Todo corredor, assim como todo treinador, sabe que há uma diferença enorme entre correr nas ruas e correr em uma esteira. Porém, alguns pesquisadores se preocuparam em observar essas diferenças além da percepção subjetiva. Como o foco deste artigo é a biomecânica, vamos abordar alguns desses trabalhos, contando com a consultoria do treinador Ronaldo Dias e do professor Samuel Bento da Silva, doutorando em biomecânica na Unicamp.
Esse interesse aparece em trabalhos mais antigos, como o realizado por pesquisadores como Rendon Nelson, que comparou os aspectos biomecânicos de corredores em uma esteira e no solo. Os resultados mostraram que, na esteira, os avaliados apresentaram uma fase de suporte maior e velocidade vertical menor.
Em 2007, foi publicado um estudo que teve como objetivo comparar os parâmetros cinemáticos (estudo dos movimentos, desprezando as forças que atuam sobre o sistema e causa este movimento) e cinéticos (estudo das forças que causam o movimento do sistema) da corrida em esteira com os da atividade no solo. Em relação aos parâmetros temporais, um grupo de pesquisadores (formado por Patrick O. Riley, Gabriele Paolini, Ugo Della Croce, Kate W. Paylo, Casey Kerrigan) observou que a cadência foi significativamente maior e o tempo e comprimento da passada foi significativamente mais curta ao utilizarem a esteira.
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De acordo com os autores, isso influenciou os resultados dos parâmetros cinéticos, que apresentaram um pico de força de reação maior quando correram em esteiras. Entre os parâmetros cinemáticos, os autores relataram que apenas o pico de flexão e extensão de joelho foi significativamente maior quando os corredores estavam em esteiras.
Estudo de Ali Abassi, em 2020, teve como objetivo comparar a coordenação e sua variabilidade nos membros inferiores durante a corrida na esteira e no solo, correndo em velocidades diferentes. Após análise dos resultados, sugere que a corrida em esteira afeta os padrões de coordenação de segmentos durante as fases de apoio e balanço. Além disso, essas diferenças podem influenciar na biomecânica dos membros inferiores durante a corrida.
Na prática, é possível listar vantagens e desvantagens de cada atividade. Confira a lista disponível no blog Netshoes:
VANTAGENS
CORRER NA ESTEIRA
Ambiente geralmente mais seguro dentro de salas controladas
Temperatura e umidade controlados
Controle mais preciso da velocidade, distância, inclinação e gasto calórico
Sem interferência dos fatores de risco do solo (irregularidades do terreno, obstáculos naturais e artificiais, superfícies escorregadias, buracos)
Facilidade de identificação de erros técnicos
Redução das forças de reação da esteira sobre as estruturas musculoesqueléticas, devido aos mecanismos de amortecimento do equipamento
Possibilidade de utilização do equipamento na reabilitação de lesão
Excelente proposta para quem está começando a treinar corrida
CORRER NA RUA
-O treinamento é uma simulação real de condições naturais de locomoção
-As forças de reação do solo sobre as estruturas musculoesqueléticas são equivalentes a 2 a 3 vezes o peso corporal, promovendo maior exigência física do corredor
-Exigência maior do corredor nas diversas condições do solo (irregularidades do terreno, obstáculos, superfícies escorregadias, buracos), promovendo maior desenvolvimento da propriocepção
-Possibilidade de correr em declive
-Permite variar rapidamente a velocidade
-Permite correr em grupos
-Possibilita grande sensação de bem-estar por ser feita ao ar livre
DESVANTAGENS
CORRER NA ESTEIRA
-A esteira se move debaixo dos seus pés em vez de você promover o deslocamento para frente
-Movimentos de corrida impulsionados por “saltos” com características diferentes da corrida na rua
-Exigência menor dos músculos isquiotibiais (posteriores da coxa)
-Mais monótona, com necessidade de atenção constante
-Ausência de curvas e mudanças de direção, não gerando adaptações positivas no corpo
-Impossibilidade de se correr em declive
-Diminuição da propriocepção provocada pela ausência de irregularidades do terreno
-Correr frequentemente na esteira desprepara parcialmente o corredor no asfalto por ausência de obstáculos naturais e artificiais, além das variações climáticas
CORRER NA RUA
-Maior risco de lesões acidentais (torções do tornozelo)
-Maior risco de lesões por sobrecarga
-Maior risco de desenvolver doenças em virtude à exposição às condições ambientais
-Falta de segurança
