ESPECIAL ANIVERSÁRIO
A história de Araraquara se confunde com a centenária Matriz de São Bento. Isso ocorre porque, além de sua relevância cultural e religiosa, a atual Basílica de São Bento guarda parte significativa da trajetória da cidade, que celebra 206 anos nesta terça-feira (22).
Considerada o marco zero da Morada do Sol, já que sua localização atual abrigou a primeira capela do município, a Basílica de São Bento, atualmente em sua quinta versão, foi o local de sepultamento de Pedro José Neto, reconhecido como o desbravador dos campos de Araraquara.
Mesmo que as modificações ao longo dos anos tenham obscurecido a localização exata de seu túmulo – uma vez que a posição do altar foi alterada ao longo do tempo -, um documento datado de 19 de novembro de 1917 e assinado pelo padre Francisco Manoel Malachias confirma esse fato.
“Tudo começou com Pedro José Neto, que ergueu a primeira capela, uma modesta construção de palha. Mais tarde, em 1817, a paróquia foi criada por Dom Matheus Abreu Pereira, bispo de São Paulo, marcando um ponto crucial na evangelização da região, já que muitas localidades careciam de um sacerdote para ministrar os sacramentos”, relembrou o reitor Rodolfo Faria.
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A Basílica também abriga outras histórias, inclusive a de dois sacerdotes: Osvaldo Baldan, que serviu à paróquia por cerca de quatro décadas, e Cônego Desan, ligado à igreja Nossa Senhora das Graças. A cripta da Basílica, construída nas décadas de 1970 e 1980, guarda suas memórias no piso. Entre os araraquarenses ilustres sepultados lá, nos 1.425 lóculos, destaca-se o maestro José Tescari e seus familiares. Em um passado recente, inclusive, houve ampla divulgação sobre a possibilidade de sepultamento na Matriz; porém, as condições devem ser consultadas na secretaria.
A história de Araraquara também está presente nas diferentes esculturas espalhadas pela Basílica, datadas de 1891. São símbolos religiosos herdados da quarta Matriz, como o Sagrado Coração, São José, Santo Antônio, Imaculada Conceição e São Bento – este último já restaurado. Todas as peças centenárias são esculpidas em madeira. A mais recente, de São Miguel, com 2,4 metros, chegou no ano passado da Itália.
Além das esculturas, os bancos da igreja contam uma história singular. Isso porque cada um deles, resultado de uma campanha promovida pelo padre da época, carrega o nome das famílias que contribuíram para sua aquisição, transformando-os em símbolos vivos da cidade.
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Cada um dos tesouros da Basílica é confiado ao sacristão Edvaldo Aparecido Gonçalves, que compartilha as histórias e preserva os elementos centenários há 44 anos. Seus cuidados se estendem aos sinos da igreja, que ecoam desde 1891 e ficam no alto de uma das duas torres.
Uma curiosidade é o obelisco no largo da Matriz, que celebra o centenário do primeiro batizado realizado ali, em 16 de março de 1917. Outra peculiaridade é que durante 45 anos, um rego-d’água percorria o pátio da igreja.
A relevância cultural e religiosa da Matriz para Araraquara é tão significativa que as demais igrejas católicas foram construídas com suas fachadas voltadas para a sua. Além do Santuário de Santo Antônio – visível da marquise da Basílica -, as igrejas de Nossa Senhora do Carmo, São Benedito e São Geraldo também estão “voltadas” para ela.
Recentemente, a Matriz de São Bento foi elevada à condição de Basílica pelo Papa Francisco, conforme anunciado em 14 de fevereiro de 2023. Essa elevação reforça a importância histórica, cultural e religiosa do local, bem como o vínculo especial com a Igreja Romana e o Papa.
Agora, além de seu papel religioso, a Basílica busca se tornar um ponto de referência no turismo religioso, oferecendo visitas e compartilhando suas histórias com os visitantes. Atualmente, é possível realizar visitas de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e aos sábados das 8h às 12h.