27 de abril de 2024
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Educa mais cast

Construir uma sociedade antirracista depende de educação e participação

Educadores de São Carlos tentar colocar em prática um currículo crítico sobre o preconceito racial, de forma a engajar alunos e comunidade na luta ativa contra o racismo

No livro “Mulheres, raça e classe”, publicado pela 1ª vez em 1981, a filósofa norte-americana Angela Davis defendeu um novo posicionamento frente a um problema que parecia não ter solução.  

“Numa sociedade racista não basta não ser racista. É necessário ser antirracista”, afirmou a ativista.  

Hoje, com o racismo ainda entranhado na sociedade brasileira, educadores da rede municipal de São Carlos tentam fazer com que essa perspectiva ganhe força através da Educação. 

Crédito: Freepik
Crédito: Freepik

 

“A escola deve ampliar suas ações para a constituição de projetos que tenham a comunidade escolar e a comunidade como um todo como centro da desconstrução do racismo e a construção de uma sociedade que se pretenda antirracista”, indica o pedagogo José Claudio Salvador, também presidente do Conselho Municipal da Comunidade Negra (CMCN). 

Ele explica que um currículo escolar identificado como antirracista deve contemplar a reflexão sobre o racismo, revendo conceitos sobre violência, preconceito, violação de direitos e a própria construção social, incluindo a revisão da história afro-brasileira e da história africana que promova a valorização da cultura negra – elementos esses previstos pela lei 10.639/03. 

De acordo com norma federal, “torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo escolar da Educação Básica, nas escolas públicas e particulares, a fim valorizar as Diretrizes Curriculares Nacionais para as relações étnico-raciais, por meio do “estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil”, em especial nas áreas de Educação Artística, Literatura e História. 

“Uma educação que se pretende antirracista terá que construir espaços de reflexões sobre o racismo e o preconceito, valorizando a cultura africana e afro-brasileira, tendo como cerne a interdisciplinaridade como prática educativa; a transversalidade como estratégia didática; a interculturalidade como valorização de culturas diversas; e a interseccionalidade para compreender melhor as desigualdades e a sobreposição de opressões e discriminações existentes em nossa sociedade. Devemos, como educadores, ampliar e estender o trabalho educacional a todos os conteúdos tradicionais. Contudo, até hoje, após quase 20 anos da Lei 10.639/03, ainda estamos discutindo como implementar, na prática, no currículo oficial, de forma a valorizar e a praticar ações educacionais que valorizem a cultura negra brasileira, a ancestralidade e o negro na formação na sociedade nacional, acolhendo os alunos dos segmentos negros, brancos e indígenas no combate ao preconceito e ao racismo”, avalia Salvador, que também é membro do Núcleo Municipal de Promoção de Igualdade Racial em São Carlos (NUMPIR).

Além dos muros da escola 

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A partir da compreensão da educação e da Lei 10.639 como instrumentos essenciais para proporcionar conhecimento e análise crítica a respeito do racismo, a professora Gabriela Maria Fornaciari, especialista em Educação Infantil e em Educação de Jovens e Adultos (EJA), aponta que os aprendizados em sala de aula devem ser estendidos e compreendidos também fora da escola, já que o antirracismo é uma causa de todos. 

“Atuar pela promoção da igualdade racial é realizar ações no cotidiano que colaboram para a promoção de uma sociedade, atual e futura, mais igualitária e equitativa. Essas práticas podem parecer simples, mas farão muita diferença se praticadas por todos. Seja no ambiente de trabalho, na escola, entre amigos ou família: não basta não ser racista, é preciso ser antirracista em todos os ambientes e relações”.
Como exemplo de tais práticas, ela cita a leitura e a valorização de autores negros, que trazem experiências a partir de diferentes pontos de vista, permitindo uma análise mais crítica dos conteúdos consumidos. “É um exercício que devemos praticar, tanto pela perspectiva da representatividade como pela reflexão sobre a forma pela qual os negros são retratados”. 

Ao encontro dessa perspectiva, o presidente do CMCN de São Carlos garante que o efeito notável da Educação antirracista é o compromisso em enfrentar ativamente as mazelas que o racismo produz.  

“Não ser racista é um comportamento sem ação, inerte diante de um problema que é de todos. Em nome da construção de uma sociedade antirracista, é fundamental o envolvimento e a participação que vai além do 13 de maio [Dia da Abolição da Escravatura/Dia Nacional de Combate ao Racismo] e do 20 de novembro [Dia da Consciência Negra]. As práticas antirracistas têm que ser contempladas durante o ano todo, inclusive pelo currículo escolar do ano letivo”, defende.

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