o vice-prefeito tem entrado em atrito com o governo municipal. A guerra, antes fria, tem se tornado quente e em campo aberto. Um discurso que frequentava ambientes da oposição, sobre a “sanidade mental” do prefeito, agora é uma das bandeiras de Edson Ferraz.
“O prefeito é levado na Prefeitura somente para tirar uma foto e para dizer que está bem”, dispara e acrescenta: “mas isso não compete a mim, compete à família dele, aos vereadores que foram eleitos [para este fim], ao Ministério Público, ao juiz eleitoral fazer a leitura de que a cidade está sendo prejudicada com ver qual é a real situação”.
O vice-prefeito aproveitou para virar as baterias contra a Reforma Administrativa e os gastos com locação, dois mantras em que a oposição tem “batido bumbo” nas últimas semanas.
Sobre as últimas exonerações, Edson Ferraz opina que “se o prefeito tivesse a consciência do que ele estava fazendo, para mim não teria problema nenhum”.
“Se você perguntar o que ele assinou, ele não vai saber responder e hoje ele não tem condição para isso. O prefeito está muito debilitado e eles usam essa fragilidade para fazer com que assine papéis que pode ser comprometedor lá na frente”.
NETTO RESPONDE
O secretário de Governo, Netto Donato, concedeu entrevista-resposta sobre as falas do vice-prefeito. Negou as acusações de “usurpação” e afirmou que só está no governo porque mantém a confiança de Airton.
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