27 de abril de 2024
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Tudo Elas

Como aceitar com naturalidade o envelhecimento feminino?

Alvos preferenciais da pressão estética e do etarismo, mulheres lidam com um constante olhar censor para si

Para as mulheres, a idade é uma prerrogativa para o preconceito e o início de várias dificuldades, em diversas áreas da sociedade (Foto: Freepik)

Simone de Beauvoir, grande filósofa e escritora do século XX, já dizia: “Nunca se fala de ‘bela velha’, no máximo se dirá ‘uma encantadora anciã”. Um exemplo recente é o caso de Yasmin Brunet. A modelo, que participa da edição 2024 do Big Brother Brasil, foi alvo de comentários de outros participantes sobre o seu corpo e idade. Ela “não era mais a mesma”, pois estava “velha” e “comendo demais”, disseram.

A especialista em etarismo e diversidade etária Fran Winandy explica que o machismo e o etarismo são os principais responsáveis por esse cenário. Na sociedade, marcada pelo patriarcalismo, o valor da mulher está restrito à aparência e à jovialidade. Quando o tempo passa e esses aspectos não estão mais dentro do padrão estabelecido, mulheres passam a sofrer ainda mais violências e pressões estéticas.

“Essa pressão é alimentada principalmente pela mídia e pela publicidade, que costumam retratar a juventude como ideal de beleza, hiper valorizando a aparência física feminina. Quem mais lucra com isso é a indústria da beleza, que movimenta bilhões em produtos “anti- idade”, procedimentos estéticos, cirurgias plásticas e cia”, explicou Fran em entrevista ao Tudo EP.

Fran Winandy também é autora do Livro “Etarismo, um novo nome para um velho preconceito” (Foto: Arquivo Pessoal)

Envelhecimento feminino ainda é um tabu

No estudo mais recente da Famivita, empresa especializada em saúde feminina, 77% das mulheres apontaram que se sentem pressionadas a não aparentar a idade que têm. Além disso, 68% delas disseram que para os homens inexiste essa cobrança. Ainda acerca do assunto, especialmente as mulheres dos 40 aos 44 anos responderam que sim, há uma exigência maior sobre a aparência feminina, com 84%. Entre as mulheres com 50 anos ou mais, o número também foi expressivo, com 83%.

Segundo a legislação brasileira, uma mulher aos 35 anos como Yasmin Brunet está longe da idade reconhecida para idosos no país. Mesmo se fosse direcionada para uma mulher acima de 65 anos, a carga pejorativa da palavra “velha” também é discriminatória no contexto em que foi utilizada.

A psicóloga e psicanalista Fernanda Soibelman Kilinski concorda com Fran Winandy sobre o envelhecimento ter um valor e um significado negativo para a mulher na nossa cultura. Para os homens, as rugas e os cabelos grisalhos são sinal de experiência e charme. Já no caso das mulheres é como se tivessem baixa autoestima ou pouco cuidado consigo mesmas.

“Na literatura, por exemplo, as mulheres velhas são retratadas como feias, más, invejosas, bruxas; muitas vezes em conflito com as jovens belas e puras. Vemos aí, então, como ensinamos sutilmente as pessoas a alimentarem esses estereótipos”, explicou.

Para Fernanda Kikinski, a juventude ocupa um lugar de destaque nas pressões estéticas impostas às mulheres
(Foto: Aquivo Pessoal)

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Retrato do futuro

Para ambas as especialistas, pensar no futuro é uma chance de ressignificar como se olha para a velhice, especialmente, no caso das mulheres.

O primeiro conselho, segundo Fernanda, é se educar sobre os papéis de gênero. “Precisamos de campanhas educativas em setores diversos de nossa sociedade, começando pelas escolas. A desconstrução de preconceitos é uma tarefa complexa, que deveria começar pelas crianças, que são “bombardeadas” por estereótipos negativos relacionados ao envelhecimento por todos os lados: em casa, na escola, na televisão, etc.”, completou Fran.

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Além disso, elas afirmam que, de forma geral, precisamos de uma maior representatividade feminina em todas as áreas, seja nas empresas, na mídia, na publicidade, na arte, na cultura, na política ou nos negócios. “Temos que nos acostumarmos com mulheres atuando nas mesmas condições que os homens, independentemente de raça, condição física, aparência ou faixa etária. Não se trata de uma competição, trata-se de equidade”.

Como aceitar com naturalidade o envelhecimento feminino?

A psicanalista Fernanda aconselha que, caso o envelhecimento esteja te abalando de forma negativa, converse com outras pessoas que estejam passando pelo processo para trocar experiências. “Além disso, ao falar com outras mulheres, minha dica é que a gente aprenda a admirar as qualidades que estão para além das aparências, e que a gente não deixe de verbalizá-las”, completou.

Fran recomenda a focar nos aspectos positivos que o envelhecimento traz, como a maturidade, o conhecimento e a experiência de vida. “Seja curiosa, aprenda sempre. Aprender não depende apenas de estudar: você pode ler, conversar com outras pessoas, assistir vídeos, filmes e prestar atenção às coisas e pessoas. Cuide também da sua cabeça, alma, corpo. A expectativa de vida aumentou e com o acesso que temos à informação podemos planejar uma velhice melhor”, finalizou.

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