
Roberto Debski, clínico-geral e psicólogo especialista em medicina integrativa, a atividade física é um dos pilares da saúde e da manutenção do bem-estar físico e emocional. "As pessoas estão muito tempo em casa, fechadas, com ansiedade e incertezas por causa da pandemia. É importante que haja uma rotina de atividade física em casa. Sedentarismo não é benéfico para a saúde, independentemente da idade."
Assim tem funcionado para o empresário de marketing Higor Gonçalves, 33, que trocou a corrida matinal nos parques pelo ioga -prática que tinha em em mente antes mesmo da quarentena. "Tinha vontade de aprender ioga, mas em virtude da correria maluca do dia a dia, nunca consegui. Como a corrida, a ioga para mim é uma boa forma para esvaziar a mente. Só uni o útil ao agradável e tem sido maravilhoso. Se não fosse isso, eu já teria surtado [risos]."
Para se adaptar ao novo hábito, Gonçalves afirma que faz diariamente ioga, até mesmo de fim de semana. "Se eu não sigo a risca eu sou aquela pessoa extrema mesmo. Tenho que ser bem metódico porque se não, não funciona. E com a ioga não foi diferente", diz o empresário, que já pensa em como manter a prática após a quarentena. "Não sei ainda como vai ser [risos], mas eu não quero parar."
Professora de ioga há dez anos, Priscilla Leite afirma que ganhou 100 mil inscritos, em apenas 20 dias, em seu canal no YouTube, o Pri Leite Yoga. "Foi surpreendente. Há muitas pessoas que estão começando agora. Tanto que a aula mais popular do canal é para iniciantes."
Morando em Los Angeles (EUA), Leite afirma que começou o projeto de videoaulas há cinco anos para "dividir com as pessoas o que ama fazer e oferecer aulas de qualidade e gratuitas." "Percebi que não existiam muitas aulas online em português, apenas em inglês, e resolvi disponibilizar no YouTube. (...) Estamos vivendo tempos incertos e, sem dúvidas, difíceis para muitos de nós. A prática de ioga ajuda a cuidar do corpo e da mente", diz a professora, que participou até de live da ex-BBB 18 Gleice Damasceno.
Espectadora do canal Pri Leite Yog, a historiadora Thaís Carneiro, 29, diz que havia abandonado a prática de ioga e a dança por falta de tempo, mas , agora, resolveu retomar as atividades. "Com a quarentena e a ideia de ter saúde mental e uma rotina, incluí ioga todos os dias pela manhã."
Ela afirma que a ioga tem sido fundamental para conhecer melhor seu corpo e manter o equilíbro nas atuais circunstâncias de isolamento social. "Pensar no presente gera uma estabilidade, e com essas aulas da Pri eu percebi que em 15 minutos eu consigo fazer isso, por exemplo."
Além da ioga, Carneiro osta de praticar dança e tem assistido às lives de Isa Zendron, que "são divertidas". E'la escolhe uma música por semana, seja pop, funk ou brega funk. Quando a aula começa, ela já criou todo um clima na casa dela com luzes coloridas, roupas super anos 1980. Aproveito para fazer e relaxar."
Acostumado a participar de corridas de ruas, o pianista aposentado José Eduardo Martins, 81, teve que trocar o asfalto pelo quintal de casa. "Por conselho da minha médica, faço o treinamento aqui em casa. Corro durante uma hora, duas vezes por semana, no meu quintal. Dou 190 voltas [risos]."
Casado há 57 anos, Martins conta que sua esposa, Regina, 79, também tem tido aulas de ginástica online, com a personal que antes ia presencialmente na residência do casal. "Ela não gosta de correr como eu, mas não parou de fazer sua ginástica."
O casal faz parte do grupo de risco da Covid-19 que inclui, além dos idosos, pessoas com diabetes, pneumopatia, doença neurológica, insuficiência cardíaca, renal ou doença respiratória crônica. "Temos que passar por isso, mas sem nenhum trauma. Temos que agradecer a Deus que somos privilegiados que podemos ficar em casa. As nossas filhas nos ajudam, vão ao mercado e cuidam da gente de longe", diz Martins.
A cabeleileira Aldina Perez, 62, também precisou parar suas caminhadas na rua. "Agora que não posso sair de casa faço meia hora de esteira. É um momento que me sinto bem. Se eu não me exercitar piora tudo". Ela afirma que mantém o acompanhamento que faz, há cerca de dois anos com a personal trainer e especialista em nutrição Raqueli Dallacqua, mas, agora, por vídeochamada.
Perez também tem procurado se ocupar, além de suas atividades físicas, para não sofrer com a doença. Sobrevivente de dois cânceres -tireóide e de mama, o primeiro foi há oito anos e o segundo ano passado-, ela faz procura ler, cozinhar e assistir filmes para passar o tempo.
"Antes da pandemia eu saía para a rua, mas agora faz mais de um mês que eu estou presa (risos). A gente tem que procurar sempre algo para fazer. O negócio é que não pode parar, o corpo e a mente, mesmo nesse momento", diz a cabelereira.
CUIDADOS FÍSICO E MENTAL
Com a maior procura por atividades online, as famosas lives (transmissões ao vivo) das redes sociais ganharam espaço e, com elas, o receio de que haja um aumento do número de lesões, como aponta a Personal trainer e especialista em nutrição Raqueli Dallacqua.
"Minha maior preocupação é com relação às lesões. É importante o acompanhamento com um profissional. Essas lives de treino estão na moda, mas à vezes um treino que serve para uma pessoa não serve pra outra. Ela vai fazer aquilo e acaba se machucando", diz a personal ao reiterar os cuidados para a terceira idade.
"Para um melhor resultado e mais segurança, principalmente para essa faixa etária, é importante uma avaliação e um acompanhamento." Ela afirma que, antes de começar um acompanhamento, procura entender o ambiente do aluno para poder criar o melhor planejamento. "Sempre pergunto para a pessoa sobre o espaço que ela tem e o que possui em casa. Se tiver crianças, por exemplo, um brinquedo ou uma bola podem servir para a atividade."
Dallacqua diz ainda que a falta de espaço não é motivo para não se exercitar. "Problema não é o espaço. Dá para fazer exercícios e um treino inteiro utilizando apenas cadeira. Em um pequeno espaço dá pra fazer bastante coisa."
"Acredito que mesmo depois que passar a quarentena, muitas pessoas vão ser adeptas do treinamento domiciliar. Elas percebem que dá pra fazer e que o resultado se iguala aos demais. O importante mesmo é fazer com acompanhamento", afirma a personal trainer.
Na visão do médico e psicólogo Roberto Debski, as redes sociais não são maléficas, principalmente para a saúde mental. "Como qualquer coisa, a rede social é apenas uma ferramenta. Se você usar para o mal, se colocar para baixo, ou ficar olhar toda hora olhando se tem alguma novidade, acaba se tornando um comportamento e uma compulsão que não é saudável. É a pessoa que precisa olhar para ela mesma, e o que leva ela fazer isso."
Debski também afirma a importância de não cair no conto do excesso de cobrança e produtividade, já que muitos conteúdos, cursos, aluas, estão sendo dispobilizados na web. "Não se deve exagerar, ainda mais nesse momento. É preciso manter o equilíbrio. Precisamos aprender que não é algo que precisa ser rígido. Usar todas as coisas com propósito positivo. Nada é bom em excesso, nem água."
Muitas vezes deixada de lado, a saúde mental em momentos de pandemia pode ser um fator crucial no bem-estar durante a quarentena. Em termos mais técnicos, Debski explica que a atividade física libera uma série de substâncias que podem contribuir com o bem-estar mental, como por exemplo, a endorfina. "Traz a sensação de relaxamento e também ajuda na memória e no organismo."
"Eu digo que estamos aprendendo com essa doença mundial, a mudar uma série de valores, quebrar paradigmas. Todo mundo reclamava de tempo, e agora reclama que tem muito tempo. As pessoas vão se reposicionar, e como todas as outras doenças, isso faz com que a gente aprenda algo. E vamos sair dela mais fortalecidos, mais resilientes", completa o psicólogo.
Quer ler e ver vídeos sobre exercícios para fazer em casa? Clique aqui
Quer ler sobre exercícios para fazer em casa? Clique aqui