9 de maio de 2024
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Tudo Inovação

Quantas mulheres vêm à sua mente quando você pensa em tecnologia?

Embora sejam maioria entre os concluintes de cursos de graduação em geral, elas representam apenas 12% das vagas do mercado

Mesmo diante das barreiras, mulheres líderes compartilham perspectivas e avanços rumo à equidade de gênero na indústria de tecnologia (Foto: Freepik)

Sem a inteligência e o trabalho de mulheres, a tecnologia e a internet como as conhecemos hoje não existiriam. O primeiro algoritmo da história foi desenvolvido pela matemática Ada Lovelace. Algumas das mais importantes linguagens de programação foram criadas por cientistas mulheres: Irmã Mary Kenneth Keller gerou o BASIC, Grace Hopper é a mãe do COBOL. Já a tecnologia usada nos telefones celulares e nas redes wi-fi tem como base o trabalho da inventora e atriz Hedy Lamarr na época da Segunda Guerra Mundial. 

Com tantas inspirações de peso, seria de se esperar que as mulheres fossem uma presença significativa – não só em qualidade, como também em quantidade – na área de tecnologia em geral, certo? Pois é, mas a realidade é bem diferente.

Segundo dados divulgados pelo CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), houve um aumento da participação feminina de 60% no setor de tecnologia, em um período de 2015 a 2022. O avanço, no entanto, ainda não é estável. Um estudo feito pela empresa de tecnologia Revelo, aponta que apenas 12,7% das vagas do mercado são ocupadas por mulheres, contra 87,7% do público masculino.

Falta de incentivo

O problema começa na escolha da graduação. Por mais que 60% dos formandos do ensino superior no Brasil sejam mulheres, apenas 18% se formam na área de TIC (Computação e Tecnologias da Informação e Comunicação). Na área de Engenharia, Produção e Construção, elas são apenas 32%. Os dados foram extraídos do Censo da Educação Superior 2022, publicado pelo MEC (Ministério da Educação). 

O pior é que o quadro mudou quase nada nos últimos dez anos; em 2012, a distribuição de homens e mulheres era praticamente a mesma, como fica claro na tabela.

Distribuição de homens e mulheres nos cursos de Engenharia, Produção e Construção e TIC
(Foto: Arte/Laura Nardi)

As estatísticas do Censo evidenciam o que qualquer um vai perceber ao entrar numa sala de aula dessas áreas. “Fui uma das poucas a me formar na turma de graduação da época e acredito que eu tenha sido a única que seguiu a carreira. Na pós-graduação também fui a única mulher. Já no MBA, havia apenas 3 mulheres”, contou Rafaela Coura, Gerente Executiva de Tecnologia da Supera Farma, em entrevista ao Tudo EP. O cenário não é muito contrário para Caroline de Souza, estudante de Engenharia da Computação. “Na minha turma, a maioria são homens. São 25 homens e 4 mulheres”.

A única diferença que separa a realidade dessas duas mulheres é o tempo: Rafaela se formou há 20 anos, enquanto Caroline está no seu 5º semestre da faculdade.

Meninos são mais estimulados do que meninas a lidarem com o universo tecnológico

Para alguns estudiosos, a participação feminina no setor começou a cair com a chegada dos computadores pessoais, os PCs. Antes, computador era um equipamento enorme, usado em empresas ou repartições públicas para processar dados e fazer cálculos. 

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Já os PCs entraram para o cotidiano das famílias, ganharam um aspecto mais lúdico (com o advento dos jogos eletrônicos) e mais tecnológico (aproximando-se da engenharia), áreas onde, em geral, os meninos eram mais estimulados

Algumas famílias, claro, fogem desse estereótipo. “A minha irmã mais velha é engenheira da computação, e eu sempre a vi crescer nessa área. Me inspirei muito nela e, assim, decidi seguir na a tecnologia também”, explicou Caroline.

A jovem conta que, apesar de estar em um ambiente majoritariamente masculino, isso nunca foi motivo para que ela deixasse de se destacar. Em fevereiro, com apenas 20 anos de idade, ela foi representar o Brasil na Conferência Mundial da SWE (Society of Women Engineers), a maior sociedade de engenheiras do mundo, onde foi premiada com o terceiro lugar na competição de projetos universitários.

Caroline de Souza, 20 anos, na Conferência Mundial da SWE (Society of Women Engineers) (Foto: Arquivo Pessoal)

“Foi uma experiência que eu me orgulho muito. O projeto se chama “Doe Vida” e é um aplicativo para auxiliar e incentivar a doação de sangue”, disse a estudante. 

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Completando a mesma idade de Caroline em tempo de carreira na área de TI (Tecnologia da Informação), Rafaela comanda sozinha uma equipe de 17 homens na empresa em que trabalha e também já obteve diversas conquistas de peso em sua trajetória. Mas nem sempre foi assim. 

A gerente executiva contou que uma vez perdeu uma oportunidade na última fase de um processo seletivo em outra instituição pelo simples fato de ser mulher. “Me disseram que a equipe de TI era muito masculina para receber uma mulher naquele momento”. Mesmo depois dessa situação, Rafaela não perdeu o ânimo e hoje se sente realizada com seu trabalho. 

“Acho que as mulheres são excelentes em processos, raciocínio lógico, organização de ideias, comunicação e gestão”, expôs Rafaela Coura, 40 anos (Foto: Arquivo Pessoal)

Para as jovens que estão iniciando suas carreiras na tecnologia, o conselho dela é: “Não tenham medo da área de TI e das áreas de tecnologia em geral. Tendo a oportunidade, deem uma chance para comprovar que não há nada por aqui que apenas os meninos saibam ou consigam fazer”.

Tecnologia que transforma vidas

Mesmo sem conhecer Rafaela, a curitibana Gisele Lasserre seguiu o conselho da colega e provou que não há nada que ela não conseguisse fazer. Aos 40 anos, sua área de formação era marketing. Uma grande frustração era ouvir os colaboradores da área de tecnologia não querendo incluí-la na resolução dos problemas do trabalho. “Eles diziam: ‘Não adianta tentarmos te explicar a questão, você não vai entender, porque não é técnica'”

Insatisfeita e buscando o desafio, ela fez um curso de gestão em tecnologia e criou, em 2017, a Tech Girls, empresa voltada para a capacitação de mulheres de baixa renda ou desempregadas. O objetivo é ensiná-las a usar as ferramentas de empreendedorismo digital, criar bijuterias com reciclagem de eletrônicos e também, é claro, a programar.

Gisele explicou que a Tech Girls tem o objetivo de reduzir os danos causados pelo lixo eletrônico e capacitar mulheres em situação de vulnerabilidade social na área de tecnologia (Foto: Arquivo Pessoal)

“As pessoas acham que manutenção de computadores e celulares é coisa de homem, mas, na verdade, é um trabalho muito delicado, manual. Na índia e na China, pólos de produção de tecnologia, 80% desse trabalho é de mulheres”, conta a empreendedora, dizendo que boa parte das alunas vai para essa área após a capacitação, provando que tecnologia não é “coisa de homem”. Hoje, o projeto já impactou a vida de mais de 580 mulheres com escolas próprias em Curitiba (PR), São Paulo (SP), Taubaté (SP) e Florianópolis (SC).

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